A baiana Zena Oliveira dos Santos, de 59 anos, é uma sobrevivente das enchentes de verão. Moradora de Jucuruçu, no Sul da Bahia, ela enfrenta agora os efeitos das chuvas torrenciais que assolaram o estado vizinho, já mataram 25 pessoas e atingiram 661.208, segundo a Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec-BA). “Tive que vir para um quartinho da igreja (evangélica), em 22 de dezembro. Minha casa fica num lugar mais alto, mas caiu um barranco que pode jogar no chão as paredes da frente e dos fundos”, conta Zena, que, durante muitos anos, morou às margens do Rio das Velhas, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Na área ribeirinha chamada Pantanal, Zena sofreu as consequências de duas enchentes recentes do Rio das Velhas, e, na segunda vez, achou melhor retornar à terra natal. “Foi muito difícil, perdemos quase tudo... entrou muita água nas casas”, lamenta a baiana, que vive atualmente com R$ 102 do programa federal Bolsa-Família. Pelas redes sociais, ela pede ajuda aos antigos vizinhos do Pantanal, pois está sem condições de viver. “Faço bico como faxineira, mas aqui está tudo difícil demais. Pago aluguel, não tenho terreno. Conto com a solidariedade.” Em resposta, os vizinhos residentes em Santa Luzia dizem que lutam com dificuldades, pois também são pobres, mas tentarão ajudar.
Solidariedade se torna uma palavra-chave para abrir os corações e as mãos nesses tempos da chuvarada, que também atingiu em cheio as regiões mineiras dos vales do Jequitinhonha e Mucuri, Norte e Zona da Mata. O alerta da Cruz Vermelha em Minas é de que as doações se intensifiquem, pois os estoques estão baixos para atender à demanda no estado, diz o vice-presidente da filial MG da instituição humanitária internacional, Bernardo Eliazar. Além dessa entidade humanitária, há campanhas de solidariedade conduzidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pelo Serviço Social Autônomo Servas (SSA) em parceria com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) outros órgãos do governo estadual, pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e por voluntários.
"O volume esperado de doações, desta vez, está bem abaixo do de outras épocas, algo em torno de 50% menor"
Bernardo Eliazar, vice-presidente da Cruz Vermelha em Minas
Bernardo Eliazar explica que, numa situação de emergência causada pela chuva, há quatro itens essenciais que as pessoas atingidas precisam, ainda mais quando as moradias estão tomadas pela lama: material para limpeza da casa e para higiene pessoal, alimentos e água.
“O volume esperado de doações, desta vez, está bem abaixo do de outras épocas, algo em torno de 50% menor”, informa o vice-presidente. Ele esclareceu que a Cruz Vermelha Brasil está atendendo o estado da Bahia, enquanto as forças da filial se concentram em Minas. Na tarde de ontem, na unidade da Cruz Vermelha em BH (Alameda Ezequiel Dias, 427, no Centro), a secretária-geral da filial MG, Cristiane Monteiro, mostrou os estoques e disse que roupas e calçados não são aceitos como donativo. A Cruz Vermelha tem uma conta em banco (ver o quadro) para facilitar a logística das operações – como o custo do deslocamento para regiões distantes é alto, vale mais comprar o material, quando possível, na própria região em foco.
Dois estados
Já a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e a rede Cáritas Brasileira conduzem campanha emergencial SOS Bahia e Minas Gerais: Solidariedade que Transborda, em auxílio às famílias desabrigadas ou desalojadas dos dois estados. A iniciativa busca arrecadar recursos para compra de alimentos, água potável, roupas, fraldas infantis e adultas, artigos de higiene pessoal e de proteção contra a COVID-19, com distribuição pelas Cáritas diocesanas próximas às áreas críticas.
Em nota, a CNBB e a Cáritas apresentaram um panorama da situação: “As pessoas tiveram que abandonar suas casas devido às inundações e aos riscos de deslizamentos de terra e desabamentos. Frente à triste situação, agravada pela pandemia, estamos mobilizados na campanha SOS Bahia e Minas Gerais: Solidariedade que Transborda”.
Portas abertas
Com a SOS Chuvas MG 2021/2022, o Servas informa que tem como intuito “mobilizar parceiros, sociedade civil organizada e iniciativa privada para uma grande campanha de arrecadação de alimentos não perecíveis, água potável, colchões, roupas de cama e banho, materiais de limpeza e produtos de higiene pessoal”. Todo o material recebido se destina à Defesa Civil Estadual e às entidades/instituições sociais que estão acolhendo as famílias desabrigadas ou desalojadas pelas enchentes. Segundo os organizadores da ação, “a necessidade por esses itens é iminente, as demandas são crescentes e podem ser agravadas com a chegada de novos temporais”.
A presidente do Servas, Aléxia Rodrigues de Paiva Brant, destaca: “Sabemos da generosidade dos mineiros e contamos com esse apoio. Estamos de portas abertas para receber sua solidariedade. Vamos unir forças para superar mais esse momento de dificuldade.”
Os donativos arrecadados na sede da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em BH, são entregues à Cruz Vermelha para distribuição. O programa Assembleia Solidária prioriza a arrecadação de alimentos não-perecíveis, água mineral, artigos de higiene pessoal e de limpeza, sendo aceitas doações em dinheiro. Entre os produtos arrecadados até o fim de dezembro, estão: 494 galões de 5 litros de água, 396 garrafas de meio litro de água, 155 cestas básicas, 236 kg de roupas para adultos e crianças, 109 kg de roupas de cama, 169 pares de sapato, 170 rolos de papel higiênico, 135 bisnagas de creme dental e 130 sabonetes.
Situação em Minas
O governo estadual, via Gabinete Militar do Governador (GMG) e Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), informam que mantêm a força tarefa composta pelos diversos órgãos do estado para acompanhar e atuar no enfrentamento aos eventos adversos que envolvem as cidades mineiras atingidas pelas chuvas intensas desde 7 de dezembro, nos vales do Jequitinhonha e Mucuri e, mais recentemente, nos municípios do Norte de Minas e Zona da Mata.
A atuação, conforme nota do governo, segue intensa nos municípios atingidos pelas chuvas no feriado de Natal e em 27 de dezembro, sobretudo em Porteirinha, Salinas, Rio Pardo de Minas, Almenara, Rubelita, Santo Antônio do Jacinto, Santana do Deserto, Barra Longa e outros. “Desde o início do período chuvoso, houve seis mortos, 50 feridos, 2,6 mil desabrigados e 11,3 mil desalojados”.
Como ajudar
1) Cruz Vermelha – filial Minas Gerais
Doações podem ser feitas pela conta:
Bradesco
Agência: 513-4
Conta corrente: 14215-8
CNPJ: 06.974.176/0001-20
Pix: 06.974.176/0001-20
2) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Cáritas Brasileira
Doações podem ser feitas pelas contas:
Banco do Brasil
Agência: 0452-9
Conta corrente: 50.106-9
Caixa Econômica Federal
Agência: 1041
Operação: 003
Conta corrente: 1132-1
PIX – chave – CNPJ 33.654.419/0001-16 – Cáritas Brasileira
3) Servas (SSA) em parceria com a Cedec órgãos estaduais
A inclusão de novos pontos de coleta e horários estendidos para recebimentos das doações serão divulgados no site e redes sociais: servas.org.br, @servas_oficial (Instagram) e servasMG (Facebook)
4) Assembleia Legislativa de Minas Gerais
Os itens doados podem ser entregues no posto de arrecadação do programa Assembleia Solidária, no hall do Palácio da Inconfidência, que fica na Rua Rodrigues Caldas, 30, Bairro Santo Agostinho, BH
No Norte de Minas
- O que pode ser doado
Roupas, alimentos, cobertores, colchões, fraldas, produtos de higiene
- Onde entregar as doações
Montes Claros
- SOS Bahia e Minas Gerais:
Solidariedade que Transborda
Pontos de entrega: Secretariado Paroquial da Catedral Metropolitana de Montes Claros (Praça da Catedral, S/N, Centro); Colégio Marista São José (Rua Padre Champagnat, 81 - Roxo Verde); Montes Claros Shopping Center (Avenida Donato Quintino, 90 – Cidade Nova).
- Campanha do Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas (Codanorte)
Ponto de entrega: Rua Tupis, 437, primeiro andar, Bairro Melo.
Salinas
- Campanha de recebimento de doações da 16ª Sub-Seção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Praça Joao Pessoa, 28, Centro
Doações em dinheiro
Banco do Brasil
Agência 0976-8
conta: 19.000-4
Pix – chave CNPJ 19.984.848/0001-20
Janaúba
- Campanha da Defensoria
Pública Estadual
Ponto de entrega:
Rua Américo Soares, 567
Cidades fazem rede de solidariedade
“Teve gente que perdeu tudo. Que só ficou com a roupa do corpo”, afirma Richarley Viana Dias, coordenador da Defesa Civil de Salinas, um dos municípios do Norte de Minas mais castigados pelas inundações. Para ajudar as famílias desabrigadas ou desalojadas, foram desencadeadas várias campanhas para arrecadar doações e só a solidariedade é capaz de ajudar em uma situação como essa. Apesar da mobilização, são necessárias mais doações.
Em Salinas, conhecida como “capital nacional da cachaça”, de acordo com números da prefeitura, 1.428 pessoas ficaram desalojadas e 25 estão desabrigados, depois que o Rio Salinas transbordou e inundou vários partes da cidade, no início da semana.
Famílias inteiras estão nos abrigos montados pela prefeitura, recebendo alimentação e donativos, arrecadados na própria cidade e também vindo de outras, como Conceição do Mato Dentro.
Além da Prefeitura de Salinas, a subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) realiza a mobilização para receber alimentos, roupas, produtos de limpeza e outros materiais para as famílias desabrigadas e desalojadas, recebendo também doações em dinheiro.
Porteirinha
“As pessoas têm sido muito solidárias. Recebemos doações de vários lugares, não somente da nossa região, mas também de Belo Horizonte e até de São Paulo”, agradece Delvandir José Martins, coordenador municipal de Defesa Civil de Porteirinha, outro município norte-mineiro castigado pelas chuvas.
O Rio Mosquito, que corta Porteirinha, transbordou e inundou a parte baixa da cidade, onde 265 tiveram que deixar suas casas, perdendo móveis, colchões, eletrodomésticos e outros bens. Até quinta-feira, depois que a água baixou, 50 famílias continuavam desalojadas nas casas de parentes e amigos.
Conforme a Defesa Civil Municipal de Porteirinha, outras 35 famílias ficaram desabrigadas, pois tiveram suas moradias danificadas ou com a estrutura comprometida. Elas foram levadas para abrigos instalados nas casas paroquiais de duas igrejas católicas da cidade e no Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Maria Clara.
A prefeitura lançou uma campanha para o recebimento de roupas, alimentos, produtos de limpeza e outros donativos para as vítimas das chuvas, divulgada nas redes sociais. As doações estão sendo entregues nos abrigos e em outros pontos da cidade, entre os quais o quartel local da Polícia Militar (PM).
Janaúba
A mobilização em prol das doações para as vítima das chuvas também é realizada em Janaúba (distante 30 quilômetros de Porteirinha). A campanha foi deflagrada pela Defensoria Pública Estadual. “Podem ser doados alimentos não perecíveis, artigos de vestuário e produtos de higiene”, afirma o defensor público Gustavo Dayrell, um dos responsáveis pela iniciativa na cidade. Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a Defensoria Pública organiza campanha de doações voltadas para famílias desabrigadas por causa das chuvas no município de Santana do Deserto, na mesma região.
Em Montes Claros, cidade-polo do Norte de Minas, foram iniciadas várias campanhas para arrecadação de donativos para as vítimas das chuvas na região. A Cáritas Arquidiocesana, da Arquidiocese de Montes Claros, com o apoio do Montes Claros Shopping Center, Colégio Marista São José e outras entidades, trabalham para a campanha SOS Bahia e Minas Gerais: Solidariedade que Transborda.
Outras instituições da cidade também se mobilizaram na ajuda humanitária para as vítimas das chuvas, entre elas o Corpo de Bombeiros Militar, a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e o Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas (Codanorte).