A umidade relativa do ar em Belo Horizonte voltou a níveis equiparáveis ao clima de deserto neste domingo (19/9), com índice de 17%, além de temperatura de 35,6ºC . O tempo preocupa recuperados da COVID-19 e pessoas com doenças pulmonares.
Portanto, o Estado de Minas ouviu três especialistas para entender quais são os principais cuidados que as pessoas devem ter neste período: Silvio Musman, médico pneumologista da clínica Pulmonar e do Hospital Julia Kubitschek; Rodrigo Farnetano, médico infectologista e coordenador da clínica de infectologia Rede Mater Dei; e Guilherme Rache Gaspar, professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG.
Ontem, BH teve 13% de umidade relativa do ar. A previsão é que chegue a 9% nos próximos dias. Quais são os principais problemas causados pelo tempo seco?
Silvio Musman:
Nariz e garganta constituem nossa primeira linha de defesa contra a entrada de partículas estranhas, poluentes, vírus e bactérias. Nossas vias aéreas possuem uma fina camada de muco que serve como um bloqueio retendo esses invasores. Quando a umidade relativa do ar está muito baixa, compromete a função de defesa das vias aéreas. Além disso pode haver uma desidratação das vias aéreas.
Quais são os principais cuidados que devem ser tomados nestes dias?
Silvio Musman:
Nos dias muito secos devemos evitar atividades físicas que aumentam muito a frequência respiratória, agravando essa situação. Devemos tentar aumentar a inalação de ar úmido com umidificadores, nebulizadores ou até mesmo bacias com água.
Rodrigo Farnetano:
O principal cuidado é hidratar as nossas vias respiratórias. A gente pode fazer por três frentes: 1) tomando bastante líquido e se mantendo muito bem hidratado; 2) fazer nebulizações com soro fisiológico – principalmente para aqueles que têm algum problema respiratório; 3) tentar aumentar a umidade dentro do nosso domicílio, do local de trabalho, onde passamos mais horas do dia. Podemos fazer isso colocando uma bacia com água.
Guilherme Rache Gaspar: Tornar o ambiente mais úmido é interessante. Deixar o ambiente arejado, janelas abertas. A bacia de água pode ser um problema grande considerando as crianças por causa do risco de acidentes. Talvez, melhor um pano umedecido. O soro fisiológico nas narinas faz muito bem. Vai ajudar hidratar e melhorar a sensação de ardor com o tempo. Outra coisa é evitar atividades muito estimulantes, como a prática esportiva, entre 10h e 16h. Além disso, hidratação frequente, tomar líquido sempre, mais que o habitual.
A situação é ainda pior para recuperados da COVID?
Silvio Musman:
Para as pessoas que tiveram COVID recente, e que tiveram uma síndrome respiratória aguda de moderada a grave, essa situação pode ser mais preocupante, porque os pulmões e as vias aéreas ainda estão em processo de recuperação e regeneração.
Rodrigo Farnetano:
Não apenas para COVID, mas para qualquer infecção respiratória. Se o tempo está seco, as vias respiratórias estão mais irritadas. Por isso, precisamos tomar as medidas: tomar bastante líquido, vamos fazer hidratação com nebulização e tentar aumentar a umidade dos recintos que permanecemos mais tempo.
Guilherme Rache Gaspar: Cuidar bem das vias aéreas é muito interessante nesse momento. O vírus ataca as mucosas. O cansaço é causado por isso. Essa mucosa, que está sofrida, fica ainda mais sofrida se ficar desidratada e com essas partículas poluentes. Esses cuidados (hidratação, janelas abertas, uso de bacia d’água etc.) são oportunos para quem está recém-diagnosticado ou se recupera doença.
Quais sintomas precisam de atenção e quando procurar um médico?
Silvio Musman:
A umidade relativa do ar muito baixa pode desencadear quadros de bronquite, sinusite e até mesmo crises agudas de asma. Tosse persistente, seja seca ou produtiva, chiado no peito, canseira e falta de ar devem ser vistos como sinais de alerta, em especial nas crianças e idosos.
Guilherme Rache Gaspar: O cansaço sentido de maneira diferente deve ser razão para procura do atendimento médico. Até porque o sintoma pode estar somado a alguma outra doença. Nós nos conhecemos, sabemos como respondemos a essa situação. Se o cansaço está diferente, ou mais algo aparecer, como febre e tosse, são sintomas que demandam o atendimento médico de urgência.
Qual o papel das autoridades nessa questão?
Guilherme Rache Gaspar: É muito sabido o quanto uma boa política ambiental impacta em populações inteiras. É uma coisa importante de se pensar num contexto amplo, como o uso de automóveis de maneira exacerbada e incentivar mais a caminhada. São ações importantes para o bem-estar coletivo. Cidades com políticas ambientais melhores têm crianças com menos problemas respiratórios. É uma demanda que a população civil deve fazer nesse momento.