Jornal Estado de Minas

TRANSPORTE COLETIVO

Greve em BH: segundo dia tem protesto e poucos ônibus nas estações

A greve dos trabalhadores do transporte rodoviário de Belo Horizonte entra no segundo dia nesta terça-feira (23/11) com mobilização nas estações e poucos ônibus. Passageiros continuam enfrentando dificuldades nesta manhã. 





Segundo balanço da BHTrans, da meia-noite às 6h de hoje, apenas 30,8% das viagens programadas foram realizadas. O número de viagens no intervalo é maior do que o registrado no início da manhã de ontem. Entre 5h e 6h desta terça, as porcentagens por estação foram as seguintes:

José Cândido: 67%
Vilarinho: 58%
São José: 50%
São Gabriel: 47%
Venda Nova: 40%
Pampulha: 29%
Diamante: 3%
Barreiro: 0%
Demais linhas: 33%

No entanto, a partir das 6h, sindicalistas e trabalhadores que aderiram à greve passaram a atuar nas estações para impedir as viagens, de acordo com a BHTrans. Conforme o Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH), por volta das 6h40, manifestantes bloqueavam a pista do Move na Estação Pampulha. Há relatos de internautas de que os passageiros eram orientados a desembarcar antes de entrar no local. 

Catracas da Estação São Gabriel ganharam fitas zebradas para impedir a entrada (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

Passageiros são orientados a usar o metrô (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Na Estação São Gabriel, o sindicato orientava os motoristas a pararem e levar os ônibus para a garagem. As catracas, que já contavam com avisos informando sobre a quantidade reduzida de coletivos e orientando o embarque no metrô, ganharam fitas zebradas hoje. Quem entrar, pode ficar sem transporte para seguir ao seu destino ou voltar para casa. 

Na Estação Barreiro, segundo o COP-BH, a bilheteria estava praticamente sem movimentação. Apenas um ônibus da linha 6350 (Estação Vilarinho/Estação Barreiro) havia passado mais cedo. 





Já na Estação Venda Nova, por volta das 6h, policiais militares e guardas civis municipais acompanhavam a movimentação. Ônibus da linha 61 (Estação Venda Nova/Centro) circulavam precariamente.

Estação Diamante, na Região do Barreiro, vazia nesta manhã (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)


Pouco antes das 8h, a empresa de trânsito divulgou um novo levantamento, informando que, das 6h às 7h, 35% das viagens foram realizadas. A menor porcentagem de viagens realizadas hoje em relação às programadas continua a ser registrada nos terminais de ônibus que atendem a região do Barreiro. Nesse sentido, as maiores são em Venda Nova, Leste e Nordeste. Confira abaixo:



Transtornos na segunda-feira

Um dia com enormes transtornos na saída para o trabalho e novos tumultos na volta para casa. Quem depende do transporte público em Belo Horizonte viveu ontem um cenário de caos e dificuldade por causa da grave, que teve início durante a madrugada. Depois de reunião virtual com representantes das empresas de ônibus e com a prefeitura de BH, mediada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte (STTRBH) optou pela manutenção do movimento hoje, o que pode afetar ainda mais a vida dos belo-horizontinos.

Embarque em ônibus na Afonso Pena: depois de uma manhã complicada, a volta para casa também exibiu paciência parar enfrentar filas e veículos lotados (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)


Outra reunião com a mesma pauta está marcada para esta tarde, a partir das 14h30, em nova tentativa de negociação para a categoria. Os trabalhadores reivindicam reajuste salarial de 9% (INPC mais as perdas dos últimos anos), tíquete-alimentação de R$ 800, o pagamento do tíquete em caso de afastamento médico, remoção do banco de horas e o abono salarial de 2019 e 2020. A retirada da limitação do passe livre, manutenção do passe livre para o afastado e melhorias no plano de saúde também fazem parte da negociação.





A diretoria do STTRBH informou que o movimento grevista permanece por tempo indeterminado e, por isso, a escala mínima de circulação do transporte público deve ser mantida. "O sindicato reafirma a importância de os trabalhadores cumprirem as determinações judiciais, inclusive quanto à escala mínima, a fim de garantir que nossa greve seja realizada dentro da legalidade", pontuou Paulo César da Silva, presidente do STTRBH.

Na sexta-feira, o desembargador Fernando Luiz Gonçalves Rios Neto, 1º Vice-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 3ª Região, determinou que pelo menos 60% da frota circulasse ontem em BH, com multa de R$ 50 mil em caso de descumprimento da norma. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) entrou com recurso na Justiça.

Mas, ao longo da manhã de ontem, os intervalos entre os ônibus chegavam a duas horas e meia. A Estação Vilarinho, por exemplo, operou com apenas 30% da frota na faixa das 6h, no horário de maior movimentação nas estações. Por sua vez, Venda Nova teve 26% dos veículos à disposição e São Gabriel e Pampulha contaram com apenas 22% e 20%, respectivamente, no horário. A grave teve adesão total na Estação Diamante, que não teve nenhum ônibus rodando no início da jornada de trabalho.





O presidente da BH Trans, Diogo Prosdocim, admitiu que nenhuma das empresas cumpriu o acordo de manter o mínimo de frota exigida pela Justiça. “Isso virou uma questão que será dialogada na Justiça e vai acabar se tornando uma determinação judicial. Não estamos levantando nenhuma possibilidade, até porque o reajuste ocorre no final do ano, a partir do dia 26 de dezembro. Então, mesmo numa situação de normalidade, isso seria discutido apenas em dezembro", ressaltou o presidente da BHTrans.

Custo


Por sua vez, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Público de Belo Horizonte (Setra-BH), Raul Leite, afirmou que o aumento dos salários é inviável diante dos altos custos que a operação exigiria: “Entendemos o mérito do pedido dos empregados, sabemos que nossa força de trabalho é dedicada e competente, trabalhando com gana nessa pandemia. Eles merecem um aumento. Mas se aumentássemos 10% em cima de R$ 35 milhões, que é a folha de pagamento, iríamos para R$ 38,5 milhões ou R$ 39 milhões. Não fecharia a conta. Entraríamos em modo de autodestruição”.

Ele salientou que a Prefeitura de BH não autorizou o reajuste das passagens, que hoje custam R$ 4,50 (o último ocorreu em 2019), algo considerado fundamental para uma tentativa de acordo com os trabalhadores. Na semana passada, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) afirmou que a tarifa não teria aumento em 2021. “Precisamos buscar novas receitas extratarifárias, que poderiam ser de publicidade ou estacionamento rotativo ou multas de trânsito, tudo isso em benefício dos mais pobres que hoje pagam R$ 4,50. Se isso pudesse ser implementado, como em outras cidades, a tarifa poderia ser reduzida ou mesmo se manteria”, sugere Leite.




Déficit


O Setra-BH alega déficit operacional. Segundo cálculos da entidade, com base em outubro deste ano, com o transporte de 20 milhões de passageiros, com tarifa média de R$ 3,20, a arrecadação é de R$ 64 mil. Desse total, R$ 27 milhões foram para o diesel. Contando com a folha de pagamento, de R$ 35 milhões por mês, sobram, segundo o Setra-BH, R$ 2 milhões para impostos e outras obrigações, que vão da manutenção dos ônibus às garagens.  

Tumulto


A falta de ônibus mudou radicalmente a rotina dos belo-horizontinos, que desejavam chegar ao trabalho. Vários deles, sem ônibus, saíram da estação e buscaram outras soluções para chegar ao destino. É o caso de Franciele Caldeira, de 37 anos, que não conseguiu transporte para ir até a Savassi, Região Centro-Sul da cidade. "A gente até sabia que ia ter a greve, então não pegou muito de surpresa. Fui até a estação para ver se realmente iria ocorrer. Nosso patrão já até tinha conversado que, qualquer coisa, a gente podia pegar o transporte por aplicativo. Foi o que eu fiz", disse a atendente de clientes.

Já o vigia Roneison Ricardo de Souza, de 55, se mostrou persistente e conseguiu embarcar num ônibus depois de chegar às 5h, à estação em Venda Nova. Mesmo assim, ele se espremeu num veículo totalmente lotado para chegar ao destino. "Por conta da greve, me informaram que a linha 62, que eu pego, não passaria. A linha 61 foi a única que me atendeu, mesmo assim pela metade”. Ele concordou com a movimentação grevista, mas disse que é injusta com o trabalhador: "Apoio, acho justo reivindicar, está na lei, mas acho que eles deveriam pensar no cidadão. É a gente quem paga o pato".

Um dos motoristas que trabalharam normalmente disse que o ato é totalmente válido num momento de dificuldade financeira: "Tem a porcentagem que tem que trabalhar, fiquei sabendo que são 60%, mas não sei se realmente é esse número. É uma movimentação legítima, eu apoio, digo que é legítima pois é meu salário. Não sei a situação das empresas, mas está difícil para a gente", comentou o condutor, que preferiu não se identificar. Vários ônibus tiveram pneus furados para evitar a partida das garagens.





Socorro e lucro


Outra parte importante da greve são os motoristas de aplicativos, que "socorrem" os usuários de ônibus e, ao mesmo tempo, lucram. Gilmar Maia, de 49, aguardava um passageiro na Estação Venda Nova e comentou que o movimento está bom. “Sempre trabalho pela manhã e saio às 7h. Hoje saí um pouco mais cedo e já tive retorno. Normalmente, tenho quatro corridas pela manhãzinha. Só até aqui já foram oito, com preço de 40% a 60% maior. A gente lamenta toda a situação, mas também precisamos trabalhar e prestar nosso serviço, que é mais do que legal", disse.

A greve encheu o metrô, com menos capilaridade que o transporte público municipal, por ter somente uma linha. Na Estação Vilarinho, a movimentação foi intensa e chegou a ser até maior que a parte exclusiva dos ônibus.

No começo da noite, também houve tumulto nas principais ruas da capital. Um veículo da linha 4107 chegou a ter o embarque também pela parte traseira. O motorista desligou os motores devido à impossibilidade de fechar as portas em meio à intensa aglomeração. Também houve bastante aglomeração em Venda Nova, Vilarinho e no Barreiro. *Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho

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