Um estudo da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), no Sul de Minas, apontou que 52% das crianças que morreram por conta da COVID-19 em Minas Gerais são pretas, pardas e indígenas. A pesquisa, divulgada na última terça-feira (11/1), aponta para um quadro pior para as crianças indígenas.
Segundo o professor e coordenador da pesquisa, Sinezio Inácio da Silva Júnior, os índices são preocupantes.
“Como os indígenas têm participação de 0,5% na população brasileira, proporcionalmente, os 4% de crianças indígenas no total de mortes, indica que são elas as mais atingidas”, explica.
Leia Mais
Minas deve ter pico de casos de COVID nas duas próximas semanasVeja os números do boletim COVID em MG desta quinta-feira (13/1)COVID: vacinação de crianças entre 5 e 11 anos pode começar no sábado em MGPlano de Manejo de parque em Minas ameaça comunidade indígena KrenakBolsonaro diz que é 'insignificante' o número de crianças mortas por COVIDMinas é o 4° estado com mais mortes de crianças de 5 a 11 anos por COVID-19Sete Lagoas registra aumento da taxa de contaminação por COVID-19Ocupação das UTIs completa uma semana em zona de risco em BHInfectologista de BH: 'Temos de barrar eventos superespalhadores de COVID'BH convoca pessoas de 54 anos para dose de reforçoPara o professor, o impacto de qualquer doença epidêmica depende da suscetibilidade biológica e social, e no caso dos indígenas, se somam os dois problemas.
“Além disso, as populações indígenas, exceto as verdadeiramente isoladas (portanto, mais protegidas sanitariamente), tem vivido tempos de pauperização, desassistência e mesmo fome. Esses são determinantes sociais e políticos de vulnerabilidade”, comenta.
Segundo ele, os pardos e pretos compartilham historicamente destes mesmos problemas sociais.
“E quando falamos de ‘políticos’, queremos dizer de políticas públicas ausentes ou precarizadas. Se observarmos o efeito da proteção vacinal contra mortes por COVID-19, vemos que, até o surgimento da vacina, a população negra sofreu mais com a pandemia”, diz o pesquisador.
Risco por idade e comorbidade
A presença de comorbidade aumentou o risco de morte pela doença nos menores de 12 anos.
Embora o estudo aponte que tanto em 2020, quanto em 2021, a proporção total de mortes de crianças com e sem comorbidade tenha sido quase a mesma, o segmento que apresenta doenças crônicas é minoritário e sua participação no total de mortes demonstra o risco que a COVID tem, se somada às doenças
pre-existentes, inclusive a obesidade.
A campanha de vacinação para o público entre 5 e 11 anos está para começar no Brasil.
Contudo, os dados da Unifal apontam que a taxa de mortalidade entre os menores de 2 anos, que vão ficar de fora da cobertura vacinal, é maior.
Para Silva, existem alguns fatores que explicam o risco nos recém-nascidos. Desde vulnerabilidade biológica pela idade, crianças prematuras onde o pulmão é mais frágil, grande exposição ao contágio por conta de que quem cuida e auxilia esses bebês e a falta de máscara, distanciamento e auto-higienização.
“Pode ser que esteja sendo mais difícil para as famílias identificar a tempo, sinais e sintomas da doença”, diz.
Respectivamente, em 2020 e 2021, 24 e 55 mortes pelo novo coronavírus foram registradas em crianças com menos de 12 anos em Minas.
Nesses dois anos de pandemia, os óbitos se concentraram nos bebês (2 anos ou menos), representando 68% e 73% do total.