Para a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Cristina Alvim, a decisão do Ministério da Saúde de suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades é, "no mínimo, equivocada".
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OMS
Como justificativa para revogar a proteção ampla do grupo, o governo federal afirma que a "Organização Mundial de Saúde não recomenda a imunização de criança e adolescente, com ou sem comorbidades".
A afirmação é parcialmente verdadeira. No fim de agosto, a diretora-geral assistente para Medicamentos e Vacinação da agência, Mariângela Simão, de fato, pediu cautela na imunização deste público, alegando que a relação de benefício ainda não está comprovada. Na mesma ocasião, porém, a dirigente reforçou que adolescentes com doenças associadas precisam ser vacinados contra o coronavírus, uma vez que são mais vulneráveis à forma grave da COVID-19.
Cristina acrescenta que os alertas da OMS também precisam ser considerados no contexto da escassez de vacinas enfrentada por muitos países ao longo da pandemia.
“Desde o início do ano, a OMS chama atenção para o descompasso da vacinação no mundo. Países ricos começaram a proteger crianças e adolescentes já em março, enquanto os menos desenvolvidos mal conseguiam iniciar suas campanhas. O órgão, então, passou a alertar que a vacinação de jovens de 12 a 17 anos era menos urgente, sugerindo uma cooperação entre os governos para um avanço global no combate à pandemia”, afirma a pediatra.
“Mas isso não se aplica ao Brasil neste momento. Nas cidades onde os adultos já foram todos protegidos com ao menos uma dose, o mais sensato é avançar para a imunização de adolescentes, tal como foi feito nos EUA, no Canadá, em Israel, na França, no Chile e muitos outros lugares”, complementou.
Segundo a pediatra, as vacinas aprovadas pela Anvisa são comprovadamente seguras para os adolescentes e protegê-los contribui para o sucesso da campanha como um todo.
Pessoas vacinadas, afinal, têm até 49% menos probabilidade de transmitir o vírus nos ambientes que frequentam. Por outro lado, pondera a médica, adolescentes não imunizados podem se tornar nicho de novas variantes, inclusive mais adaptadas e nocivas a eles.
Negligência
Outro ponto defendido pela médica é que a saúde dos jovens de 12 a 17 anos, apesar de pouco debatida durante a pandemia, foi significativamente impactada pela doença e não deve ser negligenciada.
Cristina diz que a situação foi constatata em um estudo desenvolvido por pesquisadores da UFMG, cuja conclusão é de que o número de óbitos pelo Sars-Cov-2 em crianças e adolescentes no Brasil foi sete vezes maior do que no Reino Unido em decorrência de situações de vulnerabilidade socioeconômica.
Cristina diz que a situação foi constatata em um estudo desenvolvido por pesquisadores da UFMG, cuja conclusão é de que o número de óbitos pelo Sars-Cov-2 em crianças e adolescentes no Brasil foi sete vezes maior do que no Reino Unido em decorrência de situações de vulnerabilidade socioeconômica.
“Temos também dados da Sociedade Brasileira de Pediatria: 2 mil adolescentes morreram de COVID-19 desde o início da pandemia. Esse número supera a soma de mortos por todas as doenças imunopreveníveis na infância no país. O peso da COVID sobre esses jovens, portanto, é significativo e merece atenção. A saúde do adolescente, mais uma vez, está sendo negligenciada”, conclui a pequisadora.