Nunca se desejou tanto saúde como nesses tempos de pandemia. E hoje, Dia de Reis, quando se encerra o ciclo natalino, é hora de renovar os votos associados a muita paz, fraternidade, prosperidade e vacina contra o coronavírus. Independentemente da crença, vale reverenciar as tradições e fazer a simpatia das romãs a fim de garantir um dinheiro extra no bolso, sorte e “saúde para dar e vender”, como diz a famosa canção de feliz ano-novo.
Então, mãos à obra, leitor. Faça o seguinte: engula três caroços, jogue o mesmo número de caroços para trás e guarde mais três deles na carteira. E vá repetindo a frase “Gaspar, Belquior e Baltazar, que o dinheiro não venha me faltar”. Há ainda quem dobre a contagem, usando seis sementes, numa referência ao dia 6, quando os reis magos visitaram o Menino Jesus.
No Mercado Central de Belo Horizonte, na Região Centro-Sul da capital, há romãs de todos os tamanhos e procedência. Na barraca Magno Frutas, a estrela da festa de reis custa R$ 25 a unidade importada de 700 gramas. “Bem grande”, enfatiza o vendedor José Vitor. Já a fruta cultivada no Brasil é vendida por R$ 10, pesando meio quilo. Entre as duas opções, vale a fé, acrescenta José Vitor. No concorrente Barraca do Patureba, só é oferecida a romã espanhola, com R$ 400 gramas, e preço de R$ 20. “Vendeu bem no fim de ano e agora vamos esperar o movimento hoje, dia 6”, diz um vendedor.
Caminhando pelos corredores do tradicional centro de compras e cultura de BH, é possível encontrar romãs oferecidas por até R$ 30, mas a atriz – e agora benzedeira – Cynthia Paulino, de 52 anos, optou por pagar uma opção a R$ 10. “Passei na banca de frutas e parecia que a romã estava me chamando”, brincou Cynthia, que recupera, em 2022, um costume da sua adolescência. “Minha avó Catarina, que era benzedeira, nunca deixava de fazer. Aprendi muito com ela, nascida em família italiana”, disse a atriz. Nesta pandemia, ela se iniciou no ofício de benzedeira, com a valorização da ancestralidade e da percepção sobre o sagrado.
Visitação
Em Jaboticatubas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o período natalino chegou com novidades para moradores de visitantes. O presépio gigantesco foi montado no salão paroquial da Matriz Nossa da Conceição, com novas imagens dos reis magos moldadas com 1,20 metro de altura, e feitas artesanalmente em São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes. As imagens foram custeadas com recursos da comunidade.
Hoje, a partir das 18h, haverá apresentação da Folia de Reis de Jaboticatubas na igreja matriz, informa o titular da paróquia, padre Diovane Morelli. “Nestes tempos, o Dia de Reis fortalece nossa busca por Deus, principalmente por segurança, saúde e paz”, diz o pároco. O presépio ficará aberto até 2 de fevereiro, Dia de Nossa Senhora da Luz, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, e nos fins de semana também à noite.
No Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, também na Grande BH, haverá missas às 9h e às 15h e terço às 18h15. Segundo a Arquidiocese de Belo Horizonte, não é mais necessário fazer agendamento para participar das celebrações. Já em Santa Luzia (RMBH), haverá, ao longo do domingo, a 3ª Jornada dos Santos Reis, incluindo oficina com a artista plástica Bernardete Fiorini e ação celebrativa com a Folia de Santos Reis do Bairro Paulo VI, de BH. A promoção é da Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia.
Patrimônio
As folias de reis de Minas celebram o quinto ano de seu reconhecimento como Patrimônio Cultural do estado, com mais 1,6 mil grupos cadastrados em todas as regiões mineiras. Os estudos foram feitos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) em parceria com as prefeituras. Em 2017, após um ano de pesquisa e identificação por meio de cadastro virtual disponível no portal do Iepha, o Conselho Estadual de Patrimônio Cultural de Minas Gerais aprovou por unanimidade o registro das folias como patrimônio cultural de natureza imaterial.
Os grupos cadastrados estão presentes em mais de 400 municípios, com destaque para Uberaba com 133, João Pinheiro (34), Uberlândia (32), Presidente Olegário (30) e Sete Lagoas (29). Uma das práticas culturais mais antigas e difundidas no estado, as folias, também denominadas ternos, companhias, caravanas, entre outras designações, foram se tornando, ao longo dos anos, um componente de considerável importância na construção do imaginário popular, da identidade e memória do povo mineiro.
Como ação de salvaguarda das Folias de Minas, o Iepha-MG promove desde 2016 o Circuito de Presépios e Lapinhas. A edição de 2021 integrou de forma especial a programação dos 50 anos do instituto, e contou com mais de 500 presépios residenciais e comunitários de 302 municípios de todas as regiões do estado.