O fato de Minas Gerais arder em chamas em setembro, historicamente, já é conhecido pela população e pelas autoridades. O problema é que, neste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) computa o mês com mais focos ativos no estado desde 2011: 4.919. Em média, o Inpe registra um foco ativo em Minas a cada seis minutos neste mês. Como ele ainda não terminou, portanto, pode ser superado o total contabilizado em 2011 (5.930), ou até mesmo o recorde de 7.489, registrado em 2003.
“Nos nossos atendimentos, a gente já atingiu, só até setembro, o que a gente atendeu no ano passado inteiro, que já foi o patamar recorde dos últimos 10 anos. A média histórica fica em torno dos 16 mil chamados via 193. Neste ano, até setembro, são cerca de 20 mil. Só neste mês, concentramos um quarto das ocorrências de 2021”, afirma o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).
Como sempre, grande parte desses episódios está ligada à ação humana. Segundo os bombeiros, a maior parcela dos incêndios de setembro se deu em perímetros urbanos, sobretudo na Grande BH. Outra situação comum, segundo Pedro Aihara, é na zona rural, onde agricultores colocam fogo em vegetação na tentativa de realizar a limpeza de determinadas áreas. A situação muitas vezes sai do controle.
De acordo com Aihara, a condição crítica já era esperada pela corporação no início do ano. Por volta de fevereiro, os bombeiros projetavam período de estiagem maior. Para isso, o CBMMG tentou se antecipar para evitar tragédias. “Desde o início de fevereiro, a gente está com a Operação Alerta Verde. O objetivo é mapear quais são os pontos mais críticos no estado, e o desenvolvimento de ações preventivas. Nos parques estaduais, por exemplo, fizemos aceiros, treinamento de brigadas e qualificação dos órgãos parceiros", detalha o tenente.
De acordo com Aihara, a condição crítica já era esperada pela corporação no início do ano. Por volta de fevereiro, os bombeiros projetavam período de estiagem maior. Para isso, o CBMMG tentou se antecipar para evitar tragédias. “Desde o início de fevereiro, a gente está com a Operação Alerta Verde. O objetivo é mapear quais são os pontos mais críticos no estado, e o desenvolvimento de ações preventivas. Nos parques estaduais, por exemplo, fizemos aceiros, treinamento de brigadas e qualificação dos órgãos parceiros", detalha o tenente.
"Existe uma previsão de chuvas, embora seja uma previsão tímida. Muito longe de resolver o problema. Mas, chovendo, pelo menos a gente consegue ter uma umidade maior. Uma vegetação um pouco menos seca"
Tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG)
Além disso, segundo ele, houve um trabalho dos bombeiros junto às prefeituras. "A ideia era monitorar aqueles lotes que não estão em condições adequadas de manutenção. Manter os lotes capinados é uma obrigação dos proprietários, conforme o Código de Posturas. Então, fazemos um monitoramento de perto de todas as grandes ocorrências”, diz o militar.
Esperança
Com a chegada da primavera ontem, as chuvas devem finalmente cair em Minas Gerais em breve. Com elas, a umidade relativa do ar sobe um pouco e diminui a seca, o que torna a vegetação ligeiramente menos vulnerável. Ainda assim, a pluviosidade deve ficar aquém do esperado nessas primeiras semanas do período chuvoso. “Existe uma previsão de chuvas, embora seja uma previsão tímida. Muito longe de resolver o problema. Mas, chovendo, pelo menos a gente consegue ter uma umidade maior. Uma vegetação um pouco menos seca”, avalia o militar.
Média acima de 57% nas áreas florestais
Responsável pelo combate de incêndios em unidades de conservação, o Instituto Estadual de Florestas (IEF), ligado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), também contabiliza alto número de ocorrências neste ano. A média histórica entre 2013 e 2020 é de 428 registros. Em 2021, até a segunda-feira, foram 674 – uma diferença 57,4% superior.
Quanto à área atingida, os dados também assustam. A média histórica é de 8.793,59 hectares (ha) – 24ha por dia – consumidos nas partes internas das unidades de conservação. Até 15 de setembro, 2021 indica 6.330,62ha queimados (24,6ha/dia). Na mesma toada, no entorno dessas reservas florestais, a área destruída pelo fogo neste ano já superou a mediana: 8.242,4 hectares, contra 6.937,15ha.
No balanço mês a mês deste ano, setembro registra o recorde de ocorrências: 199 até o dia 20. Em área queimada, no entanto, julho tem a triste liderança: 5.445,32ha de reservas florestais que desapareceram queimados.
De pequenos registros a mata devorada
Num dos tantos episódios mais recentes, na terça-feira, os bombeiros combateram um incêndio no Bairro Cidade Jardim Taquaril, no Leste de Belo Horizonte. As chamas persistiram até por volta das 20h10. Até mesmo um helicóptero foi deslocado ao local. O fogo ficou concentrado na Avenida Country Clube de Belo Horizonte, nas proximidades dos bairros Castanheiras e Pirineus. As chamas se alastraram rapidamente pela vegetação e chegaram perto de quatro casas.
Cinco viaturas foram enviadas ao local. Moradores tiveram de deixar suas residências para evitar o risco de queimaduras. Como em outras situações, a corporação ficou em alerta para o risco de uma possível reativação dos focos.
Também houve registro de ocorrências em outras regiões de Minas Gerais. No Parque Estadual Pico do Itambé, entre as cidades de Serro e Santo Antônio do Itambé, na parte Central do estado, um incêndio persiste há três dias. Bombeiros e brigadistas estavam ainda ontem no local.
No Km 233 da BR-462, em Santa Juliana, no Alto Paranaíba, os bombeiros de Araxá apagaram um incêndio que consumiu cerca de 300 hectares de vegetação. O combate durou cerca de 3h30min e somou esforços de funcionários de uma fazenda, além do apoio de uma aeronave agrícola.
Já em Manhuaçu, na Zona da Mata, os militares apagaram diversos focos isolados durante toda a madrugada de ontem. Nenhuma casa foi danificada, mas os moradores foram orientados a acionar os bombeiros em caso de novos incêndios.