Alvorada de Minas – Maria José prepara os foguetes, Silvânia abre o maior sorriso e Eli fortalece a corrente de confiança formada ainda por dona Ladica, Maria Efigênia, Ana Flávia e outros moradores de Itapanhoacanga, em Alvorada de Minas, na Região Central, a 210 quilômetros de Belo Horizonte. Após mais de três décadas de incertezas e 12 anos de interdição do seu principal templo católico, a comunidade verá, finalmente, o início da restauração da Igreja São José, do século 18, em visível estado de deterioração.
“Neste ano dedicado a São José, não poderia haver nada melhor. Esta igreja é minha família, minha casa, minha comunidade”, alegra-se Geralda Maria Ferreira de Souza Pimenta, a dona Ladica, oficial do cartório de registro de ofícios e notas, ministra da eucaristia e apaixonada pelo monumento de fé. Em uma manhã de tempo fechado, dona Ladica se emocionou, diante do templo, ao falar sobre a longa trajetória de dificuldades.
“A situação nos causa muito sofrimento, pois a igreja, além da celebração de missas, casamentos e batizados, sempre foi o local da catequese, das reuniões dos moradores, enfim, o único ponto de encontro de todos nós. Minha mãe, Geralda Majela, tocava o órgão musical, meus filhos foram batizados aqui”, contou dona Ladica, no adro da igreja, ao lado do marido Eli Pimenta e da filha Ana Flávia Ferreira de Souza Pimenta. “Seu Pedro morreu levando consigo a tristeza de não ver a igreja reaberta. Ele veio aqui a vida inteira, mesmo quando as portas estavam fechadas. Ficava olhando do lado de fora”, lembrou a ministra da eucaristia.
Pedro de Carvalho Filho, ao qual dona Ladica se refere, teria hoje, se vivo, 93 anos. Ele foi uma das pessoas entrevistadas pelo Estado de Minas, em 1999, em reportagem que já naquela época denunciava o quadro lastimável da construção histórica (leia abaixo). Nove meses depois, quando começaram os serviços emergenciais a cargo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento em 29 de setembro de 1971, ele saudou o feito.
Também satisfeita com a restauração da Igreja São José, que terá investimento de R$ 4 milhões da mineradora Anglo American e previsão de início das obras neste mês, a professora Silvânia Maria Moreira de Oliveira Reis prefere não culpar ninguém pela degradação e apostar na conservação permanente. “Somos todos responsáveis pelo bem, pois é coletivo. Viveremos nova etapa, e cabe à nossa comunidade, de agora em diante, preservar da melhor forma possível o patrimônio”, afirmou.
Serviços
A igreja receberá obras civis e restauração artística, além do sistema de proteção contra descargas atmosféricas, alarme e proteção contra incêndios e serviços hidrossanitário e de sonorização. A previsão é de que o trabalho dure 18 meses. Com acompanhamento do Iphan, as intervenções terão à frente o Instituto Flávio Gutierrez.
A superintendente do Iphan em Minas, Débora do Nascimento França, informa que o objetivo da autarquia federal é sempre valorizar o patrimônio por meio dessa e de outras obras de restauração e requalificação. “A Matriz de São José de Itapanhoacanga é uma representante singular da arquitetura religiosa de Minas, de grande riqueza e importância para o Brasil.”
Titular da Paróquia Santo Antônio, em Alvorada de Minas, padre Dário Vieira destaca a importância do templo para os católicos e também fiéis de outras religiões que vivem em Itapanhoacanga. “Cheguei aqui há seis anos, e a igreja estava fechada. Vejo a ansiedade das pessoas para terem de volta sua igreja, que é muito bonita e tem tantas histórias, muitas delas ligadas aos pais e antepassados de morasdores”, afirmou o pároco. Dependendo da situação sanitária, padre Dário, que deixará a paróquia em novembro, pensa em celebrar missa para marcar o início da obra.
Memória
Batalha de décadas