Acidentes quase que diários, alguns de grandes proporções, trânsito lento e pesado, engarrafamentos em horários de pico, entorno com queimadas e muito desmatamento para dar lugar a grandes empreendimentos imobiliários de alto padrão. Esse é o cenário de umas das vias que já esteve entre as mais belas da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a MG-030, em seus 22,9 quilômetros que ligam Nova Lima à capital mineira.
Na quarta-feira, um caminhão carregado com 21 mil litros de gasolina despencou de uma ribanceira no KM 12, próximo ao Vale dos Cristais, e interditou completamente a rodovia nos dois sentidos. Ontem, um acidente com moto piorou o já complicado trânsito, em obras de duplicação, no trecho entre a primeira entrada de Nova Lima e o de acesso a Rio Acima e Raposos.
Os motoristas levavam, em sistema de pare-siga, em torno de 30 minutos para percorrer um trecho de menos de um quilômetro.
O colapso da rodovia é evidente diante da expansão da área urbana. Com uma população estimada de 97.378 habitantes, segundo o IBGE, e um novo empreendimento imobiliário aprovado pela prefeitura em janeiro, que prevê a construção de cinco torres para 300 habitantes e mil automóveis, causa ainda mais apreensão.
No limite
Luis Nepomuceno, presidente da Associação Comunitária do Vale dos Cristais (ACVC) diz que a MG-030 está no seu limite de infraestrutura. "Qualquer problema, seja na rodovia ou em algum condomínio, retém totalmente o fluxo."
A arquiteta Cláudia Pires, ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Minas Gerais (IAB/MG), considera que os governos estadual e municipal "tratam muito mal a estrada, especialmente por ter em seu entorno áreas protegidas."
Do ponto de vista da mobilidade, constata a arquiteta, é uma estrada com traçado complicado em uma região de topografia muito acidentada, com forte adensamento populacional, que dificulta o escoamento do trânsito.
Por outro lado, o alto padrão dos moradores de condomínios provoca uma política de mobilidade voltada para transporte individual. "Não vejo nenhuma discussão no sentido de oferta de serviço público de qualidade e seguro. No dia 30 haverá audiência pública para discutir plano diretor. Na gestão passada houve o mesmo movimento e criamos um coletivo 'Arquitetos por Nova Lima', que discute questões do cotidiano, onde tentamos estabelecer interlocução com poder executivo, mas não houve receptividade."
Devido ao traçado da rodovia, o coletivo questiona a falta de regulação, fiscalização por parte da prefeitura ou do DER. Segundo o DER-MG, o trecho entre o Trevo das Seis Pistas até a sede de município de Nova Lima, com aproximadamente 11 quilômetros de extensão, encontra-se sob responsabilidade da prefeitura.
Sob críticas, a prefeitura diz buscar solução
Criticada por líderes comunitários e moradores, a Prefeitura de Nova Lima sustenta que trata a questão da mobilidade urbana como prioridade, trabalhando na elaboração de diversos projetos "que solucionarão não apenas o trânsito na MG-030, como também em outras importantes rodovias, como a BR-040 e BR-356, que cortam a cidade, cuja área territorial é muito extensa."
Em nota, afirma que tem se reunido com o governo estadual, outras prefeituras, representantes da Assembleia Legislativa, associações de moradores e entidades "em busca das alternativas viárias necessárias, uma vez que as soluções são complexas e dependem dos esforços conjuntos."
Quanto à legislação ambiental e plano diretor, a nota diz que a prefeitura "segue as legislações vigentes e que tem ciência da defasagem do atual plano diretor da cidade". O mesmo será "revisado e sua audiência pública de lançamento ocorrerá no dia 30 de setembro. A partir dessa atualização, é que se dará soluções para desafios relacionados às questões habitacionais e de mobilidade urbana, entre outras áreas", projeta.
A empresária e administradora de condomínios na região Juliana Maiara Matos, 42 anos, moradora em Nova Lima desde os 12, classifica de gigantesco "o crescimento" de unidades habitacionais, principalmente no Vale do Sereno. "Não vejo nenhum estudo de viabilidade para abrigar e movimentar tanta e gente e veículos em nossa cidade. A prefeitura precisa repensar novos acessos."
Uma das preocupações do líder comunitário Luis Nepomuceno são as "repetidas aprovações de novos empreendimentos na região, que aumentam a densidade habitacional. Como esse último, com as torres que desrespeitam a legislação ambiental, aprovada pela própria prefeitura." Segundo Nepomuceno, a construção prejudicará área de preservação e o Plano Diretor, que não permite prédios com mais de quatro andares.
Na quarta-feira, líderes comunitários e síndicos do Bairro Belvedere vão se reunir no Hotel Caesar Business, para discutir o tema. A ideia é apresentar os projetos ao debate da comunidade. "Para os moradores, é fundamental que (a área verde) permaneça para uma cidade futura. Você vai aumentar e melhorar a qualidade de vida", afirma Ubirajara Pires, presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere (AABB).
Queda de braço pelo destino de área verde
Uma disputa que envolve o governo federal, empreiteiras, políticos e a sociedade e que pode desembocar em diferentes soluções. O imbróglio ligado à linha de trem entre os bairros Belvedere, na Região Centro-Sul de BH, e Olhos D’Água, em Nova Lima, na Grande BH, ganhou novos capítulos. Em entrevista ao Estado de Minas, o deputado estadual João Leite (PSDB) afirmou que a Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, vinculada ao Ministério da Economia, estuda a venda da área à iniciativa privada, interessada em construir uma avenida no local.
“É uma área muito polêmica por causa da insistência dos empreendedores em continuar a adentrar. Além da questão dos trilhos, nós temos ali a Estação Ecológica do Cercadinho (com mananciais de água)”, diz o deputado João Leite. Segundo ele, uma possível avenida colocaria Cercadinho em risco. Para o deputado, empreiteiras desejam valorizar a região para, posteriormente, construir condomínios em Nova Lima, onde os impostos são mais baratos. “Seriam mais prédios. Eles querem mais 40 mil moradores ali. Agora, eles foram a Brasília e querem comprar a área”, afirma.
O espaço onde está a linha de trem é de responsabilidade do governo federal, por meio da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). Um dos projetos em tramitação é de parceria público-privada para revitalização a partir da criação de um parque linear.
Uma das interessadas é a Fundação Doimo. A linha férrea iria do Belvedere até o Espaço 356, criando um complexo turístico com ênfase na paisagem natural e nas fábricas produtoras de cerveja. O EM apurou que a mineradora Vale pode aderir, estendendo os trilhos até o Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH, em contrapartida da tragédia de 25 de janeiro de 2019.
Conforme o Estado de Minas mostrou na quinta-feira, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, já se posicionou favoravelmente a esse projeto. “Entro no circuito e posso atuar junto à SPU para isso. Faz muito sentido. Ajudo na hora", escreveu em troca de mensagens com o deputado João Leite.
Preservação
Na quarta-feira, líderes comunitários e síndicos do Bairro Belvedere vão se reunir no Hotel Caesar Business, para discutir o tema. A ideia é apresentar os projetos ao debate da comunidade. "Para os moradores, é fundamental que (a área verde) permaneça para uma cidade futura. Você vai aumentar e melhorar a qualidade de vida", afirma Ubirajara Pires, presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere (AABB).