Jornal Estado de Minas

SUFOCO

Greve dos rodoviários em BH provocou efeito cascata no comércio



Foi apenas um dia e meio de greve dos funcionários do transporte público de Belo Horizonte, mas o bastante para causar transtornos aos milhares de trabalhadores de outros setores e também para os vários estabelecimentos comerciais. Numa economia totalmente dependente dos meios de transporte, os empresários foram bastante afetados na capital, com perda de mão de obra ou mesmo pela queda repentina no faturamento das lojas.




 
A Padaria Pampulha, uma das principais da região homônima, teve queda de receita de 50% na segunda-feira e ontem. Segundo a coordenadora Márcia Vieira, o movimento caiu bastante, porque muitas pessoas deixaram de frequentar o local. Além disso, dois funcionários que moram em Santa Luzia não chegaram a tempo de trabalhar. “Ontem (segunda-feira), tivemos mais problemas, porque muita gente se atrasou. Mas, hoje (terça-feira), o prejuízo foi menor. Estávamos até sabendo da greve, mas tem um momento que ela nos pega de repente. E pagar transporte por aplicativo neste momento torna-se mais caro e não compensa”.
 
O Sacolão Real, na área central, teve perdas ainda mais significativas. Segundo o gerente Carlos Cabrera, houve perda de 30% no quadro de funcionários e em torno de 60% na receita esperada nos dias de movimento. “Acordamos cientes da greve, mas não acreditávamos que ela persistiria. No nosso caso, ela nos afetou muito negativamente. As pessoas ficam mais em casa, com medo, e não vão às compras. Agora, estamos mais preparados, trabalhando com menos gente para adequarmos à nova situação, e esperando que o movimento volte ao normal aos poucos. Esperamos que a greve não persista durante muito tempo”, afirma o funcionário.
 
A loja Daju Moda Plus Size contou com apenas uma funcionária ausente, que não conseguiu se locomover do Barreiro até a Savassi. Apesar disso, o prejuízo foi enorme. A proprietária do estabelecimento, Juliana Gouveia, disse que houve nítida queda nas vendas. “Temos uma grande demanda em toda a região e sentimos muito a perda de faturamento em um único dia. A greve nos afeta, proprietários, e o trabalhador que falta ao trabalho, já que ele não recebe pelo dia que ficou em casa. Não vejo solução aparente senão esperar tudo passar”.




 
Para não prejudicar o serviço dos dias de greve, o restaurante Cantina da Vera, no Centro, adotou solução emergencial: buscar em casa os trabalhadores que dependem do transporte público. Apesar disso, vários deles tiveram pequenos atrasos. "O primeiro dia de greve foi mais conturbado. Até optamos por fazer menos comida, já imaginando que o restaurante teria queda de movimento. Mas, pelo contrário, o movimento foi bom e até faltou almoço para algumas pessoas. Pelo menos isso”, conta o gerente-comercial do restaurante, Douglas Santos.
 
Segundo ele, vários restaurantes da região não abriram, justamente pela ausência de vários funcionários, o que ajudou a ter movimento interessante. “Nós atendemos muitas pessoas na região e funcionários do Mercado Central. Então, por isso, a clientela não teve queda”, afirma.

O setor de bares e restaurantes já vinha sendo afetado antes mesmo da greve, em virtude da redução do quadro de horários dos ônibus durante a pandemia – muitos deles deixaram de circular à noite. Por isso, recentemente, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG) iniciou os diálogos com a prefeitura para ampliar a frota de veículos no período noturno, para que mais funcionários que dependem do transporte pudessem trabalhar.






Força-tarefa

 
A CNR Materiais de Construção, na Avenida dos Andradas, fez uma força-tarefa para que o trabalho não fosse prejudicado nos dias de greve. Vários funcionários trabalharam a mais para compensar a ausência dos demais. “Dos nossos 13 funcionários desta loja, apenas um não conseguiu vir na segunda-feira. Outros tiveram atrasos. Mas nós nos organizamos para que tudo desse certo”, afirma o vendedor Valdemir Nunes.
 
Apesar do incômodo, o movimento nos dias não caiu, segundo ele. “Boa parte dos nossos clientes vem de carro para fazer compras”, afirma. No entanto, o funcionário, que recorreu ao metrô para ir trabalhar, considera que a greve dos trabalhadores do transporte público leva BH ao caos. “Tudo isso atrapalha, porque muita gente depende dos ônibus e não conseguiu trabalhar. Infelizmente temos de lidar com isso”.

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