Moradores do Belvedere, Centro-Sul de Belo Horizonte, se mobilizam para a criação de um parque linear às margens da linha férrea que passa pela região, na divisa com Nova Lima. Desde 2002, a área, com cerca de 50 hectares, foi, informalmente, adotada pelos moradores, que cuidam da preservação ambiental e onde já plantaram 2 mil árvores. Essa área verde, no entanto, pode ser substituída por mais prédios a depender de quem adquirir a área colocada em leilão pela União.
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Chuva forte: BH tem novo alerta de risco geológico até segunda (22/11)Não curtiu: cadelinha late para estátuas de onças-pintadas na Praça do PapaMorador de rua é morto a facadas em disputa por marmitex em BHO presidente da Associação dos Amigos do Bairro Belvedere, Ubirajara Pires, afirma que, no governo de Michel Temer, havia um entendimento de repassar a área para o governo do estado, mas esse entendimento mudou no governo de Jair Bolsonaro. "Vieram pessoas de Brasília que não conhecem Belo Horizonte. Não sabem onde está essa linha, quem foi que preservou essa área", pondera.
Como o nome indica, o parque linear segue um traçado em linha, portanto costuma ser solução urbanística ideal para margens de rios e linhas férreas, lugares com relação direta com o percurso linear. "Parques lineares podem ser feitos em áreas de preservação permanente de rios. No caso do Belvedere, estão propondo o parque nas áreas remanescentes da faixa de domínio da ferrovia, que liga a antiga mina de Águas Claras a rede ferroviária federal", afirma a arquiteta e urbanista Cláudia Pires.
A área abrange um percurso de quatro quilômetros de extensão e 70 metros de profundidade, que abrange os mananciais do Cercadinho e a Estação Ecológica. Também é uma área de preservação ambiental sob a jurisdição o Estado de Minas Gerais desde 2005.
A proposta dos moradores é que a linha férrea seja utilizada para o transporte e a faixa seja transformada em parque. O projeto do parque tem como objetivo a criação de um espaço para o lazer, preservação do meio ambiente, articulado a uma atividade de turismo. Também faz parte da proposta de criação do parque transformar os trilhos da ferrovia em atração turística, com um trem que liga o Vila da Serra a Inhotim, em Brumadinho.
De outro lado, existe a proposta de estender o parque imobiliário de Nova Lima para aquela região. No entanto, a arquiteta e urbanista destaca os danos que essa proposta pode trazer ao meio ambiente. "Não é uma boa coisa. Ali temos o maciço do Espinhaço, numa parte muito frágil dele, onde está a Serra do Curral, que é tombada pelo patrimônio artístico nacional, pelo Iepha e pelo município de Belo Horizonte", afirma Cláudia Pires, que é coordenadora da comissão de política urbana do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).
Ela reforça que a área tem interesse histórico, cultural e ambiental. "Não tem cabimento em transformar essa gleba em área de expansão do mercado imobiliário da região do Vila da Serra e Belvedere. Não traz benefício para população, pois beneficia, e muito, o mercado imobiliário", completa.
Cláudia dá como exemplo de bom uso de espaços remanescentes de ferrovia o parque linear criado na antiga linha férrea no Bronx em Nova York. "Com o parque você atrai o interesse dos ambientalistas, do pessoal que preserva a Serra, quem defende a cultura do trem ferroviário", diz. Ela ressalta que a malha ferroviária em Minas, com exceção da linha que liga a Vitória, é usada apenas para o transporte de minério, quando poderia ser também uma opção para passageiros.
A região tem vegetação de campo limpo, transição entre Cerrado e Mata Atlântica. A área está conectada à Estação Ecológica do Cercadinho. "Ao fazer o parque linear, é possível fazer a conexão entre a estação ecológica e o parque. Isso colabora para a compreensão da importância da reserva do ponto de vista de geração da água para Região Metropolitana, mais especificamente para Belo Horizonte", Cláudia Pires.
Os moradores do Belvedere fizeram uma mobilização pela construção do parque em 6 de novembro. "As associações de moradores do Belvedere tomam conta dessa área desde 2002, inclusive participamos do projeto de criação da Estação Ecológica. Viemos tomando conta para evitar invasões para preservar e criar o parque. Agora tivemos essa informação desastrosa para a cidade de Belo Horizonte", afirma Ubirajara.
O parque teria espaço para a prática de esportes, como a corrida, também para bicicletas e outras atividades ao ar livre. Ubirajara destaca a necessidade de se ter mais áreas verdes na cidade. Ubirajara lembra que se a área for leiloada quem adquirir deverá seguir as determinações de preservação ambiental.