Começa a operar amanhã o vertedouro projetado para drenar a água da Barragem do Doutor, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, e acelerar o processo de descaracterização da estrutura com maior segurança. Com isso, fica mais perto o dia em que 173 famílias retiradas preventivamente pela mineradora Vale, em 13 de agosto de 2020, poderão retornar às suas casas, na chamada zona de autossalvamento do reservatório de rejeitos de minério de ferro. A estrutura atingiu o nível 2 de emergência do Plano de Segurança de Barragens em agosto de 2020, e por isso ocorreram remoções para hotéis e casas alugadas. Já em 18 de maio deste ano, houve progressão para o nível 1 (veja quadro), que permitiria o retorno das pessoas, mas por precaução a mineradora prefere esperar que a estrutura esteja totalmente descaracterizada.
O novo vertedouro da Barragem do Doutor, na Mina de Timbopeba, em Ouro Preto, é considerado pela mineradora uma importante etapa do processo de descaracterização da estrutura e terá a função de drenar a água do reservatório, aumentando a segurança para as próximas fases das obras para eliminar o barramento, construído pelo método a montante.
“A construção do vertedouro começou em agosto de 2020 e foi uma etapa preliminar ao processo para eliminar a função da estrutura de reter rejeito e água. Ele ajudará a manter o volume da barragem reduzido, canalizando a água do reservatório, sobretudo no período chuvoso. Paralelamente, a Vale segue realizando atividades complementares de drenagem e revegetação na área do vertedouro até o fim de 2021”, informou a empresa.
Na sequência, está previsto o início de ações como a montagem do canteiro de obras para a próxima etapa do processo de descaracterização da barragem. Essa nova fase deve começar em 2022 e consiste na construção de reforços para o maciço e um dique auxiliar, com o objetivo de aumentar a segurança.
“A eliminação de barragens construídas a montante (sobre rejeitos ou sedimentos) é um compromisso assumido pela Vale desde o rompimento da Barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. O rompimento provocou uma mudança na gestão de barragens da companhia, para garantir mais segurança para suas estruturas e comunidades próximas”, informou a mineradora.
Rotina alterada na comunidade
Quem ainda vive abaixo da Barragem do Doutor, no distrito ouro-pretano de Antônio Pereira, se preocupa com a segurança da estrutura, embora o nível atual indique não haver risco. Quem já saiu, há 398 dias longe de casa, teme pelos imóveis deixados para trás, na mira de ladrões.
O esvaziamento da comunidade também mudou a rotina, bem como o movimento das obras de descaracterização da represa. A servidora pública estadual Maria Helena Rocha, que integra a comissão local de atingidos, afirma que um terço da comunidade se foi e por isso a vida ficou mais difícil. “A padaria e o mercado estão ficando sem clientes e por isso vão nos deixar. Vários comerciantes fecharam as portas. Esse tanto de casas abandonadas e com placas de interdição são um convite aos ladrões”, afirma.
“Buscamos a participação da comunidade em todos os processos, da construção do Plano de Compensação, que contempla ações para o desenvolvimento socioeconômico de Antônio Pereira, ao acompanhamento das obras na barragem”, afirma Lucas Soares, gerente de Reparação de Territórios da Vale.
Uma das medidas adotadas pela empresa diante do grande movimento de máquinas é a atenção contínua, com o objetivo de eliminar quando possível ou reduzir ao máximo os impactos das obras. A Barragem do Doutor também é monitorada permanentemente pelo Centro de Monitoramento Geotécnico da empresa e passa por inspeções regulares, segundo a Vale.
Desde 2019, a mineradora informa ter eliminado seis estruturas construídas a montante, consideradas mais vulneráveis. A última, em julho, foi a Barragem de Fernandinho, em Nova Lima, na Grande BH. No total, 30 estruturas, incluindo diques, barragens ou empilhamentos, deixarão de existir ou perderão suas características de alteamento a montante no país. “Todo o processo é acompanhado pelos órgãos reguladores e por auditoria técnica do Ministério Público”, afirma a empresa.
Em monitoramento
Barramentos em Minas Gerais apresentam níveis diferentes de estabilidade
» Nível 3 (Risco iminente de ruptura. Evacuação das zonas de autossalvamento)
» As barragens mineiras B3/B4 (Nova Lima), Forquilha (Ouro Preto) e Sul Superior (Barão de Cocais) são as únicas do país com esse índice, todas da Vale
» Nível 2 (Barragem precisa de reparos que ainda não foram feitos. Evacuação das zonas de autossalvamento)
» 8 barragens com indicação de evacuação por necessidade de obras urgentes em Minas, sendo seis da Vale
» Nível 1 (O reservatório precisa de reparos. A operação deve ser interrompida)
» 29 barragens em Minas, sendo 22 da Vale
Fonte: Cedec-MG