Entre os dias 10 e 19 de janeiro, Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, registrou 29 tremores de terra. Os eventos foram computados pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP). As magnitudes variaram entre 1.6 e 3 na escala Richter e são consideradas leves, gerando mais preocupação do que danos para a população.
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O levantamento também apontou que todos os tremores estariam ocorrendo em uma única fratura da crosta superior. A série atual teria causa natural, descartando interferência de pedreiras e barragens.
“Tudo indica que os tremores de terra em Divinópolis são de origem natural e fazem parte de um "enxame" sísmico, similar a outros casos de sismicidade no Brasil”, informa o estudo.
O Centro de Sismologia também diz que não existe técnica comprovada que permita prever a evolução da sismicidade. São raros os casos em que os tremores aumentam em frequência e magnitude a ponto de causar danos sérios. “Mas não se pode descartar totalmente esta possibilidade. No entanto, a chance de danos maiores é remota”, esclarece.
Causas descartadas
Embora o reservatório de Carmo do Cajuru, a 20 km de Divinópolis, já tenha registrado atividade sísmica na década de 1970, a distância entre o município e o epicentro descarta possibilidade de relação, assim com a Usina do Gafanhoto, a 2,5 km.
“Portanto, a possibilidade de os tremores terem alguma relação com a barragem é extremamente remota e pode ser descartada”, pontua o estudo.
Outra possibilidade, descartada, é o impacto causado pela exploração em pedreiras. Os poucos casos são de extração de enormes quantidades de rocha deixando uma cava com mais de 100 m de profundidade. Neste caso, os focos dos sismos estarão também logo abaixo da cava ou nas suas beiradas.
“Os tremores de Divinópolis estão longe das pedreiras Dibrita (2.2 km) e MBL (3.4km). Portanto, pode-se também descartar a possibilidade de efeito das pedreiras mencionadas”, afirma.
O estudo também tratou como “muito remota” a possibilidade e relação com as chuvas intensas das últimas semanas, já que não houve relatos em outras regiões do estado.
Para descartar totalmente, seria necessário acompanhamento por alguns anos para verificar a evolução das atividades sísmicas e observar o comportamento também em períodos de estiagem.
Não há motivo para preocupação
A ativação de falhas geológicas locais ou a acomodação de massas e blocos de rochas em profundidade são fatores que podem contribuir para a ocorrência de sismos naturais de pequena dimensão e magnitude reduzidas.
“Forças e tensões compressivas e extensivas naturais que atuam no interior da crosta terrestre, e acumulam-se ao longo do tempo, são, provavelmente, os agentes que engatilharam a o evento observado em Divinópolis”, explica o diretor técnico de Geologia da Geocontrole, Guilherme de Freitas.
“Forças e tensões compressivas e extensivas naturais que atuam no interior da crosta terrestre, e acumulam-se ao longo do tempo, são, provavelmente, os agentes que engatilharam a o evento observado em Divinópolis”, explica o diretor técnico de Geologia da Geocontrole, Guilherme de Freitas.
Sismos de magnitude 3,0 são comuns no Brasil e em Minas Gerais. O estado já presenciou sismos de magnitudes bem maiores, como os de São Francisco, em 1931, e o de Itacarambi, em 2007, no Norte do estado, ambos com magnitudes 4,9.
Em Divinópolis, o último até então registrado havia sido em 1990, com magnitude de 2.8.
Para o diretor técnico de geologia não há motivo de preocupação. “O nosso país está no interior de uma grande placa tectônica, denominada placa Sul Americana. As regiões do nosso planeta mais propensas a sofrerem com terremotos e/ou sismos naturais são as localizadas nas proximidades de limites entre placas tectônicas, como os países Andinos na América do Sul (Argentina, Peru, Colômbia, Chile... etc.), o que não é o nosso caso”, explica.
O alerta é para as edificações irregulares ou com fragilidades. “É importante, contudo, se manter o monitoramento constante de áreas de alto ou muito alto risco geológico-geotécnico, assim como de estruturas edificadas que apresentam algum nível de alerta”, alerta.
Nestes casos, onde há um risco associado já identificado, sismos naturais, mesmo que de intensidade reduzida, podem ser o gatilho para a ocorrência de outros problemas maiores.
“Como deslizamentos, escorregamentos, ou até rupturas de estruturas geotécnicas”, exemplifica. Neste caso, cabe acompanhamento dos órgãos de Defesa Civil para monitorar encostas e estruturas.
*Amanda Quintiliano - Especial para o EM