O Natal se aproxima, e já é possível ver o trenó do Papai Noel procurando vaga em estacionamento de shopping. E este ano é especial, já que marca a volta ao trabalho presencial do senhor de barbas brancas, representado por muita gente que em dezembro de 2020 estava bem recolhida e fugindo de aglomerações. Agora, com a garantia de ter tomado pelo menos as duas doses da vacina contra a COVID-19, o bom velhinho já se sente seguro em tirar foto exibindo de novo o sorriso.
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No ano passado, quando ainda não havia chegado vacina ao Brasil e Belo Horizonte vivia tempos de restrição de mobilidade urbana, quem tinha o ofício de interpretar o personagem teve que se reinventar. Para o trabalho não parar, Noéis participaram de eventos em família e, tecnológicos, não dispensaram um “ho, ho, ho” por videochamada.
Já este ano, o show está garantido no lugar que se tornou tradicional: o shopping. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, a presença de Papai Noel nesses espaços está permitida, “desde que sejam mantidas as medidas de higienização, distanciamento de 1 metro entre as pessoas e uso de máscara”.
Para organizar toda essa comunidade de bondosos personagens egressos de um imaginário reino no polo norte, existe uma rede em Minas Gerais. É a Associação dos Papais Noéis (Aspanoeis), presidida por ninguém mais, ninguém menos que um bom velhinho. “A expectativa é de que este Natal seja melhor que o último ano”, planeja Marcos Henrique Gomes, de 74 anos e há 11 ocupando o trono vermelho.
Na Aspanoeis, 12 associados – com idades entre 55 e 76 anos – já se colocaram à disposição para trabalhar. “Temos Papai Noel até em Monte Verde (Sul de Minas). Os mineiros este ano entraram em contato mais cedo. Teve família que fechou com a gente em setembro”, comemora Marcos.
O público está tão empolgado com a data em que muitos vão comemorar imunizados que vai ficando difícil conseguir espaço na agenda para o 24 de dezembro. “Eu mesmo não tenho vaga mais”, revela o representante dos senhores de vermelho.
“Tem muitos (Noéis) que não estão trabalhando em shoppings e estão partindo para empresas que contratam para eventos de confraternização ou para andar pela empresa, mexendo com os funcionários, levando os desejos de feliz Natal, coisas desse tipo. Além disso, famílias também estão interessadas em ter Papai Noel nos eventos familiares”, enumera.
CARINHO DE LONGE
Depois de um ano sofrido, voltar ao trono natalino é sinônimo de alegria para quem gosta do que faz. Apaixonado por se paramentar com as botas e com a roupa vermelha, José Eustáquio Starling Solla, de 74, disse à reportagem do Estado de Minas, no ano passado, que “shopping sem Papai Noel é como feira sem pastel. Uma tristeza”. Este ano, desde o último dia 7, Noel Starling – como é conhecido – voltou com o sorriso para cumprir a missão de ouvir as crianças que visitam o Shopping Cidade, no Centro de BH. “Ano passado, só fiz alguns eventos de entrega de presentes. Mas antes isso do que nada, né? Mas agora, vacinado, posso voltar a ver os pequenos”, comenta.
Nos novos moldes, o Noel Starling senta em uma cadeira e o convidado mirim em outra. Como nem tudo está liberado, o encontro se limita a uma conversa rápida, mas o bom velhinho ainda lamenta ter que lidar com a distância e perder a conversa ao pé do ouvido. “Sempre fui acostumado a abraçar, beijar, fazer a festa. Este ano, a criança vem correndo para abraçar, mas não pode: ela tem que ficar sentada a distância. A gente tem que explicar para a mamãe com jeitinho. Mas a criança fica sentida. Até eu fico”, desabafa, com expectativa de um 2022 melhor e com saúde. “Éramos felizes e não sabíamos. Ano que vem, eu espero que seja sem máscara, abraçando as crianças e tendo aquela troca de energia e sensibilidade.”
NA TORCIDA POR FUTURO MELHOR
A rotina natalina não é fácil para quem tem que ouvir pedidos e entregar presentes. Carlos Vicari Filho, de 71, interpreta a gratificante atividade de ser Papai Noel, mas recusou trabalhar em centro comercial este ano. “Eu não quis ficar em shopping. Já fiz por mais de 15 anos. Esse serviço de Papai Noel, que o pessoal acha que é moleza, se estivesse dentro da roupa ia ver ‘o que é bom pra tosse’”, brinca, dando risadas.
Depois de três anos trabalhando em shopping da Região Centro-Sul de BH, agora ele decidiu fazer apenas aparições e se dedicar ao trabalho social. “Vou trabalhar com uma pessoa que tem uma carreta em Contagem. Estou satisfeito, apesar de logicamente eu ter remuneração, estou fazendo um serviço social. É um projeto que vai fazer fotos gratuitas para as crianças.”
Em meio à pandemia do ano passado, ele se virou fazendo videochamadas. “Acho um absurdo cobrar R$ 200 por videochamada. Eu dei o meu preço abaixo disso. Teve mãe que deu um pouco mais, outras pouco menos, outros nada, mas tudo bem. O que importa é ver a criança feliz”, lembra. No Natal que se aproxima, vai ter foto com a criança um pouco distante de Noel. “Fico sentado na poltrona e a criança sentada do lado, sem contato físico nenhum”, explica.
O pensamento fica na expectativa de um futuro melhor. Atleticano assumido, o Papai Noel realizou neste fim de ano o sonho de ver o time ser campeão e espera outras alegrias no próximo ano. O bondoso personagem deixa um recado para a garotada: “Acreditem em um futuro melhor. Se Deus permitir, vamos sair dessa pandemia o mais breve possível.”