Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Novo 'normal' alerta para número de animais abandonados em BH

Mais de um ano e meio após o início da maior crise sanitária da história, não é incomum relembrar com ansiedade as primeiras semanas de quarentena e isolamento social. No início, a população de todo o mundo enfrentou as dificuldades de um cenário de incertezas causado por um vírus desconhecido. 





Obrigados a se distanciar, para muitos a rotina dentro de casa era solitária. Em busca de companhia, algumas pessoas passaram a procurar centros de acolhimento e abrigos de animais para adotar cães ou gatos. 

É o que conta Adriana Araújo, idealizadora e coordenadora do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais. “O fato de estarem em casa, a solidão… As pessoas passaram a adotar os animais para a sua companhia”.

No início, a alta procura por adoção animou os protetores de animais. No entanto, com o correr dos meses e a retomada gradual das atividades, a realidade se mostrou outra. Parte dos animais adotados passaram a ser abandonados e o primeiro pilar da adoção – a responsabilidade humana – foi relegado ao segundo plano.




 
 

O abandono nas ruas da capital mineira  

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, ao longo do ano de 2020, foram recolhidos um total de 1.585 cães e 1.206 gatos pelo Centro de Controle de Zoonoses. Este ano, de janeiro a agosto, 773 cães e 749 gatos foram resgatados das ruas da capital mineira. 

Os números podem ser ainda maiores, uma vez que não há dados exatos sobre os resgates realizados pelas dezenas de ongs e abrigos independentes de animais na cidade.

De acordo com a ong belo-horizontina Bichos Gerais, a equipe de voluntários recebe, aproximadamente, 10 ligações diárias de pessoas que procuram onde deixar seus animais. A equipe explica que, na maioria dos casos, a motivação é financeira. 

Para Adriana Araújo, além dos números de abandono, a redução das feiras presenciais de adoção também preocupa os protetores.

“A proteção animal entrou em colapso. Os eventos de adoção responsável foram suspensos, as castrações diminuíram drasticamente, isso é uma bomba relógio”. 





Qual a responsabilidade proveniente da adoção? 

A adoção responsável começa no momento da decisão trazer um animal para os cuidados da família. “O fato é que não é sobre ter o animal, mas, sim, assumir a responsabilidade”, compartilha Adriana. 
 
 

Em algumas ongs, ao decidir adotar um dos animais resgatados, o futuro tutor deve passar por uma entrevista. No processo, é questionado seu comprometimento com o animal e a pessoa é orientada sobre as responsabilidades, duradouras, que envolvem ter um cão ou gato. 

“Esse tipo de diagnóstico nos possibilita saber se aquele animal terá chances maiores de ser abandonado. Não podemos garantir 100%, mas a entrevista diminui consideravelmente a chance daquele animal ser descartado”, completa. 





Abandono configura maus-tratos?

Em Minas Gerais, abandono e maus-tratos a animais é considerado crime. Na foto, gatos em abrigo de BH (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Em Minas Gerais, abandono, maus-tratos contra animais ou omissões que atentem contra a saúde, física ou mental, do animal é considerado crime punível com a aplicação de multas, desde 2016.

Em caso de suspeita, a denúncia deve ser feita à Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra a Fauna de Minas Gerais. 

De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, políticas públicas, em várias frentes, são realizadas para evitar o abandono, o tratamento inadequado e doenças transmitidas por animais.

O Centro de Controle de Zoonoses realiza o recolhimento de animais soltos nas vias sem tutores próximos, mediante solicitação da população. 

O Movimento Mineiro pelos Direitos Animais atribui o abandono à falta de uma educação humanitária sobre o bem estar social e defende a ampliação de políticas públicas efetivas na área da conscientização e educação. “Mais do que criar leis punitivas, você precisa investir na prevenção”, conclui Adriana. 












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