A folia ainda está incerta em Belo Horizonte e em várias cidades mineiras, enquanto outras já cancelam a festa. Na segunda-feira, o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da capital recomendou que a prefeitura não patrocine o carnaval nem o ano-novo, além de desaconselhar a população a participar de eventos com grandes aglomerações. Enquanto isso, blocos de rua, hotéis e outros setores que são beneficiados pela festa lamentam a decisão. Mas os infectologistas reforçam: é preciso cautela.
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O médico infectologista Estevão Urbano, um dos quatro integrantes do Comitê de Enfrentamento à Pandemia de COVID-19, aponta os perigosos da folia. ‘’O principal motivo é a possibilidade de pessoas contaminadas, não testadas, sem vacinação e não identificadas como tal – o que pode acontecer em eventos abertos – irem para a folia e transmitirem (a doença) para dezenas pessoas. E isso acontecendo de forma repetida pode causar uma explosão do número de casos na cidade. Cada capital deveria fazer a sua parte’’, diz.
Mas ainda não há decisão se as festas serão proibidas na cidade. Por enquanto, a expectativa do comércio é de receber foliões em BH, mas ainda há receio de que o Carnaval seja proibido. O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (SindiHBares) contabiliza pelo menos 30% de reservas já confirmadas na hotelaria.
“A gente recebe a notícia (da recomendação do Comitê) com muita tristeza e preocupação. Várias agências de viagens já tinham comercializado pacotes de reserva para o carnaval. As tarifas já estavam sendo divulgadas para os turistas durante os cinco dias previstos”, lamenta Paulo Pedrosa, presidente da entidade, que ainda criticou a falta de investimento na folia. “O coronavírus é uma preocupação que todo mundo tem, mas você vai ao Mineirão com 60 mil pessoas, puxa vida… Carnaval é uma festa popular. Estou ouvindo que centenas de prefeituras não vão investir”, reclamou.
Pedrosa está confiante em relação à presença do público em 2022. A previsão é de cerca de 2 milhões de pessoas nas ruas entre 26 de fevereiro e 2 de março do ano que vem, mesmo sem apoio da prefeitura. “O Kalil (prefeito) falou que não pode proibir o folião de ir pra rua, então a prefeitura tem que montar estrutura. Banheiro, policiamento, organização tem que fazer. O folião vai pra rua, não adianta impedir. O que a gente recomenda é que a pessoa ande com o cartão de vacina e a máscara tem que ser obrigatória”, opinou.
Nos últimos anos, o movimento na capital cresceu e a cidade virou polo turístico em fevereiro. O temor fica com a possibilidade de proibição da festa que arrasta multidões. “Temos um dos melhores carnavais do Brasil, sem violência. Se acontecer de proibir... é uma palavra muito dura. O impacto é violento, vai ser desesperador para a hotelaria”, diz o presidente do SindiHBares. “Tenho esperança que vai ter carnaval sim. Não podemos radicalizar uma festa popular”, conclui.
O que dizem os blocos?
Geo Cardoso, da Liga Belorizontina de Blocos Carnavalescos, sustenta que boa parte dos organizadores de blocos de rua não querem carnaval a todo custo. ‘’A palavra final deve ser da autoridade sanitária. Mas acredito que a orientação do comitê é precipitada para encobrir a falta de planejamento da PBH sobre o carnaval, diferentemente do que fizeram outras cidades com grandes festas’’, disse.
Se em fevereiro os índices da pandemia foram desfavoráveis, ele acredita que nenhum grande bloco vai ser irresponsável de querer ir para a rua. ‘’Ainda mais sem condições favoráveis, sem apoio ou subsídio e patrocínios, já que o prazo ficou curto para prospectar dinheiro diretamente na iniciativa privada.’’
Heleno Augusto, organizador do Bloco Havayanas, diz que, no atual cenário, o bloco não vai sair por questões sanitárias, primeiramente, e por problema financeiros. ‘’O que gostaríamos que acontecesse é que os representantes do poder público – Belotur e Prefeitura de Belo Horizonte – ampliassem o diálogo com as trabalhadoras e trabalhadores do carnaval para criação de editais de subvenção, captação de recursos e a construção de cenários para que fosse gerada renda para essas pessoas, bastante afetadas pela pandemia’’, defendeu.
Geo afirma que os impactos já foram sentidos no carnaval deste ano, quando a Prefeitura de Belo Horizonte, diferentemente de outras cidades com grandes festas no Brasil, não lançou mão de nenhum edital financeiro exclusivo de socorro aos trabalhadores do carnaval. ‘’Temos de pensar a festa como o maior evento do ano da cidade, como uma grande economia criativa que já dá mais de R$ 1 bilhão de retorno em impostos e movimentação financeira, que aquece o mercado, com geração de emprego e renda em diversos elos da cadeia: bares e restaurantes, hotelaria, transporte, comércio, serviços, etc’’, disse. “O que se desenha é que tudo que construímos com muito esforço a várias mãos em cerca de 10 anos pode sumir com o abandono dos trabalhadores do carnaval pelo segundo ano consecutivo.
Enquanto isso, parte dos blocos se planeja para os eventos particulares. ‘’A banda do Bloco Havayanas está se preparando para fazer shows em eventos fechados com controle de acesso e a bateria em breve começa a fazer oficinas em local controlado também’’, disse Heleno.
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