Tema principal de um grupo de trabalho formado pelo Ministério Público de Minas Gerais, Governo de Minas e as prefeituras de Belo Horizonte e Nova Lima, o conjunto de intervenções de mobilidade proposto nas duas cidades já causa polêmica. Moradores do Belvedere, na Região Centro-Sul da capital, são contrários à construção de ruas e avenidas numa área verde por onde passava uma antiga linha férrea federal e defendem a criação de um parque natural.
Embora ainda não tenham saído efetivamente do papel, as obras viárias foram as primeiras ideias para desafogar o trânsito da região, que costuma ser caótico nos fins de tarde. Na área com cerca de 50 hectares, estão previstas a construção de uma grande avenida e a criação de ruas para desviar o fluxo de carros, permitindo maior fluidez na via de acesso a Nova Lima.
Na quarta-feira (24/11), o governador Romeu Zema (Novo) e os prefeitos de BH, Alexandre Kalil (PSD), e de Nova Lima, João Dieguez (Cidadania), se reuniram com representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para definir ações práticas para solucionar o problema. Não houve apresentação de nenhuma ideia concreta, mas a própria prefeitura de Nova Lima já havia sinalizado com a possibilidade de criar vias na área para pôr fim aos congestionamentos na região.
A área verde é usada desde meados de 2002 por moradores do Belvedere para caminhadas e como local de preservação ambiental, onde já foram plantadas mais de 2 mil árvores. A Superintendência de Patrimônio da União (SPU), órgão vinculado ao Ministério da Economia, anunciou neste mês o leilão de 19 glebas entre Belvedere e Vila da Serra para empresas do ramo imobiliário, aspecto que também não agradou quem vive no Belvedere. Ainda não há edital aberto para a venda de imóveis da União em Minas.
Luta pelo verde
O presidente da Associação de moradores do Belvedere, Ubirajara Pires, diz que Belo Horizonte e Nova Lima merecem um parque natural. “A União tem o seu ponto de vista e nós conversamos há anos com eles. É claro que o presidente da República não sabe o que significa essa área para os moradores de Belo Horizonte, do ponto de vista da preservação ambiental e das águas, que atende 120 mil pessoas e vários hospitais. Qual é o interesse em fazer ruas e construir mais prédios? Estamos lutando pela manutenção de uma área verde, que BH praticamente não tem mais”.
A área que pertence à União abrange um percurso de quatro quilômetros de extensão e 70 metros de profundidade, que abrange os mananciais do Cercadinho e a Estação Ecológica. Também é uma área de preservação ambiental sob a jurisdição o Estado de Minas Gerais desde 2005.
Um dos primeiros projetos de ocupação é de uma Associação de Empreendedores de Nova Lima, que propôs fazer uma via expressa, ligando a BR-356 à Mata do Jambreiro depois da sede da Vale, com o intuito de dar acesso viário àquela região e, portanto, abrir oportunidades para vários empreendimentos imobiliários.
Em seguida, surgiram as primeiras conversas sobre ocupar a área compreendida entre a rotatória da Via de Ligação e a da MG-030 com um parque, recuperando a fauna e a flora locais. Em 2016, nasceu um movimento popular na comunidade do Belvedere, inspirado no High Line de Nova York, onde moradores transformaram em parque a linha suspensa de trem que servia ao porto do Rio Hudson, o que revitalizou toda a região. Há também a ideia de se instalar um trem turístico ligando a região ao Inhotim, em Brumadinho.
“A ideia original do grupo de moradores é fazer com que a União doe a área para as prefeituras para que os moradores (empresários e associações) fizessem a manutenção. Algumas pessoas doaram projetos para que a área tivesse a forma desejada. O lugar é maravilhoso, um dos poucos dentro da cidade que ainda mantém a peculiaridade de ser uma área bonita e de grande visibilidade”, ressalta o advogado Erasmo Cabral, morador do Belvedere.
Para o engenheiro civil Marcelo Souto, que vive no bairro há vários anos, o projeto deveria ser discutido com a comunidade. “Ele não pode ser empurrado desta forma. O projeto já foi apresentado há muito tempo pela Associação do Belvedere e foi abraçado por outras instituições. A comunidade cada vez mais tem apoiado. Deveria ser mais discutido. Vai haver um impacto de desmatamento muito grande”.
Segundo o engenheiro, que participou da criação do projeto de transformação da área em preservação natural, existe uma parceria com a iniciativa privada para administrar e investir no local. “Há empresas que se interessam em financiar um projeto de visibilidade cultural e social. E não teria investimento público nenhum. Temos empresas e instituições querendo ajudar para que ele se torne realidade”.
Melhor alternativa
Em contato com o Estado de Minas, a prefeitura de Nova Lima alegou, em nota, que o grupo técnico vai propor a melhor alternativa para o problema. “A destinação desses terrenos como solução de mobilidade para a região será amplamente discutida com a Superintendência de Patrimônio da União (SPU)”.
A reportagem também entrou em contato com a prefeitura de Belo Horizonte e o Governo de Minas. Tão logo as administrações se manifestem, este texto será atualizado.