Por quem os sinos dobram? Pela humanidade, em respeito à história, a favor da vida e, no caso da Serra da Piedade, como chamado à oração diante da vastidão das Gerais. Agora, as badaladas na menor basílica do mundo, que guarda a imagem da padroeira do estado, Nossa Senhora da Piedade, esculpida por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), se fortalecem com a restauração dos oito sinos do campanário, já reinstalados, e do moderno sistema de automação e afinação adotado.
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Serra da Piedade: locomotiva vai percorrer os monumentos da fé Arquidiocese de BH se prepara para inaugurar locomotiva na Serra da PiedadeRomaria na Serra da Piedade celebra Dia do Meio AmbienteAcordo proíbe trânsito de veículos de carga até a Serra da PiedadeSantuário da Piedade tem nova estação para acolher fiéisNa tarde de ontem, Manoel dos Sinos e equipe e o padre Wagner Calegário de Souza, reitor do Santuário Brasília Nossa Senhora da Piedade, no alto da Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, acompanharam o final da instalação das peças, a qual demandou a colocação de andaimes nas duas torres do templo do século 18.
A expectativa é de inauguração do novo serviço sonoro, o Campanário Rainha da Piedade, em fevereiro, informou o padre Wagner. Nos próximos dias, Manoel se dedicará às adaptações necessárias para a automação na Basílica Ermida Nossa Senhora da Piedade, que tem o sino menor com 45 quilos e o maior com 200kg, todos em bronze.
Com as mudanças, os quatro sinos de uma torre vão tocar com intervalos, com um balanceamento, e os demais acionados por martelo, que funcionam "golpeando" o bronze para produzir o som.
Olhem para cima!
A tarde de ontem, com céu azul e calor, foi propícia ao passeio na Serra da Piedade, cujo santuário é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), e pelos municípios de Caeté e Sabará. Morador de Vazante, no Noroeste do estado, o casal Carlos Henrique da Silva e Francisca de Oliveira Alves e Silva se encantou com o som vindo das torres, mesmo sendo um teste. Sem perder tempo, os dois olharam para cima, onde se encontrava a equipe de sineiros. "Fui coroinha, e aqui nesta altitude, com esta natureza exuberante ao redor da serra, a gente se sente ainda mais perto de Deus", disse Carlos Henrique.
Os filhos do casal também gostaram do que viram e ouviram. "É a primeira vez que visito o Santuário Nossa Senhora da Piedade. Fico feliz ao ver tanta beleza no meu país", disse o doutorando em engenharia e residente no Canadá, Rodrigo Alves. Também nascido em Vazante, e morador de Belo Horizonte, o médico Mateus Alves falou sobre a harmonia da paisagem com o som dos sinos.
Perto dali, o reitor, padre Wagner, ressaltou que os sinos da Piedade "dobram por todo o povo mineiro, por todos os que sofrem nestes tempos de pandemia e perdas provocadas pelas enchentes, e por todos os que buscam a esperança". Segundo o reitor, os sinos "chamam, anunciam, advertem e comunicam com sua 'linguagem' que foi reconhecida como patrimônio imaterial".
Preservação
A restauração e instalação dos oito sinos da Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Basílica Nossa Senhora da Piedade foi possível graças à Família dos Devotos de Nossa Senhora da Piedade, que reúne fiéis amigos do santuário envolvidos em ações de evangelização, de preservação e de proteção de todo o conjunto arquitetônico e paisagístico dedicado à padroeira de Minas Gerais. Segundo a Arquidiocese de BH, os integrantes da Família dos Devotos de Nossa Senhora da Piedade contribuem com doações. As informações para ajudar estão no site www.santuarionsdapiedade.org.br e disponibilizadas também por telefone: (31) 3319-6111.
Sineiro
Conversar com Manoel dos Sinos, de 58 anos, é conhecer um ofício no qual é mestre e desempenha há mais de quatro décadas. Ele aprendeu muito do que sabe com o pai, um português que dedicou a vida à paixão pelos sinos. Nas palavras do sineiro, "a melodia que ecoa das igrejas é uma arte". Assim, "dependendo do tom, anuncia a alegria ou o luto". Com seu trabalho na Ermida da Padroeira de Minas Gerais, os oito sinos, que poderão ser acionados de modo automatizado, vão repicar respeitando essa arte, que poderá ser apreciada pelos peregrinos.
As frases de Manoel dos Sinos são a deixa para se conhecer um pouco do santuário, que tem duas basílicas desde 2017, por determinação do papa Francisco. Para quem está no alto da serra, a paisagem não poderia ser mais espetacular. Mas é na ermida, a menor basílica do mundo, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, chamada de “magnífica arquitetura divina”, por dom João de Resende Costa, que olhos e ouvidos se abrem mais, para apreciar a imagem da santa ou ouvir histórias.
A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, conforme a tradição oral, com a aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. Nesse momento, a menina teria recuperado a fala. Na sequência, em 1773, o templo seria construído pelo ermitão português Antônio da Silva, o Bracarena.
Em 30 de setembro de 1767, o arcebispado de Mariana autorizou a construção, no alto da serra, da capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade. Em 1958, o Papa João XXIII proclamou Nossa Senhora da Piedade padroeira de Minas e a consagração ocorreu em 31 de julho de 1960, na Praça da Liberdade, em BH.
Nessa história de quase três séculos, há personagens vitais, caso de padre José Gonçalves, irmã Germana, frei Luís de Ravena, monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, com suas religiosas auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, cardeal Motta, a figura monumental de frei Rosário Jofylly (1913-2000), frade dominicano que ficou 51 anos à frente do santuário, e o missionário italiano padre Virgílio Resi.
Serviço
As vistas ao Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, na
Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão limitadas a até 4 mil pessoas por dia. Os agendamentos devem ser feitos no site do santuário: santuarionsdapiedade.org.br