A primeira quinzena do ano foi marcada por fortes chuvas que castigaram municípios de Minas Gerais e provocaram grandes estragos. Nesta terça-feira (18/1), o governador Romeu Zema (Novo) anunciou um plano de auxílio, que tem gasto previsto de R$ 600 milhões. Prefeitos de cidades mineiras conversaram com o Estado de Minas e explicaram as demandas mais urgentes para ajudar moradores que perderam a casa e tudo que haviam conquistado.
Em Raposos, o prefeito Serginho da Bota (PSB) informou que ainda há alguns pontos da cidade que não a prefeitura não conseguiu acesso por causa da falta de estrutura. “A gente está acabando de romper as ruas, porque ainda há pessoas que não conseguiram chegar a suas casas. O barro ficou muito alto, então, estamos com o maquinário, que é pouco, e agora estamos acabando de chegar nesses pontos. Estamos distribuindo material de limpeza também”, disse.
O valor do investimento do estado vai ser de grande ajuda para a prefeitura, que ainda não teve condições de investimento para recuperar a cidade. “A prefeitura por enquanto só contratou algumas máquinas, mas ainda não fez o pagamento. Existem locais que a gente não conseguiu nem chegar ainda para ver o custo daquele estrago, mas a estimativa para recuperar a cidade fica em torno de R$ 20 milhões”, calculou o prefeito.
Ele ressaltou ainda que na última conversa que teve com o governador, pediu para liberar o auxílio o quanto antes. “Precisamos reduzir a burocracia para que esse dinheiro chegue mais rápido às pessoas. Elas estão precisando desse auxílio agora e não daqui a 90 dias, daqui a seis meses. Precisam agora voltar para casa, comer. A gente tem esperança que receba algum benefício que dê pelo menos para nossa população voltar a ter uma vida normal”, afirmou Serginho.
Em Nova Lima, a chuva provocou enchentes que deixaram rastro de destruição. “Tivemos uma enchente histórica, algo jamais visto pela população. Alguns bairros foram completamente inundados, as pessoas perderam tudo, tiveram as casas completamente tomadas pela água. Temos hoje aproximadamente 2.400 desalojados, a Defesa Civil já condenou 30 casas”, disse o prefeito João Marcelo Dieguez (Cidadania).
Ele informou que foi necessário dividir a recuperação da cidade em três fases. “Foi feita uma primeira etapa de resgate. Felizmente, não tivemos nenhuma morte, conseguimos salvar as pessoas ilhadas, em risco. A segunda etapa foi de limpeza das áreas atingidas, um trabalho bruto com maquinário pesado. A prefeitura investiu R$ 5 milhões nesses equipamentos e em equipe, material de limpeza”, ressaltou.
Por fim, a última etapa conta com um auxílio, já aprovado, que o município vai fornecer para os atingidos pela chuva. Nele, vão ser contemplados um auxílio financeiro de R$ 10 mil para micro e pequenas empresas; de R$ 5 mil para MEIs; R$ 8 mil para as famílias; Microcrédito Empresarial; Isenção de taxas e impostos; Aluguel social; Intermediação para saque do FGTS e; Reconstrução das vias atingidas.
Segundo o prefeito, o auxílio disponibilizado pelo estado também vai servir para completar o montante que a prefeitura vai desembolsar. “Temos uma série de obras que são em decorrência das chuvas que o valor repassado pelo estado vai conseguir atender. Na rodovia MG-030, por exemplo, um talude se rompeu e a pista está interditada”, informou.
“A gente já teve uma conversa com o estado e temos condições de arcar com recursos próprios, mas esse recurso anunciado pelo governador vai poder auxiliar várias cidades que foram mais atingidas, como Raposos e as do Norte do estado”, completou.
“A gente já teve uma conversa com o estado e temos condições de arcar com recursos próprios, mas esse recurso anunciado pelo governador vai poder auxiliar várias cidades que foram mais atingidas, como Raposos e as do Norte do estado”, completou.
Já em Santa Luzia, o prefeito Christiano Xavier (PSD), destacou os principais prejuízos que a cidade teve com essas chuvas. “As principais demandas são famílias desabrigadas e desalojadas, principalmente a população ribeirinha do Rio das Velhas. O prejuízo foi grande, a Rua do Comércio foi alagada, as águas interditaram as duas pontes da cidade. Mas fizemos uma força-tarefa com mais de 200 homens e 50 máquinas e conseguimos liberar as vias”, explicou.
A verba anunciada pelo governador, segundo ele, não vai ser suficiente, mas vai ser de grande ajuda. “Pode ser que uma parte a prefeitura tenha que completar, mas isso é natural. Mas é muito bem-vindo tanto a parte do governo estadual quanto a que vai vir do governo federal. São verbas importantíssimas que vão dar sustentabilidade para as cidades, como Santa Luzia, que não têm uma arrecadação muito alta”, observou.
Outra cidade na Grande BH com vários prejuízos em decorrência das últimas chuvas é Brumadinho. O prefeito Avimar de Melo Barcelos aponta os principais danos. "Aqui em Brumadinho perdemos várias pontes, surgiram várias crateras, o asfalto precisa ser refeito em vários pontos, tivemos também deslizamentos de terra. Temos muito trabalho pela frente e acredito que precisaremos de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões para a cidade voltar a funcionar como era antes", disse.
O chefe do executivo municipal esperava maior ajuda do Estado e da União para solucionar os problemas. "Pelo tanto de demanda que temos, esperávamos maior apoio do Estado e do Governo Federal. Fizemos todos os pedidos ao Estado que achamos ser necessários nesse processo de recuperação. Precisamos de um apoio verdadeiro para retomarmos a condição de antes. A multa dada pelo governo à Vallourec pelo transbordamento do dique da mina Pau Branco que inundou e fechou a BR-040 em Nova Lima deveria ser dividida entre os municípios afetados pelas chuvas. Tem muita gente que acha que Brumadinho recebeu dinheiro Vale, mas nosso município não recebeu um centavo até hoje", ressaltou.
O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Julvan Lacerda, também ressaltou que o auxílio do estado vai ser de grande relevância para um primeiro momento, mas que é necessário ajuda também do governo federal. “Não é suficiente para reparar tudo, mas é importante e considerável para um primeiro socorro. A expectativa é de que o governo federal também faça a parte dele e libere pelo menos duas vezes esse valor”, destacou.
“O primeiro momento é socorrer as pessoas com água, colchão, habitação. Agora, no segundo momento, é reconstruir estradas, ruas, casas que foram destruídas pelas chuvas”, afirmou. “A gente ainda não tem um levantamento certo dos prejuízos porque ainda há regiões que estão sendo assoladas pela chuva, como Uberlândia. Mas temos certeza que esse valor vai passar de R$ 1 bilhão”, completou.
Recupera Minas
Segundo o programa do governo do estado, cidadãos que ficaram desalojados por causa das chuvas e seus impactos, como deslizamentos e enchentes, receberão o chamado “auxílio desabrigado”, de R$ 400. Esse valor se aplica para cada pessoa que morava na casa, agora inviabilizada, e será localizada pelo próprio poder público.
O governo de Minas estima que o número de desabrigados no estado varie de 60 mil a 70 mil pessoas, gerando um emprego total previsto de R$ 78 milhões. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) também vai doar para as famílias de baixa renda cinco mil geladeiras. O pagamento começa no mês que vem.
No caso das cidades, o governo de Minas vai repassar ainda em janeiro, via Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), um total de R$ 182 milhões às prefeituras mineiras. Esse valor seria, especialmente, para reconstrução de casas e reestruturação da cidade
“Esse recurso é com juro subsidiado e com uma longa carência. Então, com toda certeza, viabilizando o pagamento por parte dessas pessoas que, muitas vezes, vão passar a ter até uma residência muito provavelmente melhor do que tinha antes da enchente. Quero salientar aqui que mais de 95% das pessoas conseguiram retornar para suas casas, mas essa minoria é que vai estar sendo beneficiada com essa verba para reconstrução”, afirmou o governador Romeu Zema, ao apresentar o plano.
Também haverá o plano BDMG Solidário para micro e pequenas empresas, com suporte de R$ 35 milhões. Outras ações dizem respeito à Cemig e Companhia de Saneamento de Água de Minas Gerais (Copasa), que vão suspender a cobrança de quem foi atingido pelas fortes chuvas e promover um parcelamento das contas.
O terceiro ponto diz respeito à infraestrutura de rodovias estaduais e vias municipais. Serão empregados R$ 113 milhões para as rodovias estaduais e R$ 50 milhões, estes via BDMG Solidário, para reparos estruturais nos municípios, além de doar materiais de infraestrutura e promover assistência técnica e administrativa aos municípios. O governo de Minas também vai antecipar oito parcelas de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) a respeito de repasses municipais, que tira do cofre estadual outros R$ 142 milhões.
“Nosso plano foi desenhado visando exatamente aquilo que eu vi durante meu acompanhamento dessa tragédia, desse cenário de guerra no estado”, também afirmou Romeu Zema.