"Meu sentimento é de exclusão pelo fato de ser a única rua do meu bairro que não tem asfalto”. Imagine você morar em um bairro todo asfaltado, mas apenas a sua rua, com 75 metros de extensão, é de terra - e, ainda por cima, aguarda pelo serviço há 25 anos. Pois é exatamente a situação de Lívia Ferreira, moradora da cidade de Lagoa Santa, cuja frase abre esta reportagem.
“Faz uma semana que nós, moradores, fizemos a última tentativa de diálogo com o prefeito e até agora nenhuma resposta sobre a situação da minha rua", afirma a dona de casa, moradora da rua JK, no Bairro Praia Angélica, no município da Região Metropolitana de BH. “Enquanto isso, os meus dois filhos sofrem com problemas respiratórios devido à poeira", complementa.
Segundo a residente, são diversos os requerimentos e abaixo-assinados entregues a prefeitos nos últimos 25 anos. Desde 2019, as tentativas se intensificaram - mas ainda em vão.
Outra moradora do bairro, Cristiane Lelis, afirma que uma esperança apareceu em julho de 2020, quando um abaixo-assinado feito pelos residentes foi entregue ao então candidato à reeleição de vice-prefeito, Breno Salomão (Patriota). Ela afirma que Salomão prometeu o início da obra, após assumir o mandato e a pasta da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SDU).
Uma luz no fim do túnel, como definem os moradores - mas que durou pouco. “Funcionários da Secretaria de Desenvolvimento Urbano estiveram aqui, mediram a rua e foi nos prometido que em três meses a obra ia acontecer. Essa promessa já completou um ano e vejo que a luz foi uma lanterna que se apagou logo após a eleição”, afirma Cristiane Lelis.
R$ 128 milhões?
A moradora do bairro conta que o rumo da conversa mudou após uma reunião entre os moradores e o prefeito da cidade, Rogério Avelar (Cidadania), em julho deste ano. “Queríamos saber qual seria a data para a execução do serviço, que, até então, não havia sido feito como o Breno Salomão havia prometido", inicia Cristiane.
"Apresentamos todos os requerimentos para o prefeito ver. Ele viu e nos respondeu que teria que pedir um empréstimo de R$ 128 milhões para o asfaltamento da cidade e que nós da população deveríamos forçar a aprovação dos vereadores”, complementa.
'Parece que não existimos'
“Todos os prefeitos que entram e saem prometem o asfalto dessa rua e o atual prefeito disse, na reunião de julho, que a prioridade é asfaltar ruas onde têm mais moradores. Nos sentimos desprezados e sem saber quando vai chegar a nossa vez”.
'Maior programa de pavimentação da cidade'
Em setembro de 2019, a atual gestão municipal anunciou no site da prefeitura "o maior programa de pavimentação e drenagem pluvial da cidade" e afirmou que, após estudos, 40 quilômetros que correspondem a 80 ruas da cidade não estavam asfaltadas.
Na época, a prefeitura encaminhou à Câmara Municipal de Lagoa Santa o Projeto de Lei 5060, que pedia autorização de financimanto de R$ 15 milhões. O plano era somar essa quantia a R$ 30 milhões enviados pelo Governo de Minas, após acordo judicial entre o Tribunal de Justiça de Minas Gerais e Associação Mineira dos Municípios.
Com os R$ 45 milhões, segundo a prefeitura, as obras seriam iniciadas após o envio dos recursos previstos para 2020. "Mas, infelizmente, como houve a rejeição do Projeto de Lei Nº 5060 pela Câmara Municipal, essas outras 80 ruas de terra que seriam contempladas de imediato não serão pavimentadas neste momento devido a falta de recursos financeiros", afirmou a prefeitura, à época.
Em resposta aos questionamentos dos moradores, enviada na sexta-feira (8/10), a prefeitura afirma que a pavimentação da Rua JK e de outras ruas no município que se encontram na mesma situação estão na programação de pavimentação a ser realizada no decorrer do ano de 2022.