Jornal Estado de Minas

CLIMA

Cidades mineiras sob situação de risco



O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, ontem, três alertas de chuvas fortes para 239 municípios de Minas Gerais, válidos até hoje (10/12). Segundo o informe, 26 cidades têm alto grau de perigo, entre elas Almenara, Jacinto e Palmópolis. Outras 55 têm risco moderado, como Espinosa, Nanuque e Salinas. Já 158 municípios estão em menor perigo, entre eles Diamantina, Janaúba, Teófilo Otoni e Unaí.





A maioria das cidades em alto grau de perigo está concentrada nas regiões Norte, Noroeste e Jequitinhonha. Segundo o meteorologista do Inmet Claudemir Azevedo, é nesses municípios que há mais chance de ocorrerem pancadas de chuvas fortes até hoje. “Belo Horizonte não está inclusa neste alerta, pois reduziu a condição de chuvas para toda a região metropolitana, com o aumento de nebulosidade no Norte do estado.”

O alerta mais grave informa que há possibilidade de tempestades com volume maior do que 100mm e ventos com velocidade superior a 100km/h. Há grande risco de danos em edificações, corte de energia elétrica, queda de árvores, descargas elétricas, alagamentos, enxurradas e grandes transtornos no transporte rodoviário. Os outros dois alertas destacam o volume de chuva de 50mm a 100mm por dia, com ventos que podem chegar a 60km/h.
 
 
 
DESLIZAMENTO E MORTES  

Um deslizamento de terra provocou a morte de um trabalhador na tarde de quarta-feira (8/12), em São José do Acácio, distrito de Engenheiro Caldas, cidade que fica a 42 quilômetros de Governador Valadares, na Região Leste de Minas. Paulo Sérgio dos Santos, de 48 anos, estava trabalhando nos fundos de uma casa quando foi soterrado por um grande volume de terra que deslizou de uma altura de 9 metros, segundo os militares do Corpo de Bombeiros.





Moradores de áreas próximas ao local do acidente contaram ao bombeiros que o terreno estava muito encharcado por causa das chuvas constantes na região. Os primeiros socorros prestados ao homem foram feitos pelos vizinhos.

Toda a área do deslizamento foi isolada, já que os bombeiros constataram que podem ocorrer novos deslizamentos no local. A Defesa Civil da Prefeitura de Engenheiro Caldas foi acionada para fazer uma avaliação das condições do terreno.

Já na madrugada de ontem (9/12), uma criança de 2 anos morreu após a casa onde morava com a mãe, de 35, e uma irmã, de 13, ter desabado. O imóvel foi atingido por um deslizamento de terra, no município de Pescador, no Vale do Rio Doce. A forte chuva registrada na madrugada provocou a queda do barranco. Enzo Rafael Rodrigues estava dormindo no momento do acidente. A mãe e a irmã do menino conseguiram sair de casa rapidamente. Desesperadas, elas tentaram salvá-lo, com ajuda de vizinhos.





A procura pela criança em meio aos escombros foi demorada e seu corpo foi encontrado depois de muito trabalho de remoção de tijolos, telhas e móveis. Os peritos da Polícia Civil estiveram no local e depois de fazer os trabalhos periciais liberaram o corpo, que foi levado para o Instituto Médico-Legal de Teófilo Otoni, que fica a 82 quilômetros de Pescador.

A mãe e a irmã do menino foram levadas para a UPA de Teófilo Otoni. Segundo a Polícia Militar, a mãe estava com um corte na testa e sua filha reclamava de fortes dores no braço.

CALAMIDADE PÚBLICA 

As fortes chuvas que atingem o Vale do Jequitinhonha e o Sul da Bahia fizeram o Rio Jucuruçu transbordar e deixar mais de 150 famílias desalojadas em Palmópolis, município de menos de 7 mil habitantes que faz limite com Jucuruçu, na Bahia. A Prefeitura de Palmópolis decretou ontem estado de calamidade pública.

O número de famílias desalojadas pode ser muito maior que as 150 estimadas pela administração local. A secretária municipal de Administração de Palmópolis, Geisa Silva, disse que há pelo menos 2 mil habitantes no distrito de Dois de Abril e no povoado de Jeribá. As duas localidades estão isoladas da sede e incomunicáveis.





“Lá caíram postes de iluminação, com fios elétricos e cabos de internet. As estradas de acesso às comunidades estão interditadas. Os moradores estão sem telefonia e sem água tratada”, explicou. Segundo ela, a situação é preocupante porque muitas famílias podem estar com as casas submersas pelo Rio Jucuruçu. “Tivemos a informação de que a Cemig enviaria um helicóptero para chegar a essas comunidades, mas estamos aguardando confirmação.” A Secretaria Municipal de Assistência Social de Palmópolis começou uma campanha para arrecadar mantimentos e roupas para os desabrigados.

SUL DO ESTADO 

As chuvas provocaram estragos também para agricultores na Região Sul de Minas. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) em Andradas fez um levantamento das áreas atingidas após temporal acompanhado de granizo de quarta-feira (8/12).

Cerca de sete hectares de plantação foram cobertos pelo gelo, entre eles três são de batata e quatro hectares de milho, grãos e silagem, além de cerca de mil covas de café. As lavouras não têm seguro e são custeadas com recursos próprios. Antônia de Oliveira é produtora rural há 30 anos. Ela mora no distrito de Campestrinho e, no local tem plantação de milho, feijão e um pouco de café. “O que mais estragou foi o milho, que a gente usa para fazer silagem para as vacas. Já tivemos prejuízo recentemente com a geada. Agora que começou a chuva e ficou tudo verdinho, aconteceu isso”, diz.





*Estagiárias sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz
 
 


Volume de chuva por região em Belo Horizonte
Veja o quanto já choveu de 1º de dezembro até as 7h de quinta (9/12):

Barreiro: 187,8 (52,3%)
Centro Sul: 207,1 (57,7%)
Leste: 196,0 (54,6%)
Nordeste: 239,0 (66,6%)
Noroeste: 194,2 (54,1%)
Norte: 202,4 (56,4%)
Oeste: 230,4 (64,2%)
Pampulha: 203,4 (56,7%)
Venda Nova: 199,8 (55,7%)

Veja as principais solicitações atendidas:

Abatimento de piso: 4
Abatimento de piso/desastre com causa humana: 1
Abatimento de piso/desastre natural: 2
Alagamento: 3
Danificação ou destruição de edificações: 2
Danificação ou destruição de habitações: 3
Desabamento parcial de moradia: 2
Desabamento parcial de muro de arrimo: 8
Deslizamento de encosta: 21
Enchentes ou inundações: 2
Erosão: 5
Escorregamentos ou deslizamentos: 14
Infiltração: 32
Trincas: 24
Trincas/infiltrações: 41
Trincas e rachaduras em muro: 7
 
 
Em Machacalis, no Vale do Jequitinhonha, já foram contabilizados mais de 200 desabrigados (foto: Fotos: Alexandre Amador/Divulgação)
 

Ocorrências em BH 



Apesar de estar fora do alerta emitido pelo Inmet, Belo Horizonte também sofreu com as chuvas dos últimos dias. Segundo a Defesa Civil da capital, já foram atendidos 287 pedidos de vistorias de risco em dezembro. A maioria deles para inspeção em imóveis particulares nas regiões Noroeste, Venda Nova e Norte.

Em nove dias, o volume de chuvas da capital mineira está quase passando o esperado para o mês. A média climatológica de chuvas prevista para dezembro é de 358,9mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Com o grande volume de chuva, parte da população, principalmente aquela que está em áreas de risco geológico, se sente ameaçada. Trincas nas paredes, infiltrações, desabamento de muros e deslizamento de encostas são algumas das situações que a Defesa Civil vistoriou e constatou nos últimos dias.





*Estagiária sob supervisão do editor Benny Cohen
 
 
A Prefeitura de Machacalis lançou campanha de doações para os moradores que perderam suas casas no município


Rastro de destruição no Norte de Minas



As chuvas provocam destruição no Vale do Jequitinhonha. Uma das cidades mais atingidas na região é Machacalis, de 7,12 mil habitantes. Segundo a prefeitura, até a tarde de ontem foram contadas cerca de 200 pessoas desabrigadas, número que pode aumentar, já que os temporais continuam. As inundações também atingiram dois postos do Programa de Saúde da Família (PSF), onde estavam armazenadas vacinas contra a COVID-19.

A Prefeitura de Machacalis aguardava a chegada de equipes da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) e do Corpo de Bombeiros, visando auxiliar os atingidos pelas chuvas. Com o excesso de chuvas, os rios Água Branca e Norte, que cortam a área urbana do município, transbordaram. De acordo com a prefeitura, foram inundadas dezenas de moradias do Pirulito e “Área” e no Centro da cidade, principalmente na Rua Belo Horizonte.

Conforme o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Machacalis, Alexandre Amador, os desabrigados estão sendo levados para três abrigos, instalados na Escola Estadual Dona Maricota Pinto, na Igreja Cristã Congregação do Brasil e na igreja católica da cidade.





Segundo Amador, pelo menos 10 casas desabaram. Não houve vítimas. Os desabrigados perderam móveis, eletrodomésticos, roupas e outros bens. A prefeitura lançou uma campanha para a doação de alimentos, produtos de higiene, roupas, calçados e utensílios para os desabrigados. Também foi aberta uma campanha para recebimento de doações em dinheiro para as vítimas das enchentes. A conta, aberta em nome da Associação de Mães Fraternidade e Trabalho, é 13.447-3, Banco Sicoob (banco 756), agência 3045. CNPJ: 20.857.662/0001-54. As doações também podem ser feitas pelo Pix: chave 086.140.396-70 (em nome de Andressa Rodrigues Ornelas).

POSTOS INUNDADOS E VACINAS 

Conforme o secretário Alexandre Amador, dois postos do PSF usados para a vacinação contra a COVID-19, um situado no Bairro Pirulito e outro no Centro da cidade, foram inundados. Nas duas unidades de saúde eram armazenados estoques de vacinas contra o coronavírus, que estão debaixo d'água. A prefeitura ainda não tem o levantamento sobre a quantidade do imunizante que foi perdida devido à enchente.

Por outro lado, Amador diz que, apesar da “situação de caos” provocada pelas chuvas em Machacalis, a vacinação contra a COVID-19 não será interrompida. As doses continuam sendo aplicadas em duas unidades de saúde do município que não foram atingidas pelas águas.