Implementar a primeira unidade de terapia intensiva (UTI) dedicada ao tratamento de pacientes com a COVID-19 em um dos maiores hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) em Belo Horizonte e conduzir, de forma inédita na história do SUS-BH, tratamento para salvar uma adolescente infectada e que chegou ao serviço de saúde praticamente sem vida. Esses dois desafios impostos pela doença respiratória marcaram o enfrentamento da pandemia e o aprendizado dos médicos, lembrado nesta semana dedicada a esses profissionais. O Dia do Médico é comemorado no Brasil e no mundo em 18 de outubro.
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Taxa de incidência da COVID-19 cai 35% em Minas Gerais nos últimos 14 dias COVID: Mais 206.250 doses da AstraZeneca chegam a MG nesta quinta (21/10)COVID-19: Minas registra 66 mortes e 1.915 casos em 24 horascoronavirusmgAbertas inscrições para concurso de agente penitenciário de Minas Gerais BH terá fim de semana de calor; chuvas se deslocam para o Triângulo e SulAline Melo afirma que no momento o principal desafio das equipes é que muitos pacientes com COVID-19 necessitam de internações mais longas na terapia intensiva. “A maior parte são de pessoas que não se vacinaram. É uma pena, porque é um serviço gratuito, disponível à população”, observa. É uma situação diferente do começo conturbado dos atendimentos em 2020.
“Iniciamos em março com o primeiro CTI-COVID. A gente estava se deparando com uma pandemia que conhecíamos muito pouco. Dia a dia vencendo e conhecendo um pouco mais a doença. Começamos com 10 leitos, chegamos a mais de 100 e hoje temos cerca de 50”, conta a médica da Santa Casa BH. Aline Melo se formou em uma faculdade privada de Alfenas, no Sul de Minas Gerais e atua no hospital em BH desde 2013.
Ela considera o trabalho na linha de frente do combate à doença respiratória o período mais desafiador de sua carreira. “Em alguns dias, a gente via o sofrimento muito de perto e numa frequência muito grande. Cada perda é muito significativa. Cada paciente tem uma história, um laço familiar, uma importância em algum lugar. A confiança do trabalho em equipe, de criarmos estratégias para enfrentar cada demanda e cada obstáculo que essa pandemia nos trouxe, foi nosso maior aprendizado”, explica.
Para a médica, o período da pandemia trouxe perdas familiares. Um tio de Aline Melo perdeu a vida com suspeita de COVID-19. A distância da família e dos amigos também a desafiou, sobretudo quando, grávida de nove meses, perdeu a filha. “Isso foi muito difícil. A gente sabe o quanto é difícil o distanciamento social nesses momentos”, diz.
Inovação
Ainda que o vírus tenha chegado ao Brasil com certo conhecimento dos médicos, uma vez que picos de contaminação pelo vírus na Ásia e na Europa já haviam ocorrido, o combate à infecção em um cenário de demanda maior que oferta pesa até mesmo para os mais experientes.
Atuando na Santa Casa desde 2007, Sérgio Luís Ramos Pimenta salvou a vida de uma adolescente de 14 anos diagnosticada com a doença. “Ela já chegou morta ao hospital”, recorda o médico, responsável pelo procedimento Ecmo, que foi adotado no tratamento de Eloisy Cristina dos Santos. Hoje, com a paciente de volta à escola e a saúde em boas condições, o médico não esconde a emoção ao relembrar o caso.
Há três semanas, Sérgio reencontrou Eloisy em BH. O objetivo era conhecê-la fora do ambiente hospitalar e se ele se emocionou ao ver os resultados do tratamento inédito. “Foi um encontro ótimo. A paciente fica, de certa forma, irreconhecível no hospital. Fisicamente, ela melhora. Do ponto de vista mental (também). Aí sim, você consegue conhecer a pessoa realmente. Eu me encontrei com ela há cerca de três semanas, bom tempo depois da alta. Foi um marco pra nós, porque essa relação com o paciente fora do hospital não é comum”, diz o médico da Santa Casa.
Eloisy passou pelo procedimento por nove dias em que ficou internada. A Ecmo custa entre R$ 270 mil e R$ 280 mil por semana. A estudante só teve acesso à técnica graças à solidariedade de médicos e enfermeiros da rede privada, por meio da Ecmo Minas. “É um tratamento caro, que ainda não está bem estabelecido no SUS de Minas Gerais. Há entraves burocráticos. Como era um caso muito emblemático, a equipe da Ecmo Minas conseguiu os insumos, equipe e a máquina”, conta Sérgio Pimenta.
Isolamento
Desafios pessoais também marcaram a trajetória do médico durante a pandemia. Diante do risco de transmissão, ele se isolou da família por completo durante três meses, para proteger o filho, então com menos de um ano. Sérgio Pimenta se mudou para a casa dos pais, que foram viver com uma filha.
Se a pandemia representou vida com o nascimento do filho do médico, também ficou marcada pelos últimos momentos do médico com o pai, que morreu vítima de um câncer contra o qual lutava há bastante tempo. “Vivia com uma pressão de passar a doença para o meu pai. Não pude passar com ele os últimos momentos dele conosco. A pandemia me tirou isso. Eu chegava no hospital às 7h e saía às 21h e ainda vivia longe da família”, observa. A pandemia da COVID-19 retirou a vida de 6.876 pessoas de BH, segundo o boletim epidemiológico e assistencial da prefeitura municipal, que não informa quantos médicos perderam a vida para a enfermidade.
Contágio avança em BH
A transmissão do coronavírus em Belo Horizonte apresentou nova alta ontem, segundo o boletim epidemiológico e assistencial da prefeitura da capital. O chamado fator RT, que mede a velocidade do contágio, atingiu pontuação 0,98, próxima do nível de alerta da classificação de risco do indicador caracterizada acima de um ponto. As taxas de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) e de enfermaria também tiveram elevação, de 46,1% para 46,6%, e de 39% para 40%, respectivamente. Não houve morte, ontem, provocada pelo coronavírus na capital. A cidade contabiliza 6.876 óbitos desde o começo da pandemia. O número de diagnósticos aumentou em 146 registros, totalizando 287.150 casos. Minas Gerais registrou ontem 66 mortes e 1.915 infectados em 24 horas. Ao todo, são 55.347 óbitos provocados pela doença e 2.174.114 diagnósticos no estado.
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