Os moradores do distrito de Sebastião das Águas Claras, região conhecida como Macacos, em Nova Lima, amanheceram com um rio de lama cobrindo as ruas nesta terça-feira (11/1). Em um vídeo que circula nas redes sociais, um homem mostra grande quantidade de água descendo a cerca de 100 metros do Bar do Marcinho. Segundo ele, um dique teria se rompido.
Além disso, as chuvas dos últimos dias trouxeram outros transtornos. Grande parte da cidade está sem energia elétrica e o abastecimento de água foi interrompido em alguns locais. A ponte na entrada do distrito está debaixo d’água e vários acessos estão interditados.
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Para conter enchentes, Cemig adia abertura das comportas de Três MariasRio das Velhas sobe e Jequitibá interdita principal ponte da cidadeHomem que fazia escalada morre ao ser atingido por raio na Serra do CipóMorador de Macacos cansa de esperar e tapa buracos por conta própriaValadares suspende serviços essenciais e acumula 8 mil desalojadosEle explica que depois do episódio da sirene da Vale no distrito, em 2019, a mineradora construiu uma barragem de contenção, a pouco mais de um quilômetro do centro, seguindo o rio. “Essa barragem está cheia e segurando água acima do nível da ponte. Desde de domingo, por volta das 18h, a ponte está debaixo d’água.”
Ela é o principal acesso do distrito para a BR-040. “Moro aqui desde 1980. É a primeira vez que vejo a ponte coberta de água. Somado a isso, entre ontem e hoje caíram vários pedaços de estrada, no acesso da vila para a MG-030.”
Segundo ele, só existem dois pequenos acessos agora. “Um pelo terreno da própria Vale, que também tem alguns acessos caídos. E outro por um condomínio chamado Pasárgada. Acontece que por esse condomínio, dependendo do momento, a ponte está com água passando por cima dela. Então, às vezes, passam carros e em outras só caminhonete.”
“Moradores dos bairros Capela Velha e Estrada dos Mendes estão realmente ilhados. Por causa do tal muro de contenção que a Vale fez desprezando o nível das pontes de acesso”, explica.
Para completar, Augusto conta que cerca de 70% do distrito está sem energia elétrica desde às 14h de segunda-feira (10/1). “Tem uma parte do centro com energia ainda. O abastecimento de água também foi interrompido ontem de noite e não há previsão de retomada. A Copasa local está em uma área afetada pela falta de energia, no caso o Bairro Jardim Amanda.”
Ele ressalta que não há muito o que fazer diante da situação e reclama do descaso das autoridades.
"Estamos basicamente esperando para ver se a chuva para e o nível da água baixa. De ontem para hoje o nível continua subindo e a informação que temos agora é de que a água chegou no ponto máximo da barragem. Agora é esperar baixar. Mais uma vez Vale, prefeitura, governo do estado... está todo mundo omisso, ninguém faz nada e a gente fica à mercê”, desabafa.
Preocupação com a barragem
A população teme o rompimento da barragem B3/B4, mantida pela Vale em Macacos. Mesmo com os registros feitos pelos moradores em vídeo, a Defesa Civil Estadual e o Corpo de Bombeiros não confirmam a informação.
A Vale nega qualquer abalo na estrutura. Por meio de nota, a empresa menciona "um deslizamento de terra natural provocado pelas chuvas intensas".
"A estrutura de contenção a jusante (ECJ) apresenta condições normais de operação e permanece estável. O acúmulo da água retida na contenção, provocado pelas intensas chuvas na região, com volume aproximado de 565 mm somente neste sábado e domingo, não interferiu na sua estabilidade e função, ou seja, a estrutura continua sendo capaz de reter os rejeitos em caso de necessidade”, garantiu a mineradora em comunicado enviado ao Estado de Minas.
A Vale informou ainda que está apoiando a prefeitura e a Defesa Civil com recursos e equipamentos para prestar assistência à comunidade.
O que dizem as autoridades
Por meio de nota, a Prefeitura de Nova Lima afirmou que “por enquanto, o acesso à região central do bairro se dá pelas estradas que ligam ao Vale do Sol (Pasárgada e Campo do Costa). Isso porque, no momento, a estrada que liga a BR-040 a São Sebastião das Águas Claras (Macacos) segue interditada, dependendo de uma intervenção da Cemig, em um trecho, além da redução do nível de água, já que a ponte se encontra submersa desde a manhã de domingo (9/1)".
"Em outro ponto, parte da estrada que dá acesso à Capela Velha (que liga a sede de Nova Lima ao distrito) cedeu e está interditada. A chegada à comunidade do Capela Velha se dá, exclusivamente, por veículos de grande porte, pois a ponte entre o local e o centro de Macacos também está debaixo d’água.”
Em relação aos registros do rio de lama que atingiu as ruas nesta manhã, a prefeitura disse que “a equipe da Coordenadoria de Proteção e Defesa Civil foi até o local, na manhã desta terça-feira (11/1), para averiguar a situação. Os vídeos e imagens que circulam na internet tratam de um deslizamento de terra natural provocado pelas fortes chuvas na região.”
A prefeitura ressaltou ainda que, “no momento, não há indicação para retirada de pessoas, mas a Defesa Civil segue monitorando as estruturas regularmente, além dos demais pontos onde há registros de ocorrências ou riscos de deslizamento de terra, inundações e outros reflexos das chuvas. Caso haja necessidade de retirar pessoas das casas, equipes da prefeitura e da Defesa Civil estão preparadas para agir.”
E concluiu que “mantém uma equipe da Defesa Civil Municipal atuando na região, assim como uma guarnição da Guarda Civil Municipal, além de serviços de assistência social diários". "As equipes da prefeitura auxiliam no atendimento aos moradores, na entrega de cestas básicas, água e outros itens e também no deslocamento emergencial de quem precisa entrar ou sair de Capela Velha. Máquinas foram deslocadas para atuar na desobstrução de vias.”
Também em nota, a Cemig informou que “foram registradas quedas de poste e de árvores, causando o rompimento de condutores, em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), em função das fortes chuvas que atingiram a região. Equipes da companhia se encontram no local neste momento executando o serviço de recomposição da rede e realizando manobras para religamento do circuito. A previsão é de que a energia seja restabelecida aos clientes afetados ainda na noite de hoje (11/1).” A empresa destaca que “houve dificuldade de acesso aos locais das ocorrências devido a alagamentos e queda de barreiras.”
Já a Copasa disse, em nota, que “o grande volume de chuva que cai em parte do estado de Minas Gerais tem causado o desabastecimento de água em cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Centro-oeste, Leste, Sul e Zona da Mata".
"O abastecimento de água da RMBH está normal, com exceção de Brumadinho, Vale do Sereno e Macacos (Nova Lima) que foram impactados por inundações tendo suas estações de tratamento de água paralisadas.”
A empresa ressalta que as equipes estão mobilizadas para restabelecer o abastecimento o mais rápido possível nessas regiões. “A empresa também está prestando apoio aos desalojados e desabrigados, recolhendo doações e distribuindo água potável, além do apoio às ações da Defesa Civil de cada município. A Copasa reforça que o uso racional da água é importante em qualquer estação do ano e, mais ainda, quando ocorre algum tipo de interrupção de abastecimento.”
Veja a nota da Vale na íntegra:
“A Vale segue acompanhando o cenário de fortes chuvas em Minas Gerais com foco na segurança de suas barragens. A empresa informa que não houve alteração estrutural ou no nível de emergência em nenhuma de suas estruturas da mina Mar Azul, em Macacos (Nova Lima). Os vídeos e imagens que circulam na internet tratam de um deslizamento de terra natural provocado pelas fortes chuvas na região. A empresa segue monitorando as barragens da mina 24h por dia, 7 dias por semana, em tempo real, por meio do Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG), de acordo com a legislação vigente.
A estrutura de contenção a jusante (ECJ) apresenta condições normais de operação e permanece estável. O acúmulo da água retida na contenção, provocado pelas intensas chuvas na região, com volume aproximado de 565 mm somente neste sábado e domingo, não interferiu na sua estabilidade e função, ou seja, a estrutura continua sendo capaz de reter os rejeitos em caso de necessidade.
Desde o último domingo (9) a noite, as fortes chuvas ocasionaram o início da passagem de fluxo de água pelo vertedouro da estrutura de contenção, condição prevista no projeto. A contenção foi construída como medida de segurança para o processo de eliminação da barragem B3/B4. A estrutura também conta com um sistema de comportas na sua base, que encontram-se abertas, por onde a água passa e segue o fluxo do rio após a contenção. A Vale segue monitorando possíveis impactos no entorno da ECJ.
Por orientação da Defesa Civil e para garantir a segurança da comunidade, o acesso por dentro do condomínio Pasárgada foi aberto no último domingo (9), e poderá ser utilizado pela comunidade de Macacos. O acesso interno da Mina de Mar Azul não se encontra em condições seguras para trânsito de veículos não operacionais.
As barragens B6, B7, Capão da Serra e Taquaras possuem DCE positiva, a barragem 5 encontra-se em nível 1 de emergência e B3/B4 permanece em nível 3 de emergência.
Assistência
A Vale também está apoiando a prefeitura e a Defesa Civil com recursos e equipamentos para prestar assistência à comunidade.”
*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Ricci