A Polícia Civil em Juiz de Fora, na Zona da Mata, indiciou nesta sexta-feira (22/10) um suposto policial militar, de 38 anos, suspeito de agredir um motorista de aplicativo no dia 10 de outubro. A companheira dele, de 37, responderá pelo crime de injúria racial contra uma condutora. No entanto, apesar dos questionamentos da reportagem, a Polícia Militar não se manifestou sobre a omissão – relatada pelas vítimas – de PMs, que, suspostamente, teriam presenciado a esposa do militar chamando a motorista de “macaca” e nada fizeram.
No dia dos fatos, conforme noticiou o Estado de Minas, o motorista Michael Braga Machado, de 45 anos, transportava o casal em seu veículo, quando o homem e a mulher iniciaram uma discussão e, com um copo de vidro na mão, o autor começou a bater no banco do carro.
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Na ocasião, Ada de Souza Bastos, de 42 anos, uma das colegas de profissão de Michael, teria sido chamada de “macaca” pela mulher do suspeito na presença dos PMs, que, segundo as vítimas, foram omissos diante do flagrante de injúria racial. A mesma agressão verbal também teria acontecido antes da chegada dos policiais.
Suspeitos indiciados
A delegada do caso, Mariana Veiga, disse que o inquérito já foi relatado com o indiciamento da autora por injúria racial. “O autor também foi identificado, e nós estamos aguardando a conclusão do laudo pericial de dano ao veículo para encaminhamento ao Juizado Especial Criminal”, explica a titular da 6ª Delegacia de Polícia Civil, acrescentando que o suspeito também foi indiciado por agressão.
Sobre o homem ser ou não policial militar, a Polícia Civil disse que não vai se pronunciar. Tal identificação não estaria, segundo a instituição, no rol de atribuições estabelecidas nos procedimentos de polícia judiciária.
O Estado de Minas entrou em contato novamente, nesta sexta-feira (22/10), com a motorista Ada de Souza, que informou ter relatado à delegada todo o ocorrido no dia do crime de injúria. “Disse que ela me chamou de macaca na frente dos policiais e que eles não fizeram nada. Ela me orientou a procurar a corregedoria da PM para ver essa questão da omissão dos policiais diante do flagrante.”
Questionada sobre essa orientação passada à motorista, a delegada Mariana Veiga não quis se pronunciar.
O motorista Michael Braga Machado, vítima da agressão, confirmou a injúria sofrida pela colega de trabalho. “Ela foi chamada de macaca antes da chegada da polícia e também na presença deles. Eu testemunhei isso e falei durante meu depoimento”, conta.
O motorista Michael Braga Machado, vítima da agressão, confirmou a injúria sofrida pela colega de trabalho. “Ela foi chamada de macaca antes da chegada da polícia e também na presença deles. Eu testemunhei isso e falei durante meu depoimento”, conta.
Sem fornecer muitos detalhes, a assessoria da instituição policial disse que “durante os trabalhos investigativos foram ouvidos os envolvidos e as testemunhas”.
Relembre o caso
Conforme o boletim de ocorrência, o motorista de aplicativo Michael Braga Machado disse que pegou um homem e uma mulher na Avenida Sete de Setembro, na região Central da cidade, por volta das 21h30, no dia 10 de outubro.
Durante o percurso, o casal iniciou uma discussão e, com um copo de vidro na mão, o autor começou a bater no banco do carro. O motorista, então, pediu que ele parasse, pois o veículo poderia ficar danificado.
Logo, o suposto autor xingou a vítima e ordenou que ele parasse o carro – o que foi atendido por Michael. Ainda conforme o registro oficial da PM, o homem entrou em luta corporal com o motorista, deu um soco em seu rosto e chutou a porta traseira do carro, que ficou amassada. Ele também teria quebrado um dos retrovisores do automóvel.
Conforme a vítima, em relato à reportagem, pessoas que passavam pela rua interviram e seguraram o autor, o que possibilitou sua saída do local. Ao chegar em um posto de gasolina, ele acionou a polícia e seus colegas de trabalho. Segundo a ocorrência registrada pela PM, a viatura realizou o rastreamento na tentativa de localizar o suspeito, contudo não obteve êxito.
Diante do exposto pela autoridade policial, a vítima e cerca de dez colegas de profissão decidiram ir até o endereço do agressor – que foi descoberto por meio do aplicativo de corrida. “Ao chegar lá, nós fizemos contato com a PM de novo e informamos que tínhamos encontrado o local onde ele mora. Aí, cerca de oito viaturas chegaram lá. Quando questionamos o motivo de tantas viaturas, descobrimos que o agressor era policial militar”, disse Michael ao Estado de Minas à época.
“Quem for vítima, permanece. Quem não for, mete o pé! Agora! Quero que saiam daqui agora!”. Assim teria sido – conforme Michael – a abordagem inicial da PM ao visualizar o grupo na rua, próximo à residência do casal. “E assim foi feito. Nossos colegas de trabalho saíram de lá”.
As injúrias
A motorista de aplicativo Ada de Souza Bastos foi uma das colegas de profissão que, em apoio a Michael, esteve no endereço onde reside o casal. “Diante da nossa movimentação na rua, ela apareceu na janela e disse: ‘Não acredito que vocês vieram aqui!’. Então eu respondi: ‘Nós viemos para você responder pelo ocorrido’. Aí, ela começou as injúrias”, explica Ada, também em entrevista à reportagem, destacando que a mulher teria exclamado: “Sua macaca. Sai da porta da minha casa”.
“Na presença da polícia, eu falei pra ela: ‘Você me desrespeitou’. Aí, ela respondeu: ‘Chamando você de macaca? Não, você é uma macaca’. Ela falou isso na frente de todos os policiais, que não fizeram nada. O companheiro dela é amigo deles; é da polícia. Então, ficou por isso mesmo.”