Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO

Recomeçam trabalhos de restauro do Solar Pedrosa, em Ouro Preto (MG)

 
 
Ouro Preto – As sucessivas paralisações na obra de restauro do Solar Pedrosa, no distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, decepcionaram moradores e defensores do conjunto arquitetônico da cidade reconhecida como Patrimônio Mundial. Prometido para as comemorações dos 300 anos da Capitania de Minas, em 2020, o serviço ficou em compasso de espera e agora recomeça, trazendo alívio para moradores, pois já tem previsão de término.





“Queremos reinaugurá-lo entre dezembro e janeiro próximos”, garantiu, ontem, a secretária municipal de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto, Margareth Monteiro, destacando que o imóvel terá fins culturais e de interesse coletivo. Segundo ela, os problemas no contrato anterior com a empresa de construção foram resolvidos, e feita a licitação para a segunda etapa. Um dos pontos reavaliados se refere à acessibilidade, tanto que será adaptada uma plataforma elevatória. “O início da segunda etapa depende da conclusão da primeira, e agora o serviço está sendo finalizado”.

Para envolver a comunidade na obra, disse a secretária, os tapumes que protegem a construção vão receber intervenções a cargo dos artistas locais. Uma parte dessa proteção que havia tombado, conforme foi apurado por servidores municipais, ocorreu após um homem bêbado se desequilibrar e cair sobre algumas placas de madeira.

Ícone do distrito

O casarão com dois andares ocupa lugar de destaque na paisagem de Cachoeira do Campo, ficando bem perto da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, que foi cenário de momentos épicos como a Guerra dos Emboabas (1707-1709). Nos últimos anos, o Estado de Minas vem registrando o “pare e siga” do restauro, iniciado há exatos três anos, do Solar Pedrosa, alvo de recursos de financiamento da Prefeitura de Ouro Preto no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), no valor de R$ 1 milhão e contrapartida do município de R$ 200 mil.





Houve motivos diversos para a interrupção da obra. Em 19 de janeiro de 2019, a prefeitura informou que a situação se devia ao período eleitoral, o que ocasionava o atraso no repasse dos recursos por parte do banco. Na época, 20% dos serviços foram concluídos e o prédio trazia a placa, já retirada, com os dados técnicos sobre a obra. “A gente passa aqui na frente e fica preocupada, pois uma hora tem gente trabalhando, outra hora está vazio. É um patrimônio da cidade, não pode ficar sem definição. Tomara que terminem logo”, disse uma moradora orgulhosa da história de Cachoeira do Campo, um dos distritos mais antigos de Ouro Preto.

Conforme estudos, havia no distrito 230 imóveis históricos, metade sobrados, metade casarões, restando apenas, na Praça Felipe dos Santos ou da Matriz, o Solar Pedrosa, nome de uma família que ali residiu. Dos casarões, há um de pedra perto da igreja que atrai a atenção dos visitantes.

Serviços

Construção do fim do século 18 ainda está em condições precárias, já que as obras de restauração foram interrompidas em 2019 (foto: Prefeitura de Ouro Preto/Divulgação)

 
Iniciada em setembro de 2018, a obra no sobrado tinha, na época, estimativa de ser concluída em sete meses. O primeiro e segundo andares do prédio do fim do século 18 e começo do 19 ainda se encontram “jurídica e oficialmente sem definição”, mas, segundo a secretária Margareth Monteiro, serão espaços culturais, com oficinas e outras atividades. O imóvel foi inventariado pela Prefeitura de Ouro Preto em 2007 e desapropriado três anos depois.





A decadência do prédio levou, em 2015, o Ministério Público Minas Gerais (MPMG), por meio dos promotores de Justiça, Marcos Paulo de Souza Miranda, ex-coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), e o da comarca, Domingos Ventura de Miranda Júnior, a intervir e pedir o escoramento, feito com peças de madeira e metal. Na época, as autoridades municipais descartaram o desabamento e esclareceram que, “ao assumir a pasta e por conhecer a importância da edificação, foi colocada toda a equipe para fazer projeto e buscar as parcerias institucionais para o restauro”.

História

Embora não seja uma edificação da época da Sedição de Vila Rica ou Sedição de Filipe dos Santos (1720), o Solar Pedrosa é um monumento importante do distrito e de Ouro Preto, localizado bem ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora de Nazaré. Vale destacar que, dentro do templo barroco, ainda em construção em 1708, o português Manuel Nunes Viana se sagrou, por aclamação popular, primeiro governador das Gerais. Eram tempos da Guerra dos Emboabas e o distrito distante 22 quilômetros da sede municipal foi campo da batalha mais sangrenta na disputa pelo ouro.

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