A greve dos funcionários do metrô de Belo Horizonte, marcada para começar a 0h de quinta-feira (23/12), será mantida. A decisão, que deve impactar cerca de 100 mil usuários, é motivada pela impossibilidade de transferência dos profissionais da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) para outras cidades devido à privatização do metrô da capital mineira.
Apesar da paralisação marcada, a CBTU de BH obteve, nessa terça-feira (21/12), uma liminar do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) que determinou o funcionamento da operação metroviária das 5h30 às 10h e das 16h30 às 20h.
Nos dias 24 e 31/12, a determinação é que o horário da operação seja das 5h30 às 10h e das 16h30 às 23h. Com 100% dos trens operando nos intervalos mencionados, o resultado da decisão garantiu a operação integral no horário de pico, bem como assegurou os serviços de manutenção e segurança para atendimento da população, este último sem qualquer interrupção.
A paralisação se deve ao fato de os metroviários criticarem a falta de participação no processo de privatização e transparência no processo. Atualmente, cerca de 1,6 mil trabalhadores prestam serviço para a CBTU em Belo Horizonte. O sindicato afirma que, até o momento, não houve nenhum diálogo do governo com a categoria sobre o processo de venda da estatal e que todas as tentativas de negociação partiram do sindicato.
Governo
Em conversa com o Estado de Minas, o secretário especial de desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, garantiu que a privatização só vai trazer benefícios à capital mineira.
“A paralisação pegou a gente de surpresa, esperávamos um amplo apoio dos funcionários da CBTU, já que existe uma demanda muito antiga com relação a investimentos no metrô de BH. São trens com mais de 35 anos de idade. É uma demanda antiga da população local”, conta. “É um investimento enorme, que vem para trazer melhorias. Deveria ser um motivo de comemoração; não de protetos”, afirma.
O secretário ainda voltou a garantir a destinação de R$ 2,8 bilhões para a construção da linha 2 do metrô, condicionado o investimento à privatização da Superintendência da CBTU em BH e à concessão dos serviços, tanto da linha 1 quanto da futura linha 2, para a iniciativa privada. A verba já havia sido anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ao falar sobre uma possível demissão em massa, que preocupa os trabalhadores da categoria, Diogo descartou a possibilidade e acusou a classe operária de aterrorizar funcionários.
“Esse receio é fomentado pelo sindicato…é um absurdo pensar em algo desse tipo. Essas pessoas trabalham há décadas, elas sabem como funcionam cada passo da operação… não faz sentido (a demissão) e isso nunca aconteceu na história das privatizações do Brasil. Pelo contrário, o que acontece é uma geração de novos empregos”, garante.
“Esse receio é fomentado pelo sindicato…é um absurdo pensar em algo desse tipo. Essas pessoas trabalham há décadas, elas sabem como funcionam cada passo da operação… não faz sentido (a demissão) e isso nunca aconteceu na história das privatizações do Brasil. Pelo contrário, o que acontece é uma geração de novos empregos”, garante.
De acordo com o secretário, alguns trabalhadores "protegidos pelo próprio sindicato”, entregam muito pouco e ganham muito além. “Essas pessoas sim precisam se preocupar porque esse tipo de profissional não existe salvação. Mas, o bom profissional? Será reconhecido. Os bons profissionais são reconhecidos e promovidos", conta.
Ainda segundo Diogo, o “medo” do desemprego é um uma ação que não se prova.
Sindicato
O presidente do Sindmetro, Romeu José Machado Neto, negou qualquer tipo de segurança passada pelo governo. Segundo ele, o secretário nunca dialogou com os trabalhadores e nunca ofereceu nenhum tipo de documento comprovando que a demissão em massa não deve acontecer.
“Eu gostaria que ele colocasse isso no papel. Se ele fizer isso? Eu suspendo a greve na hora. Tentamos essas garantias por parte do governo, eles não aceitaram. A única coisa que eles fizeram foi pedir para que enviássemos perguntas para eles”, conta.
De acordo com Romeu, o problema nunca foi a privatização do metrô e sim a falta de segurança do trabalhador. “Está afetando os nossos contratos de trabalho, isso nunca foi conversado. Sobre a privatização? Iremos discutir nos locais adequados como, por exemplo, a assembleia de amanhã”, diz.
Está marcada para esta quinta-feira (23/12) uma audiência pública na Cidade Administrativa onde os trabalhadores serão ouvidos sobre a paralisação e sobre a privatização. A conversa está marcada para acontecer às 13h.
Privatização
Em setembro, Bolsonaro esteve em Belo Horizonte para sancionar a privatização do metrô. A venda é acompanhada por aporte de R$ 2,8 bilhões para melhorias na estrutura. O governo estadual vai disponibilizar R$ 400 milhões.
O edital para concretizar a entrega dos trens à iniciativa privada deverá ser publicado em março de 2022. Atualmente, o metrô liga o Eldorado, em Contagem, à Venda Nova. A ideia é construir um segundo itinerário, do Barreiro ao Calafate, na Região Oeste.