O acidente com o ônibus da linha 524 (Terminal Justinópolis/Belo Horizonte), que tombou após perder o eixo na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, no início da manhã desta quinta-feira (20/1), chamou atenção para as condições do Move Metropolitano, que servem usuários da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A reportagem do Estado de Minas entrevistou passageiros desses ônibus, e encontrou um acervo de reclamações, sendo a principal delas a superlotação dos veículos. Problema que foi preocupante no acidente de hoje, já que, segundo o Corpo de Bombeiros, aproximadamente 93 pessoas estavam no momento do acidente.
Uma das placas internas do veículo, que mostra o número do coletivo, informa que a capacidade de passageiros é de 26 pessoas sentadas e 51 em pé, totalizando 77 passageiros. No entanto, durante a pandemia, o Comitê COVID-19 da Secretaria de Estado de Saúde deliberou que esse número fosse reduzido para 26 pessoas sentadas e 15 em pé, totalizando 41 passageiros. O ônibus, portanto, estava com 52 pessoas a mais do que o permitido.
“Pra começar, parece um carnaval. Você entra lá dentro e não consegue conversar com ninguém de tão cheio. Entrar num ônibus desse e numa lata de sardinha é a mesma coisa. A única diferença é que eu sou humano, e a sardinha é peixe”, reclama Jair José da Silva, de 65 anos.
Morador de Venda Nova, ele diz já ter ouvido relatos de falta de freio nos veículos. “É absurdo! Os motoristas têm que andar controlando, já cansei de ouvir motorista falar que o ônibus não tinha freio. Tem que controlar nas descidas. Se deixar pegar velocidade, (o ônibus) não para”, alerta.
Morador de Venda Nova, ele diz já ter ouvido relatos de falta de freio nos veículos. “É absurdo! Os motoristas têm que andar controlando, já cansei de ouvir motorista falar que o ônibus não tinha freio. Tem que controlar nas descidas. Se deixar pegar velocidade, (o ônibus) não para”, alerta.
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Outros problemas
A doméstica Janair Ferreira Gusmão, de 49 anos, diz que a situação do transporte metropolitano é “precária”. “Se chove, molha tudo lá dentro. No calor, o ar condicionado não funciona e a gente passa mal. As cadeiras balançando, os ferros às vezes você segura e cai”, pontua. “É muito cheio, lotado, as vezes não tem nem lugar pra segurar direito”.Além disso, a moradora de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, relata sobre problemas técnicos. “Já aconteceu comigo de estragar no meio do caminho. É a maior dificuldade pra pegar outro ônibus porque está tudo lotado também. É muito difícil. A gente paga passagem cara e sofre demais. Não é fácil não”, afirma.
A diarista Cristina Brito de Souza, de 43 anos, mora no Bairro São Benedito, em Santa Luzia, e trabalha no Bairro Sion, na Região Centro-Sul de BH. Ela depende de três coletivos para ir ao emprego e outros três para chegar em casa. No entanto, ela diz que o intermediário, que é o Move Metropolitano, tem as piores condições.
“Ele é superlotado o dia inteiro e quando está chovendo, molha dentro do ônibus”, reafirma. “Além disso, tem briga e tumulto dentro da estação. Empurra-empurra, bagunça o tempo todo”, conta.
Reclamações de passageiros do Move Metropolitano ouvidos pela reportagem do EM:
- Superlotação
- Falta de freio
- Goteiras em dias de chuva
- Ar condicionado não funciona
- Veículo estraga no meio do caminho
- Passagem cara
- Cadeiras e apoios de mão frouxos
- Bagunça nas estações
- Demora no trajeto
- Intervalos extensos
Confira outros relatos:
Adenor Lacerda Rodrigues, 44 anos, ajudante de carga e descarga
“A situação é péssima. Só passagem cara e transporte ruim. A gente fica horas esperando. No final da estação do Move é outra demora. É péssimo o transporte, o ônibus é muito cheio. Depois de 16h vai superlotado. Uso todos os dias para trabalhar e me preocupa com certeza, principalmente agora com esse acidente em Venda Nova.”
Isa Soares Pereira Santos, 41 anos, auxiliar de serviços gerais
“Moro em Santa Luzia e vejo o ônibus lotado o tempo todo. Pego 4h30 para ir trabalhar, que é quando está mais vazio, mas na volta, no pico da tarde, é muito difícil de sentar. Tinha de melhorar, aumentar a quantidade de ônibus. Ainda mais com o coronavírus. Pra quê esse tanto de gente? Fico com medo. Tem vez que cai chuva e tem goteira dentro do Move. É muito lotado mesmo. Se tiver um acidente, é um risco de todo mundo machucar ou até perder a vida.”
Valdecir Santos, 60 anos, entregador
“Uso o transporte coletivo todos os dias porque moro em Santa Luzia e tenho que vir a BH trabalhar. O ônibus demora bastante. Quando a gente entra no ônibus demora muito tempo pra chegar em casa. Nas estações, uma bagunça só. As pessoas empurram os idosos, esses dias mesmo uma velhinha chegou a machucar a perna, saiu sangue. O problema é que vai muito cheio e não tem lugar pra sentar, a gente tem que ir em pé.”
Posicionamentos
A reportagem entrou em contato com o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), órgão responsável pela fiscalização das linhas metropolitanas, que não respondeu até a publicação desta matéria.
Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) afirmou que "oferece quantidade de viagens compatível" com a demanda e que o número de passageiros segue 30% inferior em relação ao mesmo período do ano passado.
Confira na íntegra:
Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) afirmou que "oferece quantidade de viagens compatível" com a demanda e que o número de passageiros segue 30% inferior em relação ao mesmo período do ano passado.
Confira na íntegra:
"O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano – SINTRAM, informa que monitora diariamente a demanda de passageiros, oferecendo uma quantidade de viagens compatível. Ainda, reforça que o número de viagens vem aumentando à medida em que os passageiros retornam ao sistema metropolitano.
É importante frisar que, apesar do aumento dos últimos meses, o número de usuários do serviço na RMBH ainda não voltou ao mesmo patamar do que era antes da pandemia, e hoje está 30% inferior em relação ao mesmo período do ano passado.
Em relação às goteiras, por se tratar de um dano interno do veículo, não é perceptível durante a checagem. Assim, só é possível identificar o problema quando chove. Quando detectado, o veículo é recolhido logo após o término da viagem para passar pelos devidos reparos.
O SINTRAM reforça que todos os veículos que operam o serviço metropolitano passam por revisões periódicas e, quando algum problema é detectado, o carro é recolhido para passar pelas reparações cabíveis."