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Estado de Minas TEMPO SECO

Tempo de deserto em BH é pior para recuperados da COVID-19

O índice de umidade relativa do ar chegou a 17% neste domingo (19). Ontem, BH marcou 13% e a previsão é de altas temperaturas e baixa umidade nos próximos dias


19/09/2021 18:35 - atualizado 19/09/2021 21:46

Vista do Bairro Belvedere, na Região Centro Sul de BH
Vista do Bairro Belvedere, na Região Centro Sul de BH (foto: Carlos Altman/EM/DA Pres)
A umidade relativa do ar em Belo Horizonte voltou a níveis equiparáveis ao  clima de deserto neste domingo (19/9), com índice de 17%, além de temperatura de 35,6ºC .  O tempo preocupa recuperados da COVID-19 e pessoas com doenças pulmonares.

 

Portanto, o Estado de Minas ouviu três especialistas para entender quais são os principais cuidados que as pessoas devem ter neste período: Silvio Musman, médico pneumologista da clínica Pulmonar e do Hospital Julia Kubitschek; Rodrigo Farnetano, médico infectologista e coordenador da clínica de infectologia Rede Mater Dei; e Guilherme Rache Gaspar, professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG.

 

Ontem, BH teve 13% de umidade relativa do ar. A previsão é que chegue a 9% nos próximos dias. Quais são os principais problemas causados pelo tempo seco?

Silvio Musman: Nariz e garganta constituem nossa primeira linha de defesa contra a entrada de partículas estranhas, poluentes, vírus e bactérias. Nossas vias aéreas possuem uma fina camada de muco que serve como um bloqueio retendo esses invasores. Quando a umidade relativa do ar está muito baixa, compromete a função de defesa das vias aéreas. Além disso pode haver uma desidratação das vias aéreas.

Rodrigo Farnetano: Os principais problemas causados pelo tempo seco, não só pela baixa umidade do ar, mas pela aspersão de partículas, é a irritação das vias respiratórias. E isso vale para qualquer indivíduo. Todos nós sentimos alguma hora com a garganta seca quando estamos nessa situação atmosférica. Mas, o maior problema é para as pessoas que têm problemas respiratórios.
 
Guilherme Rache Gaspar: Nossos alvéolos necessitam de umidificação mínima. Nosso nariz faz esse papel de umidificar o ar. Com esse ar tão seco, isso pode ser prejudicado. Esse cansaço e essa irritação das mucosas, o nariz, os olhos. Imagine crianças, por exemplo, que não conseguem respirar pelo nariz, só pela boca. Não é uma condição muito incomum na infância. A boca, diferente do nariz, não tem esse aparato para umidificar o ar.
 

Quais são os principais cuidados que devem ser tomados nestes dias?

Silvio Musman: Nos dias muito secos devemos evitar atividades físicas que aumentam muito a frequência respiratória, agravando essa situação. Devemos tentar aumentar a inalação de ar úmido com umidificadores, nebulizadores ou até mesmo bacias com água. 

Rodrigo Farnetano:  O principal cuidado é hidratar as nossas vias respiratórias. A gente pode fazer por três frentes: 1) tomando bastante líquido e se mantendo muito bem hidratado; 2) fazer nebulizações  com soro fisiológico – principalmente para aqueles que têm algum problema respiratório; 3)  tentar aumentar a umidade dentro do nosso domicílio, do local de trabalho, onde passamos mais horas do dia. Podemos fazer isso colocando uma bacia com água.

 

Guilherme Rache Gaspar: Tornar o ambiente mais úmido é interessante. Deixar o ambiente arejado, janelas abertas. A bacia de água pode ser um problema grande considerando as crianças por causa do risco de acidentes. Talvez, melhor um pano umedecido. O soro fisiológico nas narinas faz muito bem. Vai ajudar hidratar e melhorar a sensação de ardor com o tempo. Outra coisa é evitar atividades muito estimulantes, como a prática esportiva, entre 10h e 16h. Além disso, hidratação frequente, tomar líquido sempre, mais que o habitual.

 

 

A situação é ainda pior para recuperados da COVID? 

Silvio Musman: Para as pessoas que tiveram COVID recente, e que tiveram uma síndrome respiratória aguda de moderada a grave, essa situação pode ser mais preocupante, porque os pulmões e as vias aéreas ainda estão em processo de recuperação e regeneração.

Rodrigo Farnetano: Não apenas para COVID, mas para qualquer infecção respiratória. Se o tempo está seco, as vias respiratórias estão mais irritadas. Por isso, precisamos tomar as medidas: tomar bastante líquido, vamos fazer hidratação com nebulização e tentar aumentar a umidade dos recintos que permanecemos mais tempo.

 

Guilherme Rache Gaspar: Cuidar bem das vias aéreas é muito interessante nesse momento. O vírus ataca as mucosas. O cansaço é causado por isso. Essa mucosa, que está sofrida, fica ainda mais sofrida se ficar desidratada e com essas partículas poluentes. Esses cuidados (hidratação, janelas abertas, uso de bacia d’água etc.) são oportunos para quem está recém-diagnosticado ou se recupera doença.

 

Quais sintomas precisam de atenção e quando procurar um médico?

Silvio Musman: A umidade relativa do ar muito baixa pode desencadear quadros de bronquite, sinusite e até mesmo crises agudas de asma. Tosse persistente, seja seca ou produtiva, chiado no peito, canseira e falta de ar devem ser vistos como sinais de alerta, em especial nas crianças e idosos.

 

Guilherme Rache Gaspar: O cansaço sentido de maneira diferente deve ser razão para procura do atendimento médico. Até porque o sintoma pode estar somado a alguma outra doença. Nós nos conhecemos, sabemos como respondemos a essa situação. Se o cansaço está diferente, ou mais algo aparecer, como febre e tosse, são sintomas que demandam o atendimento médico de urgência.

 

Qual o papel das autoridades nessa questão?

 

Guilherme Rache Gaspar: É muito sabido o quanto uma boa política ambiental impacta em populações inteiras. É uma coisa importante de se pensar num contexto amplo, como o uso de automóveis de maneira exacerbada e incentivar mais a caminhada. São ações importantes para o bem-estar coletivo. Cidades com políticas ambientais melhores têm crianças com menos problemas respiratórios. É uma demanda que a população civil deve fazer nesse momento.

 


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