Os pés cansados de quem trabalha duro para conseguir o ganha-pão da família hoje estão cobertos de lama. São pequenos comerciantes das cidades atingidas pelas enchentes dos últimos dias em Minas Gerais que começam a fazer a limpeza dos estabelecimentos e passam a contabilizar os estragos.
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Sabará suspende transporte público após ser devastada por temporalVeja os estragos provocados pelas chuvas em Sabará'Mesma situação de 2020', diz morador de Sabará sobre as enchentes Brasil é palco de tolerância com riscos e políticos avessos a planejamento“Reeguer? Só com trabalho, fé em Deus e vamos lá tocar a vida”, descreve Ezio Rosa de Jesus, de 35 anos. O metalúrgico é filho da proprietária de um bar no Bairro Santo Antônio das Roças Grandes, que chegou a ficar intransitável por conta da cheia do curso d’água entre domingo (9/1) e segunda-feira (10/1). “Nós tínhamos pensado que esse ano não ia encher e acabou enchendo de novo”, lembra da enchente de 2019.
No bar que também funciona como restaurante servindo almoço aos trabalhadores da região, a água chegou até o teto: foi prejuízo total. “Perdeu a geladeira, o freezer, fogão industrial, bebida e comida. Agora é recomeçar. Esse é o hobby e ganha-pão da minha mãe”, explica, empenhado em ajudar a lavar a sujeira deixada pelo aguaceiro que passou pela cidade.
“Chegou nem a completar dois anos que nós perdemos tudo. Quando começamos a reerguer, veio a enchente, depois veio a Covid, e agora que estava dando uma melhorada, veio a enchente novamente”, recorda. “E a gente nem pode contar com ajuda de governo nem prefeitura. É tudo farsa. Mas tudo bem, a gente aperta aqui, aperta ali e volta. Vamos conseguir de novo. Minha mãe é batalhadora”, finaliza.
Planos frustrados
Ao lado do bar está a casa de ração de Angélica Aparecida Baião, de 38 anos. A comerciante estava feliz e cheia de planos há um mês, quando ampliou seu negócio e conseguiu uma loja maior para trabalhar.
Trinta dias depois, ela assistiu do apartamento de cima sua loja ser inundada por completo. Só deu tempo de resgatar os bichos: patos, coelhos, pássaros e galinhas. Animais que ela comercializava com amor.
Trinta dias depois, ela assistiu do apartamento de cima sua loja ser inundada por completo. Só deu tempo de resgatar os bichos: patos, coelhos, pássaros e galinhas. Animais que ela comercializava com amor.
“Eu deixei os bichos na prateleira mais alta e tivemos que quebrar a janela para pegá-los", conta. “Eu comecei meu comércio há um ano e meio e mudei pra cá em dezembro, com mais espaço para mais mercadorias. Veio a enchente e acabou com tudo”, lamenta Angélica.
Colaboração na limpeza
A poucos metros dali, atravessando a ponte sobre o Rio das Velhas, é possível encontrar uma força-tarefa para limpar o primeiro boteco da cidade, ainda na MG-262. Os donos do Bar das Mangueiras contam que o rio começou a subir de nível na sexta-feira (7/1), mas foi na noite de sábado (8/1) para domingo (9) que a água atingiu o estabelecimento.
Como o comércio está na parte mais alta do leito do rio, já no bairro Rosário, a água alcançou aproximadamente um metro de altura – o suficiente para deixar estragos.
Como o comércio está na parte mais alta do leito do rio, já no bairro Rosário, a água alcançou aproximadamente um metro de altura – o suficiente para deixar estragos.
“Hoje estamos fazendo mutirão de limpeza para ver o que dá pra recuperar. Nossa sorte é que a gente colocou muita coisa pra cima, mas mesmo assim perdemos muita coisa, muitas cadeiras quebraram, a sinuca também, tem muita coisa pra gente avaliar daqui pra frente. Tomara que não tenha perdido muita coisa”, diz a comerciante Luciana Regina Lopes Moreira, de 51 anos.
“Meu marido trabalha aqui há 40 anos, desde que era do pai dele. Agora a gente tá pensando que toda vez que começar a chover, vamos ter que tirar tudo daqui de dentro”, prevê, preocupada com a recuperação. “Agora é trabalhar, né? Começar tudo de novo.”
“Meu marido trabalha aqui há 40 anos, desde que era do pai dele. Agora a gente tá pensando que toda vez que começar a chover, vamos ter que tirar tudo daqui de dentro”, prevê, preocupada com a recuperação. “Agora é trabalhar, né? Começar tudo de novo.”
Chuvas em Sabará
Sabará ficou com diversos pontos alagados e algumas regiões com muita lama após as fortes chuvas do final de semana. Lama, prejuízos em casas e comércios, pista escorregadia e muita preocupação é o cenário que ainda se repete mesmo após a baixa do nível do rio. Pelas ruas é possível ver funcionários da prefeitura e voluntários fazendo aos poucos a limpeza da cidade.
Moradores ainda seguem com dificuldade para sair para trabalhar: a ponte de General Carneiro que liga o bairro à MG-262 e também dá acesso ao Centro Histórico de Sabará e a BH, está interditada devido a rachaduras na estrutura. Ainda não há previsão para liberação das estruturas pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.
O Centro Histórico e demais regiões da cidade seguem com muito barro e tratores tentam fazer o escoamento da sujeira, mas o trânsito segue complicado em diversas ruas. Na área central, algumas vias seguem em “pare e siga” com ajuda de agentes da Guarda Municipal. Na praça do Esporte, o nível da água do Rio Sabará permanece alto e a recomendação é que se evite a região.
Durante a madrugada de domingo para segunda, o Corpo de Bombeiros resgatou quatro pessoas que estavam ilhadas em seus veículos, um carro e um caminhão, na Avenida Beira Rio, próximo a BR-381. Segundo o sargento Alexandre Márcio Neves, as vítimas estavam bem e nenhuma corria risco de morte. Os militares utilizaram um barco a remo para retirar as vítimas.
A reportagem entrou em contato com o Governo de Minas para saber se haverá alguma ajuda aos comerciantes que sofreram com as chuvas em Minas e não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
A reportagem entrou em contato com o Governo de Minas para saber se haverá alguma ajuda aos comerciantes que sofreram com as chuvas em Minas e não obteve retorno até a publicação desta reportagem.