Quadrilhas fortemente armadas cercam cidades e promovem assaltos de grande repercussão em várias partes do país. No mais recente episódio, ocorrido na madrugada deste domingo (31/10) em Varginha, no Sul do Estado, 26 suspeitos foram mortos. Só em Minas Gerais, foram ao menos três cidades este ano onde o chamado "novo cangaço" foi registrado. Em um período crítico, entre 2011 e 2014, foram 386 ocorrências no estado.
A expressão 'novo cangaço' surgiu no Nordeste brasileiro em 1990 por meio da mídia e foi criada para designar as quadrilhas com ações agressivas que cercavam pequenas cidades do sertão nordestino para praticar crimes 'cinematográficos'.
Ataques como esse se tornaram mais frequentes nos últimos anos, principalmente em cidades pequenas e médias do Sudeste. Investigações indicam que as ações são planejadas e também executadas por membros de facções criminosas, principalmente do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Lampião
Esse tipo de assalto - quando um grupo criminoso toma o controle de uma pequena cidade para roubar - não é novo no Brasil. No início do século passado, Lampião e seu bando de cangaceiros ganhavam a vida praticando saques semelhantes.
No final dos anos 1990, surgiu o chamado "novo cangaço", quando grupos de criminosos passaram a invadir cidades do sertão nordestino (municípios carentes de efetivo policial) para saquear bancos e carros-fortes. As ações, bastante violentas, terminavam em tiroteios e mortes de policiais e civis inocentes.
O principal líder do "novo cangaço" era José Valdetário Benevides Carneiro, que comandou dezenas de ações cinematográficas pelo Rio Grande do Norte - ele morreu em 2003 durante um confronto com a polícia.
Nas raízes do cangaço original, que consagrou figuras como Lampião na história do país, também estava um elemento de revolta contra o coronelismo, o descaso do poder público e as injustiça sociais no Nordeste. Apesar de terem deixado um rastro de morte e terror em várias cidades, eram vistos por parte da população, como heróis.
Varginha
"Posso adiantar que essa é a maior operação referente ao novo cangaço no país. Muitos infratores fariam um roubo a banco, provavelmente na data de amanhã ou hoje, e foram surpreendidos pelo nosso serviço de inteligência integrado com a PRF. Foi uma ação conjunta que resultou na apreensão de um grande armamento, além de explosivos e coletes à prova de bala que eram utilizados por esses infratores", disse, em vídeo divulgado pela corporação em rede social.
Conforme a PM, os criminosos reagiram ao cerco e atacaram os policiais. Na primeira chácara, foram mortos 18 suspeitos, enquanto outros sete foram atingidos mortalmente na segunda propriedade.
Em nota, a PRF informou que "a quadrilha possuía um verdadeiro arsenal de guerra, sendo apreendidos fuzis, metralhadora ponto 50, explosivos e coletes à prova de bala, além de veículos roubados". Os criminosos dispunham de grande quantidade de "miguelitos", pregos retorcidos usados para furar os pneus das viaturas policiais em caso de perseguição.
O tenente-coronel Flávio Santiago, do setor de comunicação da PM de Minas Gerais, disse que a intenção era prender os dois grupos de criminosos, mas houve reação. Como os policiais ocupavam uma posição privilegiada, nenhum deles ficou ferido.
"Nossos policiais correram muito risco, pois eles tinham uma arma de calibre ponto 50, usada pelas Forças Armadas e muita munição. Foi uma ação de inteligência que permitiu que nos antecipássemos aos criminosos para tomar esse arsenal", disse. Até o final da manhã, a Polícia Civil ainda não tinha os números finais da operação. (Com BBC News e Estadão Conteúdo)