A forte queda dos indicadores da COVID-19 em Belo Horizonte permitiu uma série de flexibilizações, fazendo os habitantes voltarem a sonhar com a liberdade que desfrutavam antes da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2). A tendência na capital, segundo projeções de especialistas, é de queda em torno de 7% tanto na taxa de mortes quanto na de casos positivos até dezembro deste ano. Se a situação melhorar ainda mais, o setor de eventos é forte candidato para a próxima fase de redução na rigidez de regras de funcionamento e lotação, segundo informações de integrantes do Comitê Municipal de Enfrentamento à COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
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Para se ter uma ideia de quão favorável é a situação de momento na capital mineira, uma das formas que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem para avaliar a gravidade da epidemia em um local é pela rapidez com que os casos e mortes acumulados dobram seu quantitativo. Em BH, a média da pandemia é de 59,7 dias para que o volume de mortes se multiplique por dois. Atualmente, a velocidade é 3,1 vezes menor, levando 186 dias desde a última dobra. O mesmo se percebe quanto aos testes positivos, que têm média de duplicação de 56,5 dias, mas que já estão há 81 dias sem dobrar, cerca de 1,4 vez menos que o ritmo médio, de acordo com a Fiocruz.
O Laboratório de Informação em Saúde (LIS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz informa que o indicador ajuda a entender a velocidade de disseminação da epidemia e mostra que em Belo Horizonte a desaceleração é uma das mais fortes entre as capitais brasileiras. “Quanto menor o número de dias para que ocorra a duplicação de casos e óbitos, maior a velocidade de contágio ou maior o número de exames realizados. Em ambos os casos, o indicador expressa a magnitude de avanço da doença em termos dinâmicos. A comparação entre os óbitos é a mais verdadeira, uma vez que é um dado inequívoco”, informa a Fiocruz.
As projeções que levam em conta a progressão da pandemia em BH nos últimos 30 dias também mostram uma tendência de queda nos indicadores. Um dos modelos mostra a taxa de evolução de mortes caindo em 7% até o dia 4 de dezembro, levando a uma média de sete óbitos por dia pela doença. A demanda de leitos seria bem reduzida, estimada em 35 de UTI e 79 de enfermaria. Contudo, caso houvesse uma abertura total e descontrolada, com altas taxas de transmissão associadas, essa realidade logo decairia, com um aumento da taxa de mortalidade para 27,72% da atual, com 38 pacientes perdendo suas vidas todos os dias. O patamar seria semelhante ao sentido em maio, apenas um mês após o pico da pandemia em BH, quando se tinha pequeno alívio após o colapso do sistema de saúde.
Monitoramento
As projeções são do modelo Geocovid MapBiomas, um esforço de cinco organizações acadêmicas (UEFS, UFBA, UESC, UNEB e IFBA), empresas emergentes de base tecnológica (Geodatin e Solved) e o MapBiomas. A plataforma combina recursos de inteligência de dados espaciais e modelagens numéricas para monitorar e prever a dinâmica da COVID-19 no território brasileiro.
Por meio dessas estimativas, a taxa de evolução de casos pode reduzir em 6,76% se os mesmos parâmetros dos últimos 30 dias forem mantidos, o que representaria 295 casos diários. Um descontrole total poderia trazer uma situação crítica sem a supressão de fluxo de pessoas e com alta transmissão, com uma pressão sobre a demanda por leitos de saúde fazendo necessários 180 vagas de UTI e 397 de enfermaria e ampliando a contaminação para 1.630 casos todos os dias e aumento para 15,86% na taxa de evolução de testes positivos. Índices parecidos com os de junho de 2021, quando a capital começava uma tendência de recuperação do período de pico, com esgotamento do setor de acolhimento em saúde.
Para o infectologista Carlos Starling, a vigilância ainda deve ser grande, pois mesmo com bons resultados em BH, o mundo precisa se vacinar, caso contrário a ameaça de novas restrições poderá voltar a ocorrer. “Precisamos que os negacionistas norte-americanos se vacinem, que cheguem doses ao Haiti e à África”. Ainda assim, ele considera que muitos hábitos sedimentados ao longo da pandemia se manterão. “O uso da máscara é uma coisa que nenhum profissional da saúde mais deixará de usar no trabalho. As pessoas terão mais cuidado e evitarão locais confinados muito cheios, sem distanciamento. Vai acabar aquela coisa do colega de trabalho ir gripado para o local de trabalho, tossindo e espirrando no meio das pessoas como se fosse algo normal”, aponta o especialista.
Abertura cada vez maior
Os índices muito baixos de contaminação, mortes e ocupação de leitos em Belo Horizonte levaram a capital a deixar um rigoroso fechamento de atividades ocorrido no pico da pandemia, entre março e abril, para uma situação de quase normalidade, com sucessivas aberturas e todas as atividades podendo funcionar com regras sanitárias pré estabelecidas. De acordo com cálculos da Fundação Oswaldo Cruz, a média móvel de casos na última sexta-feira foi de 150 nos últimos sete dias e a de óbitos ficou em 4,71. para se ter ideia, no ápice da pandemia, entre março e abril de 2021, esse índice era de 1.508 testes positivos e 43,57 mortes.
A mais recente medida de flexibilização ocorreu na última sexta-feira, quando a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) publicou uma portaria que permitiu aos bares, restaurantes e comércios de alimentos voltarem a funcionar sem restrições de horário. Torcedores em estádios passam a ter de apresentar apenas o comprovante da segunda dose de vacina contra o coronavírus ou da dose única para ingressar em estádios. A regra vale também para a participação do público em eventos sociais e shows ao vivo. Nos shows para mais de 1.500 pessoas, em locais que comportam pelo menos 6 mil espectadores, assim como nos estádios de futebol, a capacidade vai passar de 30% para 40% de ocupação.
No início do mês, duas portarias já tinham reduzido outras exigências. O distanciamento interpessoal no comércio caiu de dois metros para um metro de distância e as salas de aula passaram a poder receber 100% dos alunos. Os bares e restaurantes tiveram permissão para aumentar a sua capacidade, com a ocupação máxima permitida sendo ampliada de uma pessoa para cada cinco metros quadrados para um a cada quatro metros quadrados. Parques de diversão em áreas a céu aberto podem receber lotação correspondente a uma pessoa a cada quatro metros em vez de os anteriores 13 metros ou reter 50% da capacidade dos brinquedos. As máscaras acrílicas do tipo faceshield passaram a ser obrigatórias apenas para situações de alto risco de contaminação, como serviços de saúde e dentistas.
Fases
A Prefeitura de Belo Horizonte informa que a reabertura das atividades será feita em fases subsequentes e cumulativas, conforme a segurança do quadro geral da cidade. “A mudança das fases dependerá da análise dos indicadores epidemiológicos e dos resultados publicados no Boletim de Monitoramento. Resultados positivos criam condições para a evolução do processo. Da mesma forma, existe a possibilidade de retorno às fases anteriores, em caso de indicadores negativos”.
Segundo a administração municipal, a população é “agente fundamental para evolução da reabertura das atividades, pois todas as medidas de segurança e higiene já recomendadas devem continuar sendo adotadas para que os indicadores permaneçam estáveis”. Regras como distanciamento social, uso correto de máscara, evitar aglomeração e conversas nos transportes e espaços coletivos são algumas medidas recomendadas pela PBH.
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