Depois da destruição provocada pela enchente, moradores de Machacalis, no Vale do Mucuri, enfrentam as dificuldades de volta para casa. Com as fortes chuvas da semana passada, a cidade foi arrasada pelas cheias dos rios Água Branca e Norte. Na quinta-feira, 2.903 pessoas ficaram desalojadas e outras 400 ficaram desabrigadas. As 3.303 pessoas expulsas de suas casas pela força da água equivalem a quase a metade da população do município, de 7.112 habitantes.
os problemas provocados pela chuva foram vistos de perto pelo governador Romeu Zema (Novo). Ele prometeu ajuda às famílias por parte da Defesa Civil Estadual, que no último fim de semana começou a enviar donativos para os atingidos.
“No dia seguinte, a cidade parecia um cenário de guerra”, descreve a secretária de Assistência Social de Machacalis, Andressa Rodrigues Ornelas. Na sexta-feira, Os desalojados foram para casas de amigos e parentes e enquanto as pessoas que perderam suas casas e não encontraram outro local para se hospedar foram encaminhadas para cinco abrigos instalados em igrejas, escolas e em uma creche do município, onde passaram a receber assistência da prefeitura e doações de voluntários.
Com o passar dos dias, aos poucos, as águas dos rios Água Branca e Norte baixaram, o que permitiu a muitas famílias começarem a voltar para suas casas, mas os rastros da destruição ainda são evidentes na cidade. Conforme Andressa Ornelas, ontem o número de desalojados no município caiu para 536, enquanto o número de acolhidos em abrigos improvisados foi reduzido para 45 pessoas.
A secretária municipal ressalta, no entanto, que o sofrimento provocado pelos temporais em Machacalis permanece. “Mais de 500 pessoas perderam tudo: móveis, geladeiras, fogões e roupas”, detalha. Ela também informa que de 200 a 250 vítimas das chuvas continuam recorrendo aos abrigos para receber alimentação, seja pela falta de mantimentos ou porque não têm condições de cozinhar em casa, devido à perda dos fogões durante a enchente.
Andressa Ornelas lembra que, além de pedir o apoio do governo estadual, que enviou colchões, cestas básicas e produtos de higiene e de limpeza para as famílias, a prefeitura lançou uma campanha via redes sociais, pedindo doações para os desabrigados.
Rastro de danos
As partes mais afetadas pela inundação em Machacalis foram os bairros Água Branca, Área, a praça do Bairro Pirulito e a Rua Belo Horizonte, entre outras. Segundo a secretária municipal de Assistência Social, além de 20 casas destruídas, pelo menos outras 110 tiveram algum tipo de dano, como quedas de paredes, muros e estruturas abaladas. Aqueles que estão conseguindo voltar para suas moradias enfrentam outra dificuldade: a falta de água, pois o sistema de abastecimento do município também ficou comprometido pela enchente.
Andressa Ornelas relata que, além das perdas dos móveis, eletrodomésticos e roupas, dezenas de moradores com problemas de saúde, como diabéticos e hipertensos, perderam medicamentos de uso contínuo. Por isso, a prefeitura teve que montar uma espécie de farmácia improvisada para fornecer os medicamentos para pessoas levadas para os abrigos. Centenas de moradores enfrentam outro drama: perderam todos os documentos, que ficaram debaixo d'água.
Dois postos do Programa de Saúde da Família de Machacalis também foram inundados. A unidade mais atingida foi o PSF da praça do Bairro Pirulito. De acordo com a secretária Andressa Ornelas, todos os medicamentos e insumos armazenados no local foram perdidos, incluindo vacinas contra a COVID-19, o que prejudicou o andamento da campanha de imunização contra o coronavírus na cidade. Mas, a prefeitura ainda não tem um levantamento sobre a quantidade de doses perdidas.
Zona rural
As fortes chuvas acarretaram também transtornos e prejuízos na zona rural de Machacalis, onde até outubro os agricultores enfrentaram dificuldades com a seca. Segundo a presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Machacalis, Klecila Rejane Reis, diversas pontes foram levadas pela água e estradas vicinais ficaram intransitáveis. Com isso, várias comunidades rurais do município estão isoladas. “Muitos produtores de leite estão acumulando prejuízos. Eles ficaram isolados, não conseguem transportar o leite nem mesmo para doação”, afirma.