A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) obrigou duas escolas particulares e uma pública municipal em Belo Horizonte a suspenderem temporariamente as aulas devido a relatos de surtos do vírus desde a retomada das atividades presenciais, em abril. Contudo, tem sido rotineiro o aparecimento de casos de COVID-19 que levam à interrupção das atividades presenciais de turmas e bolhas (frações de turmas) específicas. Não há números oficiais, mas, só na rede particular, denúncias apontam que em pelo menos 34 instituições turmas e bolhas tiveram que regredir às aulas a distância depois da detecção de casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo vírus. A informação foi repassada com exclusividade ao
Estado de Minas
pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas) e pós-apurada pela reportagem. Nas escolas municipais de BH, há relatos de 130 alunos ou profissionais que testaram positivo, segundo o sindicato dos trabalhadores da categoria (SindRede).
Só na semana passada, segundo informações recebidas pela reportagem, teriam sido três instituições a suspender bolhas e turmas presenciais devido a casos e suspeitas de COVID-19, entre alunos e professores, todas na Região Centro-Sul. O total seria de sete turmas ou bolhas, dos ensinos infantil ao fundamental. Pelas denúncias recebidas, a regional de Belo Horizonte que mais teve instituições com casos de COVID-19, obrigando ao encerramento das aulas presenciais, foi a Centro-Sul (veja a tabela), com 12 escolas, seguida das regionais Pampulha e Oeste, com seis instituições tendo de tomar esse tipo de medida preventiva cada uma. Nenhuma escola ou colégio da Regional Venda Nova apresentou denúncia de regresso às teleaulas devido à doença até o momento.
De acordo com a presidente do Sinpro Minas, Valéria Morato, não se tem um controle exato das quantidades de turmas e de bolhas afastadas do estudo presencial por falta de informações. “Oficialmente, só se divulga quando uma instituição tem surto e paralisa todo o seu funcionamento. Mas quanto às turmas e bolhas, várias escolas já suspenderam o ensino presencial, mas não informam, apesar de isso ser uma exigência sanitária”, afirma a presidente do sindicato dos professores particulares.
Responsável por receber e processar as denúncias, a diretora do Sinpro-MG, Telma Santos, relata uma rotina de descumprimentos das diretrizes e dificuldades para fiscalizar. Ela acredita que haja outros colégios com suspensão de atividades presenciais, mas que não fizeram uma denúncia. “Os casos não são informados oficialmente pelas escolas. Na verdade, um dos pontos de denúncias é justamente o fato de as escolas omitirem os casos, pressionarem os trabalhadores para omitir e assim não terem de suspender as aulas”, afirma.
Outro ponto que preocupa são as denúncias de descumprimento aos protocolos sanitários definidos pelas autoridades sa- nitárias. “Uma das denúncias recebidas traz o relato de uma grande escola cuja direção assumiu uma interpretação da orientação de distanciamento que favorece mais alunos nas salas. E àqueles (funcionários) que não estivessem contentes (com isso), o desligamento seria facilitado”, relata. Segundo a diretora, mesmo tendo o Ministério Público do Trabalho emitido uma recomendação para que as escolas deem livre acesso ao sindicato para colaborar com a verificação dos ambientes e protocolos, várias instituições se negam a acatar a orientação.
Outro lado
O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) informa não dispor de estatísticas de turmas afastadas do ensino presencial, que seriam casos pontuais. “As escolas estão sendo orientadas para atender com rigidez aos protocolos e informar, através de formulário próprio, os casos suspeitos e também positivados à Vigilância Sanitária e à Secretaria de Saúde”, informa a entidade.
Segundo a presidente da entidade que representa as escolas particulares, Zuleica Reis, a responsabilidade de acompanhar, informar e registar casos é de cada escola junto aos órgãos competentes da área de saúde. “Não trabalhamos com especulações de dados. O momento é de união junto às famílias, estudantes, professores, funcionários e órgãos da saúde que estão monitorando as escolas.” A presidente, por outro lado, demonstrou interesse em receber também as denúncias. “Queremos ter acesso a informações sobre esses relatos, bem como esses surtos abafados pelas escolas. É importante que se deem os nomes, para que possamos orientar. Não podemos trabalhar com especulações. Se descumprimentos reais estiverem ocorrendo, não podemos fechar os olhos”, salientou.
SindRede contabiliza 130 contaminações de alunos
As secretarias municipais de Saúde (SMSA) e de Educação (SMED) de Belo Horizonte informam que nenhum surto de COVID-19 foi detectado na rede pública municipal e precisou suspender completamente as atividades presenciais na capital mineira. Entretanto, nenhuma das pastas divulgou dados sobre turmas e bolhas que tenham regredido às aulas exclusivamente remotas devido a casos positivos de COVID-19 entre alunos ou profissionais. Por outro lado, também por meio de denúncias de filiados, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de BH (SindRede) informou ter tido notícias de ao menos 130 casos de alunos positivos para o novo coronavírus e que muitos deles resultaram em suspensão de turmas e de bolhas presenciais, mas não em interrupção das aulas das instituições.
“Não são muitas as que suspenderam bolhas ou o funcionamento, mas essas informações não são divulgadas. Nossa maior preocupação continua sendo com a questão da contaminação. Vale dizer que atualmente o número de crianças presentes nas escolas ainda é baixo. Mas tem aumentado nas últimas semanas e tende a crescer ainda mais”, avalia a diretora do SindRede, Vanessa Portugal.
Segundo ela, outras preocupações se fazem urgentes com o retorno dos alunos. “O quadro de professores que temos não tem condição de executar o trabalho presencial e o remoto. Não é o mesmo tipo de trabalho. A prefeitura precisa garantir a segurança sanitária. Esse um metro de distanciamento de cabeça a cabeça, em algumas salas de aula, não tem sido efetivo, com crianças ocupando a mesma mesa, separadas por barreiras de acrílico. É preciso também que haja equipamentos para os professores e para as crianças que precisam estudar pelo método remoto”, afirma a diretora do sindicato.
A SMSA informa que mantém o monitoramento constante dos indicadores da doença no município e que o retorno das aulas está sendo feito de forma gradual e segura, com base em evidências científicas. “O protocolo foi elaborado visando à segurança dos funcionários e alunos das instituições que estiverem em atividades presenciais. A orientação para casos suspeitos de COVID-19 é o afastamento e encaminhamento da pessoa para a unidade de saúde, além do isolamento e busca de contactantes”, afirma a secretaria.
As secretarias informam ainda que houve suspensão das aulas "no Colégio Santo Agostinho, em maio, e no Colégio Loyola, em junho. Na rede pública de ensino não houve nenhum surto, até o momento. No entanto, por precaução, houve suspensão das atividades na Escola Municipal Magalhães Drumond, por causa de sete casos suspeitos, dos quais seis testaram negativo, não caracterizando surto".
De acordo com os protocolos da SMSA e da SMED, as aulas só são paralisadas se houver surtos, caso contrário são mantidas as medidas de prevenção ao contágio. “As secretarias municipais de Saúde e de Educação monitoram rigorosamente a situação das unidades, e os profissionais que apresentam sintomas estão sendo encaminhados para testagem e afastados por 10 dias. Já para os que tiveram contato com pessoas suspeitas e ainda não apresentam sintomas é orientado o afastamento por 14 dias”.
Balanço da doença
De acordo com o Boletim Epidemiológico e Assistencial divulgado ontem pela Prefeitura de Belo Horizonte, a velocidade de transmissão da doença está em 0,96 na cidade, dentro da faixa de controle, abaixo de 1. Também estão na zona de controle as taxas de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) para COVID-19, de 45,3, e de enfermaria para pacientes com a doença, de 29,6%. Ainda segundo o boletim, o total de casos na cidade chegou a 278.275, dos quais 6.621 resultaram em mortes. Em Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), os casos somam 2.103.798, com 53.845 mortes.
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