No alto da ladeira de Santa Efigênia, na cidade histórica de Ouro Preto, Kedison Guimarães, Capitão da Guarda de Moçambique, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, celebrou com o grupo de 30 devotos, o dia de Santa Efigênia, uma santa negra, símbolo da ancestralidade que se perpetua em várias gerações e tem o dia 21 de setembro, a data para ser homenageada.
A alvorada festiva da padroeira começou às 5h e, no lado de fora da Igreja Matriz de Santa Efigênia, a Guarda de Moçambique iniciou a celebração como forma de manter viva uma tradição que envolve fé, ancestralidade e resistência com a mistura do repique dos tambores e o badalar dos sinos.
“Pra gente é muito significativa a data porque nos fortalece e mostra a nossa resistência negra e a força que a nossa ancestralidade tinha e deixou para nossas gerações. Nos tiraram da África, mas ela permanece em nós e hoje foi o dia de mostrar isso” afirma o Capitão da Guarda.
Na tradição congadeira, Kedison conta que no dia da celebrações tem a presença do rei de promessa, o rei de festa e o rei perpétuo e em continuidade aos festejos de Santa Efigênia, às 13h, Paulo Arcebispo foi coroado o rei perpétuo. Esse título dá ao novo rei a missão de levar o nome de um santo, que no caso é o de Santa Efigênia, até os últimos dias de sua vida.
“Na Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia já temos a rainha de Santa Efigênia, o rei de São Benedito, o rei e a rainha de Nossa Senhora do Rosário. Em 2022, o grupo vai coroar a Rainha de São Benedito e assim completar o trono coroado”.
Por causa das medidas de prevenção contra a COVID-19, nesse ano não houve a procissão com a imagem de Santa Efigênia e os devotos saíram em carreata pelas ruas do bairro.
Templo de resistência
O diretor de Igualdade Racial, da Secretaria de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, Kedison Guimarães, conta que a Matriz Igreja de Santa Efigênia também é chamada de Rosário do Alto da Cruz do Padre Faria e foi construída entre 1733 a 1785 pelo escravo alforriado Chico Rei e seu grupo.
Segundo o diretor e Capitão da Guarda, o local era uma espécie de refúgio dos negros escravos e apresenta expressivos elementos simbólicos da cultura negra que podem ser observados nas talhas em madeira, sobretudo no altar-mor, representando conchas, caramujos, chifres e outros elementos da religiosidade africana.