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Estado de Minas PREJUÍZO

Cerimonial fecha as portas na madrugada e deixa alunos sem formatura

Mais de 30 grupos de universitários tiveram contratos com a Via Essencial encerrados por e-mail; juntos, acordos formam rombo milionário


31/12/2021 18:47 - atualizado 03/01/2022 11:05

Fachada da UFMG, em Belo Horizonte
Na UFMG (foto), turmas de Engenharia viram sonho de formatura ruir (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Quando acordaram nessa quinta-feira (30/12), alunos de diversas universidades mineiras, ansiosos para festejar o tão sonhado diploma, viram as expectativas positivas darem lugar a sensações como choque, desespero, tristeza e desolação. Isso porque, no silêncio da madrugada, a empresa responsável por organizar as tradicionais celebrações de formatura, como baile de gala e colação de grau, enviou um e-mail informando a rescisão unilateral dos contratos.

Alegando ter sido atingida duramente pelos efeitos da pandemia, a Via Essencial Organização de Eventos avisou, repentinamente, que todos os vínculos estão encerrados.

Entre ontem e esta sexta-feira (31), os relatos de comissões de formatura desamparadas pelo brusco fechamento da Via Essencial se multiplicam. Uma lista obtida pelo Estado de Minas mostra que mais de 30 comitês de alunos, de faculdades públicas e privadas, de Belo Horizonte e do interior, foram atingidos. A empresa funcionava no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, havia um acordo com alunos dos cursos de Engenharia Química e Engenharia Mecânica. Cinquenta e um estudantes se juntaram para pagar cerca de R$ 500 mil, mas agora não sabem se poderão comemorar a conclusão do curso.

Na Escola Superior Dom Helder Câmara, tradicional instituição privada de Direito de Belo Horizonte, 100 graduados também estão a ver navios.

Na mensagem padrão enviada a todos os contratantes, a Via Essencial afirma que, em três meses, entrará em contato para tratar da devolução dos valores pagos. Não há, porém, informações sobre como o ressarcimento vai acontecer.

As turmas de Engenharia da UFMG já se movimentavam para definir detalhes para a grande festa, prevista para julho de 2022. "Está todo mundo muito mal. Foi muito estresse, um choque. É uma quebra gigantesca de expectativas. Já tínhamos, conversando com o cerimonial, fechado a lista de atrações [da festa]", diz a estudante de Engenharia Química Letícia Furtado, de 24 anos.

A jovem desembolsou R$ 8,5 mil pelo contrato com a empresa, firmado em 2017. Com a família empolgada pela formatura, gastou ainda mais para comprar convites avulsos e lotar o baile de parentes. "Desembolsei aproximadamente R$ 16 mil", lamenta.

As reuniões para projetar a festa dão lugar agora a conversas sobre como tentar recuperar o prejuízo. "Já tínhamos olhado buffet, estávamos olhando decoração e até recebido o projeto de como ficaria [o salão] Foi uma tristeza total. Está todo mundo desolado", desabafa.

As buscas por contatos com os representantes da empresa foram frustradas. Em todos os casos, o roteiro se repete: celulares desligados, e-mails não respondidos, redes sociais deletadas e site fora do ar. Até mesmo as planilhas de gastos das festas foram removidas da internet.

"Temos um grupo com os gerentes. Não conseguimos contato nenhum. As coisas foram sumindo do site. Havia o controle do número de formandos e do pagamento de parcelas. Tudo foi desativado", protesta a advogada Luisa Helena Saraiva, de  23, que se formou em Direito pela Dom Helder neste ano e, agora, se aprontava para comemorar a conquista no meio do ano que vem.

"Tinham festas que estavam totalmente prontas para acontecer, com tudo pago", conta ela.

Na Dom Helder, parte do dinheiro arrecadado com as prestações pagas ao cerimonial já havia servido para, por exemplo, pagar o bufê e a primeira parcela do cachê da atração musical do baile. Na última prestação de contas, feita em março, a empresa ainda tinha pouco mais de R$ 536 mil em caixa para bancar os custos do evento.

Bloqueio de bens é alternativa


Em meio ao caos, os estudantes já começam a pensar nos próximos passos. Os futuros engenheiros da UFMG acionaram um advogado. Depois do réveillon, um boletim de ocorrência será feito. Na Dom Helder, a conversa é com os professores de advocacia.

Segundo Luisa Helena, uma das ideias é ajuizar ação pedindo o bloqueio de bens da Via Essencial - que, nos dados da Receita Federal, tem apenas uma pessoa cadastrada como dona.

"É muito provável que eles já tenham feito uma 'limpa' no dinheiro, mas esse é o requerimento padrão: pedir o bloqueio dos bens. E, se não achar nada na conta da empresa, começar a procurar no patrimônio dos sócios", observa.

Cerimonial fez reunião derradeira para tentar reverter quadro


Na mensagem de distrato enviada aos formandos, a Via Essencial afirma ter reunido seus representantes no início desta semana para discutir as finanças. A situação imposta pela COVID-19, segundo o cerimonial, piorou com o aumento da inadimplência dos contratantes e do reajuste nos custos de serviços prestados por bufês e distribuidoras de bebidas.

"Trata-se de uma decisão com extremo pesar, [tomada] por motivos de força maior e imprevisibilidade, que ensejará desconfortos para ambas partes, considerado que, caso tal decisão não fosse adotada neste momento, dificilmente conseguiríamos cumprir os termos contratuais", lê-se em trecho da notificação remetida aos alunos.

Em nota enviada ao EM, o Cerimonial Via Essencial, por meio de sua assessoria jurídica, ratificou as informações prestadas no comunicado enviado aos alunos.

"O setor de eventos até a presente data sofre os impactos causados pela pandemia e alta da inflação em nosso país. Diante da impossibilidade de realizar os eventos com excelencia, bem como não causar prejuízos aos alunos, a empresa ratifica as informações do comunicado enviado, no sentido de que se coloca a disposição através do contato informado aos clientes e, nos prazos designados no comunicado, prestará todas as informações referentes à restituição de valores, conforme inclusive determina a legislação vigente sobre o tema", diz a empresa na nota.


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