O calor extremo que Belo Horizonte vem experimentando desde o início de setembro parece decidido a não dar trégua. Neste fim de semana, a umidade relativa do ar na capital chegou a um nível tão crítico que foi comparado por especialistas a desertos – neste domingo (19/9), esse índice está entre 9% e 12% , segundo o meteorologista Ruibran dos Reis.
A situação é consequência de uma massa de ar quente e seco que atua em Minas Gerais nos últimos dias. Focos de incêndio registrados em grande parte do estado, que experimenta a maior temporada de queimadas em dez anos, ajudam a piorar a situação.
A capital e cidades da região acordaram neste domingo cobertas por uma camada espessa de fumaça e poluição. Um desconforto que virou o assunto do momento em BH, até mesmo tirando um pouco o foco das turbulências da pandemia. Nas ruas, por onde se olha, tem gente tentando um refresco do sol escaldante.
Natural de Belo Horizonte, Celso lembra de ocasiões em que vivenciou o calorão na cidade. Mas, como agora, ele garante que nunca viu antes. Para ele, a principal causa do problema são as queimadas e o acúmulo de poluição. "Muito o que vem do aumento da população em si. Cada vez mais o homem retira a terra para colocar asfalto."
O funcionário público Luiz Fernando de Carvalho, de 50 anos, é paulista e filho de mineiros e vem a Belo Horizonte desde os 15. Ele conta que adora a cidade, que considera "o paraíso das artes e da gastronomia", em suas palavras. Quando vem à capital, tem sempre a companhia da esposa, a professora de balé Marisol Carvalho, de 60 anos. A frequência de três vezes ao ano na viagem para cá mudou com a pandemia. Estiveram em BH pela última vez em setembro de 2019, para um festival de dança em Nova Lima, e só retornaram agora. Neste domingo, também foram à Feira Hippie.
"Já estive em BH em dias de muito calor. Desta vez, o que piorou, além da secura, é esta fuligem no ar. E, sinceramente, é muito difícil caminhar com a máscara e respirar bem com esse sol. Ao mesmo tempo, evita inalar essa fuligem. O que podemos fazer é hidratar e tentar não ficar tão exposto ao sol", pontua.
A massoterapeuta Luiza Patrício de Alencar, de 59 anos, enfrenta o calor bebendo muita água durante o dia, e na rua a sombrinha é a companheira fiel. Passando pelo Bairro Renascença, na Região Nordeste de BH, ela conta que o sol não está nem mais fraco, nem mais forte. "Na verdade, é a camada de proteção na atmosfera que diminuiu. Com as queimadas, com a poluição lançada no ar. Uma consequência da atitude do ser humano de sempre deixar para depois. Tudo o que está acontecendo é agora", observa.
Luiza lembra que o desmatamento da Amazônia, por exemplo, é um assunto com o qual ela se depara desde a infância e ver a natureza pedindo socorro é um motivo de tristeza. "Os animais estão morrendo, o planeta está em uma UTI, agonizando. Não aguenta tanto descarte, tanto lixo. Tudo pela ganância, pelo dinheiro. Belo Horizonte costumava ter um verão agradável, mas as estações do ano também mudaram. O calor está esturricante", diz.
Umidade em estado de atenção
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 20% e 30% de umidade relativa do ar é estado de atenção; abaixo de 20% é estado de alerta. O nível ideal de umidade do ar para o organismo humano gira entre 40% e 70%. A título de comparação, cidades no deserto africano do Saara comumente registram umidade entre 14% e 20% e, em São Pedro do Atacama, no Chile, isso também é recorrente - na região, nesta sexta-feira (17/9), o índice foi de 8%.
Geralmente, idosos e crianças são as pessoas que mais sentem os efeitos negativos da secura do clima, sendo os principais reflexos na saúde o agravamento de doenças respiratórias, para a população em geral. Para evitar complicações com o tempo seco, a Defesa Civil recomenda: hidratação durante o dia; dar preferência a alimentos leves e frescos, como saladas, frutas, carnes grelhadas; evitar frituras; dormir em local arejado e umedecido por aparelhos umidificadores, ou colocar uma bacia com água no cômodo; evitar atividades físicas ao ar livre e exposição ao sol entre 10h e 17h; evitar banhos com água quente, para não potencializar o ressecamento da pele (se necessário, usar hidratante); e procurar um especialista no caso de problemas respiratórios mais graves.