O ritmo de mortes e contágios pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) em Minas Gerais já é 3,5 vezes menos intenso do que o observado na média da pandemia, depois de oito meses de vacinação no estado. Seguindo também em compasso de redução, Belo Horizonte conseguiu frear as mortes em 1,8 vez e os casos em 1,5 vez. É o que mostram dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que acompanha os indicadores de dobras de exames positivos e de óbitos pelo vírus.
Por meio desse dado se compara a velocidade de crescimento da epidemia nas unidades da federação (UF) de acordo com a duplicação dos registros pelo tempo decorrido em dias que levou à ampliação em duas vezes. “Se o número de dias da última duplicação registrada for menor do que a média de dias de duplicação durante a pandemia, isso significa uma deterioração da situação no estado”, informa a Fiocruz, por meio de nota técnica.
Em média, durante a pandemia, o estado levava 36,6 dias para registrar duas vezes mais casos e 44,25 dias para o dobro de mortes. Contudo, até 21 de setembro já se computavam 127 dias desde a última duplicação de casos e 156 dias desde que os óbitos dobraram pela COVID-19.
Ao longo da pandemia, Minas Gerais somou um total de 15 multiplicações de casos (perdendo apenas para São Paulo, com 16) e 12 dobras de mortes (o maior volume do país ao lado de São Paulo). Minas é o sétimo estado com mais expressivo nível de redução de óbitos e o 14º em casos.
“Esse indicador ajuda ainda a entender a velocidade de ocorrência de casos graves da epidemia em cada estado. Quanto menor o número de dias para que ocorra a duplicação de casos e óbitos, maior a velocidade de contágio. O indicador expressa a magnitude de avanço da doença em termos dinâmicos”, avalia a Fiocruz.
Números de BH também desaceleram
A velocidade de contágios e mortes pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) tem se reduzido no Brasil, sendo que em Minas Gerais e em Belo Horizonte, onde esses volumes proporcionais eram mais baixos, o ritmo de desaceleração também é menor, motivo pelo qual o estado e a capital não se destacam se comparados a locais que tiveram rápidos surtos e consequentes dobras em curto prazo.Em Belo Horizonte, os casos positivos de novo coronavírus se duplicaram 10 vezes ao longo da pandemia, enquanto os óbitos dobraram oito vezes. A média para se chegar a cada multiplicação por dois em termos de casos é de 54,1 dias, mas a última vez que isso ocorreu, desde a extração dos dados, em 21 de setembro, foi há 81 dias. A mesma redução de ritmo tem ocorrido entre as pessoas que faleceram pela COVID-19. Esse volume se duplicava a cada 64,25 dias, o que não ocorre há 119 dias, segundo os dados da Fiocruz.
As 10 vezes que os casos positivos de novo coronavírus dobraram em Belo Horizonte também se repetiram em grandes cidades do interior, como Contagem, Juiz de Fora, Montes Claros, Uberaba e Uberlândia, sendo que a cidade do Triângulo também repetiu o índice de oito duplicações de mortes de BH. Contagem e Juiz de Fora apresentaram uma multiplicação por dois a menos nos registros de falecimentos do que BH e Uberlândia, sendo que as demais não entraram na lista de 50 do relatório da fundação.
Na contramão da tendência
Um destaque negativo é Santa Fé de Minas, no Norte do estado, onde ocorreu a mais recente duplicação de casos, há seis dias, o segundo índice mais breve do Brasil, atrás de Almeirim, no Pará, com três dias. Essa lista conta ainda com Magalhães de Almeida, Coqueiral e Guaraciama, que dobraram da última vez há 13 dias, Samambaia e Catuji (14), São Sebastião do Anta (16), Carrancas (16), Lagoa Grande (20) e Coromandel (21).Coromandel, no Alto Paranaíba, também aparece como o segundo município com mais recente dobra de mortes, ocorrida há 10 dias, atrás de São José do Campestre, no Rio Grande do Norte, que dobrou há nove dias. Monte Carmelo e Pitangui multiplicaram óbitos há 17 dias, seguidas por Barão de Cocais (22), Barroso (23), Sete Lagoas (26), Raul Soares (28), Januária e Vazante (29), Conceição das Alagoas (30) e Lagoa Formosa (31).
“Isso significa uma franca melhora na transmissão”
Os últimos dados apresentados pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) confirmam que o período mais grave da pandemia começou a passar em junho. Em apresentação ao CIS-SUS, a Coordenadora da Sala de Situação da secretaria, Maria Laura Scapolatempore Starling indicou uma incidência “baixa, porém flutuante, ainda devido aos represamentos de informações devido ao feriado de 7 de setembro”.Desde junho os números apresentaram expressiva redução. “Casos novos por dia e óbitos já se encontram no mesmo cenário de julho do ano passado, mas como fazemos um maior volume de testes, isso significa uma franca melhora na transmissão”, observa a coordenadora.
Responsável pelos estudos de dobras, o Laboratório de Informação em Saúde (LIS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fiocruz, integra dados sobre o novo coronavírus no Brasil e no mundo, com objetivo de oferecer um retrato em tempo real da epidemia no país, por estados e por municípios, possibilitando comparação de tendências e extração de dados para análises, como os índices de dobras de casos e de mortes.
“Esse indicador ajuda a entender a velocidade de disseminação da epidemia em cada unidade federada. Quanto menor o número de dias para que ocorra a duplicação de casos e óbitos, maior a velocidade de contágio ou maior o número de exames realizados. Em ambos os casos, o indicador expressa a magnitude de avanço da doença em termos dinâmicos à medida que os casos são disponibilizados pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias de Saúde”, informa a Fiocruz.
Comportamentos diferentes
“Existe controvérsia com relação ao número total de casos, sobretudo na comparação entre países. Isso se dá por conta da heterogeneidade de realização de exames para confirmação de casos. À medida que o número de exames aumenta, consequentemente o número de casos diagnosticados aumenta também. Se, por um lado, a comparação entre casos é imprecisa, por outro, a comparação entre óbitos é mais verdadeira, uma vez que é um dado mais inequívoco”, avalia a fundação.A epidemia de COVID-19 apresenta comportamento diferenciado de outras epidemias recentes. “A velocidade de propagação da doença é rápida e difusa, embora sejam observados alguns padrões. No mundo, o início da disseminação da doença acompanhou grandes hubs aeroportuários e, num segundo momento, parece estar associado ao tamanho populacional das cidades. Nesses casos, hubs aeroportuários secundários já dentro do país e caminhos rodoviários mais intensos parecem responder pelo processo de propagação. Em todos os casos, o tamanho populacional e, por consequência, o nível de centralidade do município parece responder pelo processo de propagação da COVID-19”.