Jornal Estado de Minas

EDUCAÇÃO

Moradores de comunidade quilombola fazem 'vaquinha' para reconstruir escola

Os moradores da comunidade quilombola do Macuco, na zona rural de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, resolveram não esperar mais pelo Poder Público e iniciaram uma mobilização para a reconstrução de uma escola na localidade. Eles realizam uma campanha, por meio de 'vaquinha' virtual na internet, que visa arrecadação de doações para reerguer a unidade escolar, desativada há 12 anos. 





As lideranças comunitárias da localidade dizem que o principal objetivo da reconstrução da escola na comunidade quilombola é o resgate de um ensino com conteúdo diferenciado, sobre a cultura, os costumes e as tradições do povo negro, que não é repassado nos estabelecimentos convencionais da área urbana. "Com essa escola, a gente pretende repassar para as crianças informações sobre os nossos antepassados e nossa história. Não podemos deixar que nossas raízes se percam. Não podemos deixar a nossa cultura morrer", afirma Juscilene Alves Costa, a Leninha, líder comunitária de Macuco.

Também líder da comunidade de Macuco, Jussara Costa relata que a Escola Municipal Fúlvio Mota foi construída na área quilombola em 1986 e, durante mais de 20 anos, funcionou de forma multiseriada. Há anos, informa, a prefeitura do município desativou a unidade educacional e adotou a nucleação. Os alunos de Macuco foram transferidos para a sede de Minas Novas, recorrendo ao serviço de transporte escolar. A comunidade de remanescentes de escravos fica distante 10 quilômetros da área urbana.

Jussara Costa afirma que após a desativação, as telhas, assim como as janelas e o piso do antigo prédio da Escola Fúlvio Mota foram retirados. Isso foi prejudicial para os moradores, que ficaram impedidos de usar o espaço para encontros, reuniões e ensaios de grupos folclóricos.





A líder comunitária lembra que, ao adotar a nucleação e transferir os alunos de Macuco para escolas da área urbana, a área quilombola não contava com quantidade de crianças suficientes para viabilizar o funcionamento de uma escola.

Hoje, argumenta Jussara Costa, a situação é diferente. Segundo ela, a comunidade Macuco conta com 23 crianças e adolescentes em idade escolar, integrantes de 37 famílias.  Por outro lado, ressalta, a escola pode receber alunos de três comunidades próximas formadas por famílias quilombolas: Gravatá, Pinheiro e Mata 2. 
Por outro lado, Jussara destaca que o principal objetivo da campanha para reativar a escola da localidade rural de Minas Novas é o resgate do ensino das tradições e da cultura afro-brasileira para as crianças das famílias quilombolas, de tal forma que isso também  sirva para o combate ao racismo e ao preconceito.





"É preciso trabalhar a importância da cultura, dos saberes e dos fazeres dos negros dentro da sala de aula, principalmente, no território quilombola. A partir daí, as crianças vão se enxergar muito mais representadas. Elas poderão ver a importância de serem quilombolas", diz Jussara.

"Conhecendo a sua própria historia, quem foram seus ancestrais, as crianças terão mais embasamento para as situações de racismo e de preconceito o dia a dia", completa a líder comunitária. 

Jussara Costa afirma que o povo negro precisa ser reconhecido como uma das bases da sociedade brasileira. "Não existe o Brasil sem o negro. Mas, existe a história do negro sem o Brasil. A partir do momento que for mostrada a importância da nossa história na construção desse país, com certeza, essas crianças (quilombolas) vão crescer de cabeça erguida, com autoestima comparada com o "construir" dessa história".





Ainda segundo a líder da comunidade quilombola de Minas Novas, a meta da 'varquinha virtual' é alcançar R$ 160 mil para a reconstrução da escola área dos remanescentes de escravos. 

O objetivo dos moradores é que e escola seja reconstruída por meio de uma 'vaquinha' virtual na internet (foto: Marlon Fernandes/divulgação)

Ensino da cultura afro-brasileira previsto em lei

A Lei 10.639, de 2003, tornou obrigatória  o ensino sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio no país. De acordo com os últimos números dados do Governo Federal (ainda de 2017),  existem pouco mais de 2.300 escolas  localizadas em áreas remanescentes de quilombos no país para cerca de 5 mil comunidades quilombolas. Destas, somente 34% utilizam materiais didáticos específicos para atendimento à diversidade sociocultural quilombola.

Por outro lado, o Censo Escolar de 2007 apontava que o Brasil  somava, até então,  aproximadamente 151 mil alunos matriculados em 1.253 escolas localizadas em áreas remanescentes de quilombos.

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