Na Estação Venda Nova, situada na Rua Padre Pedro Pinto, o intenso barulho de motores de veículos e catracas girando deu lugar ao canto de passarinhos na manhã desta quinta-feira (2/12).
Entre meia-noite e 9h, a estação ficou praticamente vazia. Segundo a Empresa e Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), só 4% das viagens previstas partiram do local nesse período, reflexo da greve dos rodoviários, deflagrada esta madrugada.
O interior e a garagem do ponto de embarque estavam completamente desertos por volta de 9h30. À beira das catracas, alguns passageiros ainda aguardavam a chegada de coletivos. A espera da massoterapeuta Sabrina Araújo já dura mais de três horas.
"Trabalho na Savassi. Cheguei aqui às 6h. Acabei de mandar uma mensagem para os meus patrões perguntando se devo seguir esperando ou se volto para casa. Sem chance de eu pegar carro de aplicativo. A corrida está o triplo do preço, quase R$ 100", relata a usuária.
A auxiliar de serviços gerais Camila Bianca saiu bem cedo de casa, às 4h, para evitar chegar atrasada ao trabalho. A estratégia não funcionou.
"Acordei as 3h40, saí as 4h, mas só consegui ônibus para chegar até a Estação Venda Nova às 5h20. Cheguei aqui as 6h30 e não tinha ônibus. Meu expediente começa as 8h. Avisei a empresa onde trabalho da situação e eles devem mandar uma van para me buscar. Se não mandarem, não tem como eu ir trabalhar", diz a jovem, que mora no Bairro Mantiqueira, na Região de Venda Nova, e trabalha no Centro.
"Estou preocupada com a volta. O preço normal do carro de aplicativo da minha casa ao serviço é de aproximadamente R$100. Imagina durante essa greve, quanto não vai custar a corrida?", pondera a trabalhadora.
Pelos cálculos da Empresa e Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), em toda a cidade, apenas 32% das viagens previstas para esta quinta-feira haviam sido cumpridas entre 0h e 9h. Veja a relação divulgada pela empresa.
• Barreiro: 1
• Diamante: 7%
• José Cândido: 75%
• Pampulha: 7%
• São Gabriel: 40%
• São José: 14%
• Venda Nova: 0%
• Vilarinho: 25%
• Demais Linhas: 42%
Entenda a greve
Os rodoviários alegam estar sem aumento há dois anos e reivindicam reajuste de 9%, mais correção dos vencimentos pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC). Outras pautas do movimento são: retorno do ticket nas férias, pagamento do abono 2019/2020 e fim da limitação do passe livre
A categoria chegou a cruzar os braços em 22 de novembro, mas suspendeu a greve 24 horas depois, após a sinalização de um acordo pelo Sindicato das Empresas de Transporte Público de Belo Horizonte (Setra-BH).
A proposta apresentada pelo Setra-BH, no entanto, não agradou aos motoristas, já que contempla o aumento de 9%, mas exclui a reposição salarial pela inflação, principal bandeira do movimento grevista.