Jornal Estado de Minas

Clima

Risco de deslizamentos assusta moradores de Ouro Preto


Ouro Preto – Alerta máximo em Ouro Preto, na Região Central de Minas. Com as chuvas da última semana, e previsão de mais temporais na média de 200 milímetros para os próximos dias, a prefeitura local já retirou nove famílias, no total de 32 pessoas, de casas nas ruas Desidério de Matos e Francisco Isaac, no Caminho das Fábricas, a cinco quilômetros do Centro Histórico. No início da tarde de terça-feira (4/1), houve deslizamento de terra numa encosta, sem ocasionar vítimas. Das nove famílias, sete foram para a casa de parentes e amigos, e duas levadas para um abrigo provisório. Segundo o secretário municipal de Defesa Social, Juscelino Gonçalves, todos os órgãos municipais e o Corpo de Bombeiros estão de prontidão 24 horas.



Ouro Preto tem 313 pontos críticos de risco geológico, conforme o Centro Nacional de Risco Geológico, que atingem cerca 6,5 mil pessoas residentes nas partes mais altas. O município tem 65 mil habitantes, podendo chegar a 100 mil com a população universitária; portanto, cerca de 10% vivem sob ameaça. “A faixa de risco geológico atravessa grande parte do município, passando pelo Centro Histórico (que é patrimônio mundial)”, afirma o secretário. O problema maior, explica, se encontra na conformação geológica, que tem as rochas itabirito e filito. “Se chove demais, o solo encharca e causa os deslizamentos de massa de terra.”

A poucos metros da Praça Tiradentes, no coração do Centro Histórico, é possível ver o efeito implacável das chuvas na cidade, com estrutura do século 18 e dinâmica do 21. Na Rua Padre Rolim, houve queda do muro de arrimo de pedras de uma casa, perto da Igreja das Mercês, devido ao encharcamento do terreno. Uma lona preta cobrindo o buraco e grades ao longo do passeio foram colocados – dá para ver, da via pública, móveis da residência na varanda.

Formação geológica das encostas eleva o risco de deslizamento na área próxima a Passagem de Mariana


Vistoria


Na manhã de ontem, com a chuva dando momentos de trégua, a equipe do EM visitou pontos críticos de Ouro Preto na companhia do secretário Juscelino Gonçalves e do coordenador da Defesa Civil Municipal, Nery Moutinho. A primeira parada foi na Rua Desidério de Matos, onde ocorreu o deslizamento. A viúva Maria Auxiliadora Martins, de 61 anos, mora há 34 na casa agora vazia e diz que tudo foi construído "com muito suor". Dando graças a Deus por estar viva, ela acredita que o jeito será mudar. “Aqui são duas moradias, meu filho, que também saiu, reside na outra parte. Estou na casa da minha filha, aqui perto.”



O filho de Maria Auxiliadora, Glayson Martins, de 41, motorista, saiu com a família e se indigna com situação. “A responsabilidade do deslizamento é de moradores da rua lá de cima (Francisco Isaac), pois fizeram aterros sem autorização. Não posso perder minha casa e ficar no prejuízo”, desabafou o motorista. O secretário explicou que, durante décadas, houve ocupação desordenada em Ouro Preto, sem fiscalização, especialmente nas áreas elevadas: “Agora estamos fazendo o serviço, acionando o Ministério Público em determinados casos, enfim, fazendo a fiscalização".

Na próxima parada, a Rua Vereador José Teixeira, um ponto de ônibus terá que ser demolido. Faixas zebradas isolam o equipamento urbano. Nery Moutinho disse que será necessário fazer uma “leira” ou canaleta para escoamento da água pluvial. A rachadura no asfalto chama a atenção de quem passa e, evidentemente, é obrigado a mudar de passeio.

Maria Auxiliadora Martins deixou a casa onde mora há 34 anos e hoje está morando com uma filha. Fala em se mudar


Apreensão


No Bairro Piedade, uma equipe do Corpo de Bombeiros está no local e conversa com moradores. Moutinho lembra a tragédia ocorrida em 1996, quando 12 pessoas morreram em decorrência de desmoronamento de casas durante a estação chuvosa. “Foi muito triste”, lamenta.



Na Rua da Abolição, Maria Iris do Carmo Guimarães, que reside há 10 anos com o marido e dois filhos, teme pela segurança de todos. “Ando apreensiva. A estrutura da minha casa é de pedra e bem forte. O problema está na encosta.” A equipe da prefeitura não viu necessidade, por enquanto, de retirada da família, mas vai verificar, numa residência mais acima do imóvel, as condições de uma piscina que pode aumentar os riscos de mobilização de terra. A presença do conjunto histórico de Ouro Preto está bem na porta da casa de Maria Iris, onde há um chafariz. “Mas traz muita umidade. Essa água não é Boa, não”, alerta.

No Bairro Taquaral, última parada na manhã de ontem, houve deslizamento de terra em 2012, com desocupação de 46 casas e retirada de 200 pessoas. Os repórteres notam que esses bairros de Ouro Preto localizados em áreas de beleza natural e desconhecidos dos visitantes, mostram uma cidade bem diferente do Centro Histórico, reconhecido em 1980 como patrimônio mundial. O cenário se assemelha a um ato em que se abrissem as cortinas e ficassem expostas as entranhas da cidade.

Maria Iris do Carmo Guimarães diz que a estrutura da casa onde mora é forte, mas o risco está na encosta


Num caminho do Taquaral, passagem natural para moradores, houve também deslizamento de barranco, nos últimos dias. As casas se encontram com cadeados nas portas, mostrando que é proibido morar. Sem dúvida, a chave para a segurança está mesmo em cuidado e autoproteção.





Plano


A fim de reduzir os danos, a Prefeitura de Ouro Preto conduz o Plano Municipal de Redução de Riscos, em parceria com as universidades federais de Viçosa (UFV) e Ouro Preto (Ufop) e a Defesa Civil Municipal. A partir da carta geológica, o objetivo é colocar em prática ações de alerta e prevenção nesta época do ano.

Segundo o secretário Juscelino Gonçalves, a Defesa Civil Municipal tem feito um trabalho com moradores de Ouro Preto no sentido da autoproteção, o que se significa que as pessoas devem aprender a identificar rachaduras, movimentação de solo, minas de água que aparecem de repente. “A máxima, em todo o Brasil, da Defesa Civil, é que os moradores aprendam a identificar os riscos geológicos para evitar acidentes".

Pontos críticos


1) Bairro Padre Faria

» Deslizamento de barranco levou à retirada de nove famílias na Rua Desidério de Matos

2) Rua Vereador José Teixeira
» Movimentação de terra causa rachadura no asfalto, na frente do ponto de ônibus

3) Bairro Piedade
» Na Rua da Abolição, atenção de moradores está voltada para os barrancos. Em 1996, 12 pessoas morreram no bairro

4) Taquaral
» Já existe deslizamento de terra. Em 2012, 200 pessoas foram retiradas de 46 imóveis

5) Na Rua Padre Rolim
» Perto da Praça Tiradentes, no Centro Histórico, muro de uma casa caiu. Do outro lado da rua fica a Igreja das Mercês e mais à frente a Escola de Minas.




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