A perspectiva de controle da COVID-19 se mostra promissora para o próximo ano, com o avanço na vacinação e o desenvolvimento de tratamentos para a doença. No entanto, os infectologistas que assessoram o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), na tomada de decisões avaliam que ainda não é o momento para suspender o uso de máscaras, uma das medidas mais efetivas para evitar o avanço da doença.
"Máscara é sinal de respeito. Eu te respeito, você me respeita. Eu te protejo e você me protege. A não-utilização da máscara demonstra uma falta de educação absurda", afirma o infectologista Carlos Starling.
Apesar da importância do acessório para barrar o avanço da doença, muitas pessoas, por contra própria, têm progressivamente deixado a proteção de lado. Em algumas cidades, como o Rio de Janeiro, por exemplo, o não uso de máscaras em locais abertos foi inclusive autorizado pela prefeitura.
Integrantes do comitê de especialistas da capital mineira, Carlos Starling e Unaí Tupinambás desaconselham que BH siga o exemplo da capital fluminense. Starling destaca que as decisões são tomadas com base em parâmetros científicos, ao contrário de algumas cidades que optam por regras políticas, nem sempre em consonância com as regras epidemiológicas.
"Belo Horizonte teve, segundo o Imperial College – uma instituição inglesa completamente independente – a menor mortalidade entre 14 capitais. Se as outras capitais tivessem tido a gestão da pandemia que Belo Horizonte teve, segundo esse estudo, teríamos 329 mil mortes a menos no país", afirma Carlos.
A capital deverá se orientar nos princípios epidemiológicos para definir sobre até quando será obrigatório o uso de másaras. "Nós vamos pensar em tirar máscaras quando tivermos uma situação epidemiológica estável, sustentável e sustentada por um período de, no mínimo, dez semanas. Precisamos ter uma segurança epidemiológico de que o vírus está de fato controlado", afirma Carlos Starling.
A suspensão do uso de máscaras é uma medida precoce, na avalição de Unaí Tupinambás. Ele afirma que para que isso ocorra é necessário que mais de 90% da população tenha sido vacinda, a taxa de transmissão esteja abaixo de 0,5 e a incidência menor do que 50 casos diários para 100 mil habitantes. "Belo Horizonte está caminhando para isso. A gente não pode relaxar agora não."
Os países que avançaram na vacinação e retiraram a obrigatoriedade do uso da máscara estão revendo a medida, como Israel, e o Reino Unido, que tiveram que retomar as medidas restritivas, quando o vírus voltou a circular. Os infectologistas ressaltam que as vacinas evitam a forma letal da doença, mas não evitam a transmissão. Nesse cenário, o controle da epidemia passa por um conjunto de ações: medidas de barreira, medidas de prevenção, usando vacina e tratamentos.
No entanto, ainda não há tratamentos para fazer frente à doença. "Temos vacinas e medidas de barreira, as nossas moletas neste momento e temos que mantê-las ou, caso contrário, vamos ter uma nova aceleração da pandemia".
AUMENTO DA TAXA DE TRANSMISSÃO EM BH
Nesta semana, foi registrado um aumento na taxa de transmissão viral, que saiu do verde, que indica controle, para o amarelo, de alerta. "A medida de barreira que tivemos mais importante, nesta pandemia, o uso de máscaras. Não podemos prescindir delas, seja em ambiente aberto ou fechado, por enquanto", pondera Carlos.
É necessário alcançar uma estabilidade epidemiológica, ainda distante como reforça Unaí. Letalidade, mortalidade e taxa de transmissão são alguns dos parâmetros que devem ser observados na avaliação do cenário epidemiológico, é a taxa de normalidade tem que estar acima de 90% ao longo de pelo menos dez semanas.
Uma vez que a epidemia não está sob controle nem em regressão contínua, as regras sanitárias do município devem ser respeitadas em todos os ambientes. "Não respeitar as medidas sanitárias, neste momento, significa protelar o controle da epidemia ou seja mais sofrimento e mais tempo convivendo com restrições. É um momento perigoso. As pessoas acham que a pandemia acabou, porque elas tomaram duas doses.
Carlos Starling destaca que o Rio de Janeiro registrou dez vezes mais número de mortes por COVID-19 do que a capital mineira.
"Não vale ficar de frente para o mar e de costas para a realidade", cita frase inspirada em um canção de Milton Nascimento para analisar a decisão do Rio de suspender o uso de máscaras em locais abertos.
"Não vale ficar de frente para o mar e de costas para a realidade", cita frase inspirada em um canção de Milton Nascimento para analisar a decisão do Rio de suspender o uso de máscaras em locais abertos.