Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO PERDIDO

Ouro Preto: local onde ficavam casarões destruídos tem risco desde 1979

O desabamento dos dois casarões em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, já era previsto pela prefeitura desde 2012, quando os imóveis foram interditados devido a um deslizamento ocorrido na época, mas o histórico de deslizamentos e movimentação da encosta existe desde 1979. O deslizamento ocorrido na manhã desta quinta-feira (13/1) destruiu por completo dois imóveis e um terceiro parcialmente.




 
O local apresenta um histórico de riscos geológicos desde 1979. Segundo o engenheiro geológico da Defesa Civil, Charles Murta existe registro histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que aponta um deslizamento da mesma magnitude nesse mesmo local.


 
Em 2012, com a chuva forte uma pequena "lasca" deslizou comprometetendo parte do casarão histórico. “Foi quando entrei na Defesa Civil fiz um laudo e interditei essa área toda”, afirma o engenheiro.
 
De acordo com o prefeito, Angelo Oswaldo (PV), o local que teve deslizamento está na encosta sul do Morro da Forca, justamente acima dos casarões atingidos. O prefeito afirma que a Defesa Civil interditou nessa terça- feira (12/1) a circulação de pedestres e veículos no entorno da área que era de monitoramento contínuo, o que garantiu não ter vítimas no momento do deslizamento.





(foto: Artes/EM/D.A press)

 
Segundo Oswaldo,, no último ano de seu terceiro mandato, em 2012, foi pleiteado por meio do PAC das Encostas, um convênio com o governo federal para atender áreas como a do Morro da Forca no sentido de evitar acidentes e proteger o patrimônio.
 
Após a sua saída, o prefeito afirma que nada foi feito no local nas gestões municipais que o sucedeu e que em abril de 2021, a prefeitura obteve a liberação de R$35 milhões para obras nas encostas do município. Os recursos foram direcionados para a recuperação da MG129 e para a conclusão da pavimentação do trecho da Serrinha, próximo ao distrito de Lavras Novas.

 

História dos casarões

Um dos casarões atingidos, o Solar Baeta Neves, foi erguido no final do século 19 por uma tradicional família de comerciantes da região. O mais antigo registro sobre o imóvel indica que o terreno foi adquirido em 1890, pela família Baeta Neves.




 
O casarão de dois andares de características neocoloniais foi construído nos dois anos seguintes, às margens do Córrego do Funil, próximo à Estação Ferroviária. Na época, o local era o que mais se desenvolvia na cidade antes da transferência da capital para Belo Horizonte.
 
Em 2010, o imóvel que já era público, foi totalmente restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e foram investidos R$ 373,5 mil, mas devido às fortes chuvas ocorridas em 2012, foi fechado e permaneceu interditado até o acidente de hoje.
 
Também foi abaixo, um outro imóvel histórico com a fachada de cor amarela. Lá funcionavam vários estabelecimentos comerciais como um armazém e uma barbearia,   também estava interditado desde 2012, na gestão antiga do atual prefeito Angelo Oswaldo.




 

Riscos a outros locais

Em frente à área atingida funciona o Parque Metalúrgico Augusto Barbosa, conhecido como Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). De acordo com a coordenadora do Centro de Convenções, Júnia Pena, até o momento, o patrimônio do centro está intacto, mas com a queda da encosta houve um tremor de terra percebido pelos funcionários do prédio.
 
“Defesa Civil ainda vai fazer uma avaliação para nos passar a situação real da segurança do prédio, mas não teve impacto aparente na estrutura.”

O prédio histórico já pertenceu à estação ferroviária de Ouro Preto e em 2001, o imóvel passou a pertencer à Universidade Federal de Ouro Preto. Segundo a coordenadora, nesse ano, o prédio passou por uma reforma e tem intervenções de engenharia mais modernas que garantem a estrutura.

Júnia afirma que desde que começou do período de chuvas, em 23 de dezembro, todos os funcionários estão em trabalho remoto e só dois porteiros estão no local. “Por questão de segurança não sabemos quando retornaremos, porque atrás do Centro de Convenções tem um outro morro margeado pelo córrego do Funil.”

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