Em mais um ano, familiares e amigos das 272 pessoas que morreram no rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, realizaram um ato para lembrar as vítimas e pedir punição aos responsáveis pelo desastre.
Uma missa foi realizada pelo arcebispo metropolitano da capital, Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Depois da celebração, dezenas de pessoas caminharam até o letreiro de Brumadinho, onde realizaram um ato público.
Hoje, a tragédia completa três anos. O letreiro na entrada da cidade virou um memorial para os entes queridos que se foram em 25 de janeiro de 2019. Além das fotos, foram espalhadas cruzes com os nomes das pessoas e arranjos de flores. Foi feita a soltura de balões às 12h28, horário do rompimento da barragem da Minas Córrego do Feijão. Em seguida, os nomes de todas as vítimas foram lidos.
Foram realizadas apresentações musicais e discursos de familiares, que expressavam a dor da perda e também revolta contra a mineradora Vale.
No ano passado, a Polícia Federal indiciou 19 pessoas na segunda fase das investigações. Em 2020, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) já havia denunciado 15 pessoas. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) transferiu da justiça estadual para a federal a competência para julgar a ação penal no ano passado.
No ano passado, a Polícia Federal indiciou 19 pessoas na segunda fase das investigações. Em 2020, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) já havia denunciado 15 pessoas. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) transferiu da justiça estadual para a federal a competência para julgar a ação penal no ano passado.
“É uma dor insuportável. Três anos e a gente clamando por Justiça e nada foi feito até agora, esses bandidos estão soltos por aí, e Brumadinho continua na mesma dor. Assim que veio esse crime, veio a COVID. Todos os dias a gente perde um amigo, todos os dias a dor é a mesma. Agora veio a enchente, para culminar com o resto da tristeza. A gente está vivendo que nem aquela música ‘sem motivo, estou vivendo por viver’. Vivendo pela fé, pelos filhos que ficaram, pelos netos. Mas desestruturam as famílias todas. Separaram as famílias, muitas pessoas se mudaram”, lamenta Geralda Doroteia Almeida, 58 anos, mãe de André Luís Almeida Santos, que trabalhava como operador da Vale.
Também estava entre os presentes Jackson Faria, pai de Camila Santos Faria. “É como se estivesse tudo acontecendo hoje de novo. Não passa nunca na vida da gente. Sempre vamos sofrer por isso. Eu estava trabalhando quando minha irmã ligou avisando. Na hora foi um desespero, ela (Camila) estava almoçando na hora. Não tem justiça nenhuma. Eles sabiam que ia morrer esse pessoal. Tem que ter justiça”, cobrou.
Hoje, Jackson e a esposa cuidam da pequena Laura, filha de Camila, que tem 4 anos. “Ela é uma criança muito boa, é muita felicidade estar com ela. Ela parece muito com a mãe dela e conforta a gente. O pai dela é muito presente, sofre muito também”, comentou.
Seis pessoas ainda estão desaparecidas após o rompimento da barragem. “O Corpo de Bombeiros está aqui desde os primeiros minutos após o desastre, e esteve presente aqui todos os dias, 24 horas por dia, até hoje na data em que completa três anos. O grande avanço que tivemos ao longo dos anos não foi realmente na técnica de buscas, mas foi no sucesso que nós temos até o momento que é a identificação de todas as vítimas, com exceção das seis. E é um compromisso do comando da corporação de que vai permanecer aqui até que todas essas vítimas estejam devidamente identificadas”, disse o major Gleber Penido, do 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros, que coordena as buscas nesta semana.
Indígenas protestam
Indígenas Pataxó Hã-hã-hãe, que viviam às margens do Rio Paraopeba, também protestaram hoje em Brumadinho. Wekenã Pataxó, uma das lideranças, disse que até hoje eles esperam um novo terreno da mineradora para onde possam se mudar e retomar seus hábitos. ”Estamos muito tristes com a mineradora, que acabou com nosso rio (Paraopeba) e nosso território. Ele está todo contaminado com lama de minério. Estamos com dificuldade de voltar para nossa aldeia, com medo de pegar doenças por causa do solo contaminado. Temos crianças. Hoje temos que ficar na linha do trem, sem nenhum destino para ir, até ter uma resposta da Vale para nos dar outro território. Estamos esperando uma reparação”, enfatizou. (Colaborou Cristiane Silva)