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Estado de Minas FOLIA DE MOMO 2021

Carnaval em BH: esse ano não vai ser igual àquele que passou?

Avanço da imunização e flexibilização do distanciamento aumentam expectativa sobre a folia em BH. Mas prefeitura não deve patrocinar eventos


21/11/2021 04:00 - atualizado 21/11/2021 07:14

Ensaio do bloco de carnaval Samba Queixinho, debaixo do Viaduto Santa Tereza, no Centro de Belo Horizonte
Unidos do Samba Queixinho vem retomando as atividades ainda de forma tímida, com uso de máscara e outras medidas preventivas contra a COVID-19 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Com o avanço da vacinação contra a COVID-19 e o relaxamento das regras de distanciamento, os foliões já se perguntam: “Afinal, vai ter carnaval no ano que vem?”. O problema é que ninguém tem ainda resposta na ponta da língua.

Leia também: Kalil sobre carnaval em BH em 2022: Prefeitura não vai patrocinar

O que se sabe até agora é o que informa o calendário: o recesso está programado para ocorrer entre 26  de fevereiro e 1º de março, mas folia, que é bom, ninguém sabe se vai mesmo acontecer.

Apesar de os desfiles das escolas de samba e as saídas dos blocos tradicionalmente ocorrerem nos primeiros meses do ano, os preparativos se desenrolam durante o ano inteiro. E, para 2022, após o cancelamento da folia em 2021 devido à pandemia, os organizadores reclamam da falta de apoio de autoridades e empresas privadas neste momento de incerteza.

Alguns até voltam a ensaiar de forma tímida, mas as opiniões se dividem sobre a possibilidade da folia em fevereiro. Eventos particulares, porém, já iniciaram a venda de ingressos.

Na última sexta-feira (19/11), o prefeito Alexandre Kalil (PSD) anunciou que o carnaval de Belo Horizonte em 2022 não terá apoio de verba pública municipal. Ele deixou claro o cuidado com a movimentação espontânea, mas sem “patrocinar” eventos.

“A prefeitura dá, quando você vai passear na Lagoa da Pampulha, a Guarda Municipal, trânsito, cuidado, tudo o que tiver de espontâneo é obrigação da prefeitura cuidar da população. Ponto final, é isso. Não adianta, que a prefeitura não vai patrocinar carnaval, não vai patrocinar nada”, disse, em entrevista coletiva na Prefeitura de BH.

Na semana passada, a prefeitura unificou as regras para funcionamento das atividades econômicas na cidade, por meio do Decreto 17.763. O texto reuniu normas dispersas em inúmeros atos publicados durante a pandemia, além de ter flexibilizado e simplificado a normatização para vários setores.

Apesar da melhora de cenário que motivou mais esse relaxamento, a administração, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que não é possível prever a situação epidemiológica para fevereiro de 2022. “O que se pode afirmar, a princípio, é que se o carnaval fosse hoje, não seria possível a realização do evento na cidade”, completou, em nota enviada na semana passada.

As flexibilizações no município são realizadas de acordo com o Matriciamento de Risco, medido pela combinação de incidência de COVID-19 a cada 100 mil habitantes, a taxa de mortalidade (que se reflete na pressão sobre o sistema de saúde) e sua tendência, os índices epidemiológicos da doença, além das taxas de transmissão e letalidade, ocupação de leitos e progressão da vacinação no município. Mas a prefeitura ainda não tem parâmetros necessários para a possível liberação segura da grande festa.

O tema foi discutido em audiência pública na Câmara Municipal de BH, semana passada. O objetivo foi ouvir a opinião de representantes dos blocos de carnaval e escolas de samba da capital mineira sobre a realização da festa em 2022. Em função dos protocolos sanitários e falta de recursos municipais, também é incerta a manutenção dos incentivos financeiros para a festa. Representantes dos blocos defendem a necessidade da participação da população no planejamento e nas decisões sobre a folia.

Ensaio do bloco de carnaval no Centro de Belo Horizonte
Mesmo quem já deu início aos ensaios ainda não tem segurança de que a festa vá ocorrer (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Baterias e foliões em compasso de espera

Sem definições, os blocos não deram largadas aos preparativos, ou retomaram as atividades de forma tímida. O Chama o Síndico, que homenageia Tim Maia, não iniciou os ensaios. “Não retomamos, já que não há nenhuma sinalização da prefeitura quanto à realização do carnaval de rua”, disse a produtora Renata Chamilet, na semana passada, antes das declarações de Kalil.

O grupo funciona em duas frentes: a banda e o bloco, ambos suspensos devido à pandemia. Eles optaram por não promover nem lives, pois só a banda e equipe técnica já seria uma pequena aglomeração de 15 pessoas. “Estamos voltando aos poucos com a banda. Com o esquema vacinal completo de toda a equipe e testes de COVID-19 antes dos eventos, ficamos mais seguros”, completou.

Os ensaios do bloco Unidos do Samba Queixinho estão sendo retomados ainda de forma tímida. “Temos de tomar todos os cuidados necessários para o momento, fazendo ensaios às terças e quintas. A vontade das pessoas é muito grande de fazer carnaval”, observou Gustavo Caetano, integrante da organização. Já houve esquenta embaixo do Viaduto Santa Tereza, em frente à Serraria Souza Pinto, no Centro da capital, com medidas como uso de máscara, respeitando as normas sanitárias contra a COVID-19.

Já os preparativos dos blocos produzidos por Ana Cecília Assis, entre eles o Sagrada Profana, ainda não começaram. “Os ensaios, pelo menos dos blocos que eu produzo, ainda não estão ocorrendo. Entendemos que ainda estamos em um processo de pandemia e que aglomerar pessoas não é interessante, apesar de a grande maioria dos integrantes dos blocos já ter tomado a segunda dose da vacina”, disse.

Ela também se mostra preocupada com a situação da pandemia no mundo e as perspectivas para fevereiro. “Acreditamos que a prefeitura esteja observando, como nós. Ainda vivemos um momento preocupante, vemos uma quarta onda em países europeus e o aumento dos casos na China. O carnaval é a maior festa do mundo. Entendemos que as fronteiras vão estar abertas e que isso também é um risco para nós”, disse.

Além do mais, acrescenta, integrantes dos grupos entendem a ocupação de espaços públicos como um ato político. “Colocamos nosso corpo político na rua, e queremos dizer muitas coisas além de somente brincar o carnaval. Então, não retomamos ainda, estamos receosos e em observação. Esse tempo em que ficamos reclusos nos ensinou muita coisa, inclusive a ter paciência”, acrescentou.

O bloco Babadan também aguarda sinalização mais concreta. Segundo Juventino Dias, da organização, a articulação para o carnaval não pode ser construída abruptamente. “Nossa esperança é que, caso seja liberado, seja dentro das regras sanitárias e que o município possa garantir aos blocos estrutura, fomento e segurança a todos os foliões”, enumerou, antes do anúncio da prefeitura de sexta.

“Estamos aguardando a prefeitura, que precisa se posicionar o quanto antes sobre se haverá ou não o carnaval, porque precisamos de planejamento e fomento para botar o bloco na rua”, acrescentou. “Estamos sem dinheiro para isso.”

Falta de apoio público  e privado é criticada

Uma das principais pautas levantadas pelos blocos é a falta de auxílio por parte da prefeitura e de empresas privadas. A Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) divulga anualmente um edital para artistas e grupos musicais se apresentarem no carnaval da cidade. Em 2019, por exemplo, músicos regionais, com atuação comprovada fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte, receberam R$ 7 mil. Já os artistas locais, R$ 3,5 mil.

“É uma iniciativa importante, mas que não abrange nem o montante necessário e muito menos contempla todos. No entanto, acho prematuro falar de edital, já que ainda não há a confirmação da festa”, disse Renata Chamilet, do Chama o Síndico.

Para além da festa, Renata e Gustavo Caetano, do Samba Queixinho, ressaltam que a não realização do carnaval afeta uma parcela da população que tem no evento uma alternativa de renda importante. “Infelizmente, não houve nenhuma espécie de ação da prefeitura e do governo no sentido de amenizar essa necessidade financeira. Mas é importante que se diga que tampouco houve um acolhimento, um apoio moral para a gente lidar com a pandemia”, disse Renata.

Segundo os organizadores dos blocos, as empresas privadas que são afetadas e têm interesse direto no carnaval tampouco se manifestaram. “Encaramos como um absurdo, uma omissão por parte das empresas privadas que faturam altíssimo durante carnaval, como cervejarias, transporte por aplicativo, aplicativo para pedir comida, empresas de aviação e de ônibus, rede hoteleira, drogarias...’’, enumerou Gustavo.

“É importante pensar a partir de agora de que forma fazer essas empresas entenderem que têm que ser parceiras da gente para que ocorra uma festa maravilhosa e grandiosa, como é o carnaval de rua de Belo Horizonte, reconhecido como um dos maiores carnavais do país”, acrescentou.

Festas particulares 

Eventos  privados têm sinal verde para 2022 e, para alguns blocos, significam  uma importante atividade econômica. “Mas vale destacar que essas festas não representam totalmente o nosso carnaval. São um complemento, mais uma opção. Não devem ser o único destino do carnaval, que tem a rua como principal palco”, disse Renata Chamilet.

Eventos como o Carnaval no Mirante já começaram a vender ingressos. Mas chama a atenção o fato de que nenhum bloco da cidade integra a lista de apresentações. Os tíquetes vão de R$ 70 a R$ 300 para curtir atrações nacionais. Houve até congestionamento no site no momento em que as vendas foram abertas.

Segundo a organização, o evento seguirá as normas exigidas pelo município e só será permitida a entrada com apresentação do cartão de vacinação que comprove esquema de imunização completado pelo menos 15 dias antes da data. Quem não tiver as duas doses ou a dose única poderá apresentar teste negativo para COVID-19, feito no máximo 72 horas antes. Ainda de acordo com a organização, na entrada haverá aferição de temperatura e disponibilização de álcool em gel.


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