Jornal Estado de Minas

PERIGO À VISTA

Após Ômicron e gripe, BH teme epidemia de dengue e reforça equipes na Saúde


Velha inimiga da saúde pública, a dengue pode agravar o cenário epidemiológico da capital mineira nas próximas semanas, apertando o gargalo sobre o sistema de saúde, já pressionado pela nova onda da COVID-19 e pela gripe H3N2. A projeção é da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte.





Temendo a explosão de casos da doença, sinalizada nos índices de infestação do Aedes aegypti e pelo grande volume de chuvas registrado desde outubro do ano passado, a prefeitura tenta se antecipar à crise por meio do reforço das equipes das unidades de atendimento e combate aos focos do mosquito. A questão também preocupa o Comitê de Enfrentamento à COVID-19, que faz um apelo à população da capital: “É hora de redobrar os cuidados com a água parada”.

O diretor de Zoonoses, Eduardo Viana, explica que alguns fatores sugerem que 2022 será um ano epidêmico para a virose. Segundo o gestor, os surtos são cíclicos, espaçados pelo período médio de três anos. O último pico ocorreu em 2019, quando foi necessário abrir unidades específicas para o tratamento da doença e recorrer ao Exército para auxiliar no atendimento. “Isso não é exatamente uma regra, mas nós percebemos esse ciclo aparente, afetado por algumas variáveis. Por exemplo, a dinâmica de circulação dos sorotipos do vírus”, esclarece Viana. “Outro fator são as condições climáticas. Este ano choveu muito. Muita umidade e muito calor favorecem a proliferação do mosquito transmissor, cujas larvas se desenvolvem em água parada”, complementa.

Números do último Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), realizado em outubro de 2021, também despertam preocupação nas autoridades sanitárias. O indicador monitora a infestação larvária na cidade. O LIRAa registrado na capital mineira na ocasião foi de 1,9, o que significa que, a cada 100 imóveis visitados pela Secretaria Municipal de Saúde, em quase dois foram encontrados focos do Aedes. De acordo com a padronização do Ministério da Saúde, o índice recomendado para minimizar o risco de epidemia é de até 1.





“Esse é um índice considerado de médio risco. Mas em algumas regiões, como Pampulha, Noroeste e Leste, os números estão mais altos, chegam a 2,7. Com a intensificação das chuvas, é possível que haja aumento. O LIRAa não é definitivo para a ocorrência de epidemia. Mas, conjugado a outros fatores, como as condições climáticas e o comportamento do vírus, ele nos dá uma ideia do que esperar e de como precisamos atuar. E o que o levantamento tem nos mostrado é que precisamos agir rápido para minimizar o adoecimento da população, principalmente neste momento”, analisa o diretor da Zoonoses.

Contratações

De acordo com a  subsecretária de Atenção à Saúde, Taciana Malheiros, o município já contrata profissionais de saúde para enfrentar um possível triplo efeito das infecções –  dengue, COVID-19 e gripe – nas unidades assistenciais. “Nesta semana, fizemos 173 contratações para as unidades de pronto-atendimento (UPAs). Entre elas, 84 médicos, além de mais de 90 profissionais para garantir o horário ampliado nos centros de saúde”, descreve a dirigente. Desde 24 de dezembro, a PBH contabiliza 720 admissões – 109 de médicos – e diz manter ativo o banco de currículos.

Outra ação elencada pelo Executivo é o combate aos focos de larvas por diversos métodos. Um deles é o método Wolbachia, que consiste na liberação de Aedes aegypti inoculados com a bactéria Wolbachia. Uma vez presente nesse mosquito, ela impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana se desenvolvam dentro dele.



Ainda segundo a prefeitura, o arsenal contra a dengue inclui aplicação de larvicida por meio de drones, intensificação das visitas domiciliares – 3,2 milhões de vistorias em 2021 – , e uso de inseticida a ultrabaixo volume (UBV) para o combate a mosquitos adultos em áreas com casos suspeitos de transmissão local. A secretaria contabiliza cerca de 7 mil imóveis desinfetados com UBV em todo o ano passado.

Alerta

O Aedes aegypti também está no radar do Comitê Municipal de Enfrentamento da COVID-19. “Desde o fim do ano passado, começamos a perceber o aumento do LIRAa  em algumas regiões da cidade. É mais uma variável sobre a qual nos debruçamos. Um surto de dengue, agora, somado à gripe e à COVID-19, seria uma tempestade perfeita sobre o sistema de saúde. Então, temos acompanhado com atenção”, relata o infectologista Carlos Starling, um dos membros do comitê.

Em 2019, a prefeitura teve que destinar unidades de saúde exclusivamente aos casos de dengue e recorreu ao Exército para ampliar atendimentos (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press 14/5/19)
O médico alerta para a necessidade de atenção aos cuidados preventivos contra a proliferação do mosquito. “Não podemos atuar nas condições climáticas e pouco podemos fazer sobre a circulação dos sorotipos do vírus. O que podemos fazer é cuidar do atendimento aos doentes, o que é papel do Estado, e da eliminação dos focos – e, aí, a população tem um papel importantíssimo. É hora de redobrar os cuidados com a água parada”, recomenda.





MG registrou mais de 14 mil casos e 6 mortes em 2021

Levantamento do Ministério da Saúde divulgado em novembro do ano passado apontou elevação de casos de dengue em 2021 em 12 estados, na comparação com 2020. No Amapá, os casos passaram de 53 para 241 entre um ano e outro. Em Alagoas, foram registrados 2,2 mil casos em 2020 e 6,3 mil em 2021. No Rio Grande do Sul, foram 9,9 mil casos registrados, contra 3,9 mil em 2020. Em Minas Gerais, entretanto, a relação foi inversa. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde, o estado registrou 20.910 casos prováveis de dengue até 6 de dezembro do ano passado, contra 80.909 em 2020. Desse total, 14.239 casos foram confirmados para a doença. Foram confirmados seis óbitos por dengue até aquela data.

Em relação à febre chikungunya, foram registrados 5.565 casos prováveis da doença e, desse total, 4.291 casos foram confirmados. Foi confirmado um óbito por chikungunya em Minas Gerais até a mesma data.  Já em relação à zika, foram registrados 94 casos prováveis e, desse total, 23 confirmados. Não foram confirmados óbitos por zika.

Em novembro, o Ministério da Saúde lançou a campanha nacional de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, com divulgação, até 31 de dezembro, na TV e nas redes sociais, de vídeos educativos para evitar a proliferação das doenças.





A campanha foi intitulada “Combata o mosquito todo dia, coloque na sua rotina” e estava focada no objetivo de mobilizar a população para retirar água acumulada de calhas, garrafas, sacos de lixo, pneus e outros recipientes que podem se tornar criatórios do mosquito.

Durante coletiva de lançamento da campanha, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, conclamou a população a estar vigilante no combate ao Aedes aegypti. “É a você cidadão brasileiro que a gente dirige a palavra e pede para que redobremos os nossos cuidados para que possamos combater o mosquito todo dia e coloquemos esse combate na nossa rotina. Neste momento, precisamos de seu apoio para combater o mosquito, erradicar e ter controle das doenças”, afirmou.