Jornal Estado de Minas

COVID-19: ritmo desafia meta da vacinação em MG



Minas Gerais precisaria ampliar em três vezes o ritmo de vacinas aplicadas diariamente contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) para atingir uma cobertura suficiente a todos os adultos, com pelo menos uma dose, até o fim de outubro, como previa a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) – que atribui aos municípios a demora. De acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), levando-se em conta o patamar até 24 de setembro, com o compasso atual essa cobertura vacinal levaria 118 dias, findando apenas em 20 de janeiro de 2022 e não em 31 de outubro, como previu a SES em junho deste ano. Com essa velocidade, também de acordo com os dados, a cobertura da segunda dose somente seria atingida para todos os adultos em 127 dias, ou seja, em 29 de janeiro do próximo ano.





O secretário de Estado de Saúde,  Fábio Baccheretti, entretanto, afirma que o cumprimento da meta depende agora somente dos prefeitos, já que “o estado dispõe de doses para todos os adultos”. Segundo ele, os números de cobertura vacinal de primeira dose oficiais, de 88,85% na data do estudo, estão defasados. Segundo ele, de fato, esses números são superiores aos divulgados, com a cobertura alcançando 93% dos adultos, e que quase todos os municípios já chegaram perto da vacinação de pessoas até 18 anos.
 
Baccheretti considera que a cobertura vacinal de adultos seja uma “página virada” e que os reforços (a idosos e imunossuprimidos) e a imunização de adolescentes sejam rapidamente implementados. “O estado dispõe de doses para todos os adultos. Há uma demora do lançamento dos dados municipais no sistema de vacinação. É uma página virada, uma questão de tempo, depende de os municípios vacinarem (as pessoas). O estado tem CoronaVac para os adultos que necessitarem também”, afirma o secretário.
 
De acordo com dados do Boletim Epidemiológico da SES divulgado na manhã de ontem, um total de 14.744.551 primeiras doses de vacinas foram aplicadas no estado, um acréscimo de 181.449 desde o dia 24, sexta-feira passada, que representam uma evolução de 1,24% em relação aos 14.563.102 registrados na data da pesquisa da Fiocruz. As segundas doses, no entanto, tiveram uma evolução maior. Saíram de 7.387.098 para 7.766.623, alta de 5,1%. As doses únicas, da Janssen, subiram de 485.632 para 486.033.




 
Considerando os dois períodos, chama a atenção a estagnação na movimentação dos lotes entre sexta-feira e ontem. Nas duas datas, o boletim da SES registra que Minas recebeu 29.451.624 imunizantes, enviou 28.781.492 às unidades regionais de saúde, e essas distribuíram 24.945.029 aos municípios.

Veja como modelos projetam a COVID-19 até novembro (clique para ampliar) (foto: Arte EM)


Fórmula de cálculo


De acordo com nota técnica da Fiocruz sobre a evolução vacinal, as projeções são feitas considerando o ritmo de aplicação de doses dos últimos 30 dias e a população total com mais de 18 anos. “Para a elaboração do cálculo dos cenários de imunização foi deduzido da população total acima de 18 anos as pessoas que já tiveram a imunização realizada com a primeira dose ou com o esquema de vacinação completo. A população ainda não coberta foi dividida considerando a aplicação das duas doses dos imunizantes ou apenas a segunda dose, conforme o esquema vacinal”, informa a fundação.
 
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), a pediatra Isabella Ballalai diz que após a aplicação da vacina são necessários no mínimo 14 dias para que o sistema imune humano esteja apto a responder adequadamente contra a presença de agentes patogênicos causadores de doenças. Os últimos a receber a primeira dose, pelos cálculos da Fiocruz, começarão a desenvolver imunidade no início de fevereiro de 2022, enquanto quem tomar a segunda injeção alcançaria esse estágio no fim do mesmo mês. Caso a SES consiga atingir a meta de aplicação de primeiras doses até o fim de outubro, em meados de novembro essas pessoas já poderão gerar anticorpos e responder melhor a um eventual contágio pelo novo coronavírus.




 
OSCILAÇÃO Projeções mostram que o número de casos e óbitos ainda oscilava até a data prevista inicialmente pela SES para a cobertura da primeira dose, começando a cair posteriormente. Um desses modelos é o Geocovid MapBiomas, de cinco universidades públicas, ONGs e empresas de tecnologia, desenvolvido pela Geodatin. Esse monitoramento e previsão da propagação da COVID-19 através de recursos de geotecnologias e inteligência artificial mostra que ao fim de outubro os casos em Minas Gerais poderão chegar a uma evolução de 11,47% em relação ao total apurado até 24 de setembro, caindo, 20 dias depois, para -1,07% na mesma base de comparação. Os óbitos, chegariam a uma ampliação de 14,32%, se reduzindo no mesmo período para 8,42%.
 
Dentro do mesmo intervalo, a expectativa da demanda por vagas de UTI COVID-19 variaria pouco, de 457 para 485 leitos, enquanto a projeção de necessidade dos leitos de enfermaria passaria de 900 para 989, em modelagem com o mesmo período.
 
Os casos de Belo Horizonte subiriam 9,9%, caindo depois de 20 dias para 2,12%, enquanto a evolução das mortes sairia de 14,27% até outubro para 5,69% ao fim do mesmo período de projeção. As vagas de UTI teriam uma variação dentro da estabilidade, de 86 para 92 leitos, enquanto as enfermarias em BH podem oscilar de 167 para 180, de acordo com as projeções modeladas em 24 de setembro. Ontem, a SES registrou 41 mortes e 3.225 casos de COVID-19. No total, são  2.137.964 infectados e 54.466 óbitos.





Alívio no sistema de saúde


O momento é de queda de índices da COVID-19 e de folga nas estruturas de saúde, de acordo com a coordenadora da Sala de Situação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Maria Laura Scapolatempore Starling, em sua apresentação ao Consórcio Intermunicipal de Saúde (CIS-SUS). “As internações apresentam manutenção de queda de ocupação e requisição dos leitos COVID-19 da ordem de 26%, em todas as regiões, já há quatro semanas. Nossa ocupação geral segue em queda nas UTIs e em 75% das enfermarias”, disse.
 
Outro dado importante é a redução sistemática dos quadros respiratórios mais críticos. “As internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) têm diminuído desde junho e já se encontram em número bem menor do que no início do ano; o mesmo ocorre com relação aos óbitos em todas as faixas etárias. Nenhuma das regiões se encontra na onda vermelha do programa Minas Consciente”, aponta Starling.
 
As projeções Geocovid/Mapbiomas reúnem um conjunto de técnicas de modelagem para melhorar a compreensão sobre e disseminação da COVID-19 no Brasil. O desenvolvimento é descrito a partir dos eixos que levam em conta indivíduos que não foram expostos ao vírus (suscetíveis), indivíduos que foram expostos ao vírus, mas que ainda estão infectando outras pessoas (expostos), indivíduos que transmitem o vírus e têm sintomas (infectados sintomáticos), indivíduos que transmitem o vírus mas não têm sintomas (infectados assintomáticos), hospitalizados, recuperados e mortos. Descreve a dinâmica de cada município do Brasil através da distribuição da população de uma dada cidade em compartimentos específicos, entre outros métodos. (MP)

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