(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas APÓS TRANSBORDAMENTO

Fiscais relatam devastação após desastre na mina da Vallourec

Destruição foi destacada depois de lama ter vazado e interrompido BR-040, e reparos estão sendo feitos, enquanto, na Justiça, empresa questiona auto de infração


03/02/2022 06:00 - atualizado 03/02/2022 18:30

Local onde o dique da mina Pau Branco, da Vallourec, em Nova Lima, transbordou
Vista aérea do local do transbordamento do dique da mina Pau Branco, da Vallourec, em Nova Lima (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press)

Cenário de devastação foi descrito pelos fiscais do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) como “visível e imediato”, depois que o Dique Lisa, operado pela mineradora do grupo Vallourec, transbordou em 8 de janeiro e milhares de metros cúbicos de lama escorreram da estrutura, paralisando a BR-040 na altura do Km 562. Reincidente em infrações ambientais no complexo minerário Pau Branco desde 2020, um dia após o desastre foi constatada pela fiscalização vasta destruição da vegetação, solo, hábitats e espaços humanos, corpos hídricos e animais, inclusive dentro de unidades de conservação.


 
A Pilha Cachoeirinha, de onde se desprendeu o material sobre o dique causando o transbordo, continua sendo monitorada e o reservatório se mantém em nível 2 de emergência, o que significa que os riscos ainda não estão afastados. Apesar da devastação observada in loco pelos agentes estaduais, a Vallourec recorreu administrativamente, na segunda-feira, da multa aplicada à empresa, no valor de R$ 288 milhões. Em nota, a mineradora considerou que a penalidade foi emitida “quando ainda não era possível saber a extensão do ocorrido e os efeitos sobre o meio ambiente. Foram questionadas, portanto, premissas fáticas e normativas do auto de infração”.

No entanto,  os impactos do transbordamento estão presentes na natureza e na rotina de quem vive ou circula na região atingida. Seis pessoas de uma mesma família foram removidas de casa, localizada a um quilômetro do local do transbordamento, e estão acomodadas num imóvel alugado pela Vallourec. A Defensoria Pública de Minas Gerais atendeu outros atingidos e os representará contra a empresa.

Vista da BR-040 na Grande BH
Além de obras no local onde vazou lama do dique da mineradora, há intervenções em área de floresta afetada pelos sedimentos de minério (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


 
O trecho da BR-040 entre Brumadinho e Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, que chegou a ser interditado por seis horas, é monitorado e considerado “área vermelha”, ou seja, de alto risco, uma vez que as estruturas afetadas pelo transbordamento se encontram em nível 2 do Plano de Emergência, com necessidade de reparos imediatos. Há possibilidade de rompimento caso a estabilidade das estruturas monitoradas se deteriore ao nível 3 – estágio de ruptura iminente.

Com isso, veículos e pessoas não podem parar nesse trecho da rodovia, sendo cercadas e convencidas pelos seguranças em dois pontos a deixarem o local. Esses funcionários estão em comunicação por rádio com as áreas de monitoramento das estruturas danificadas e preparados para interditar mais uma vez a estrada em caso de novos transbordamentos ou, no pior cenário, de um rompimento da barragem.

Urgência


Vista de área afetada por transbordamento de dique em mina da Vallourec
Equipes trabalham também em serviços de limpeza e medições na área inundada, diante do nível 2 de emergência do dique (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Dentro da Mina de Pau Branco, em Brumadinho, a área por onde a avalanche de sedimentos desceu da Pilha de Cachoeirinha e do Dique de Lisa, remanescentes das drenagens de barramentos e demais estruturas das áreas da mineração recebem reparos de equipes que trabalham a todo vapor no meio da lama e das pedras. Correm contra o tempo para estabilizar esses locais, uma vez que caso a situação piore e chegue ao nível 3, as obras diretas por meio de pessoal dentro da zona de inundação teriam de ser suspensas.
 
Atravessando a BR-040, já em Nova Lima, a área de mata engolida pelos sedimentos também recebe intervenções, limpeza e medições de equipes da Vallourec. Um espaço que foi de floresta se tornou clareira, reunindo apenas tocos esparramados, empilhados ou mesmo fincados no solo.

Em documento, empresa se defende questionando conteúdo de auto de infração
Além de obras no local onde vazou lama do dique da mineradora, há intervenções em área de floresta afetada pelos sedimentos de minério Ao recorrer de multa emitida pelo estado, mineradora não pagou por danos ambientais (foto: Arte EM)


Rochas se amontoam e pilhas de terra da cor de minério de ferro formam gargantas e montes. Uma das drenagens que passa sob a estrada despeja água turva de cor avermelhada forte e atravessa a área devastada em direção aos corpos hídricos que formam a Lagoa do Miguelão, na Bacia do Rio das Velhas, antes da captação de água da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) para abastecimento da Grande BH.



Estado sustenta análises que identificaram os impactos

A Vallourec recorre da multa recebida, por julgar que o documento contém informações genéricas ou apressadas, ao passo em que o Sisema apresentou o auto de infração no qual sustenta e detalha uma série de estragos que afetaram a natureza e as comunidades após o transbordamento do dique da Mina Pau Branco, muitos deles com agravos. A Prefeitura de Nova Lima também calcula as multas ambientais a serem aplicadas.
 
Foram indicados no auto de infração estadual o “impacto na vegetação e degradação do solo; interdição da rodovia BR-040”. Além disso, de acordo com a Nota Técnica 1/FEAM/DGER/2022, também estão relacionados a esse evento os seguintes “impactos ambientais, visíveis e imediatos: degradação da paisagem e fragmentação de hábitats; poluição de corpos hídricos, com o aumento dos sólidos em suspensão, com potencial mortandade de peixes, supressão e degradação de hábitats aquáticos e ripários (pela deposição de rejeito no leito e margens)”.
 
De acordo com o documento, os danos ocorreram em áreas de importância para as recargas hídricas da Grande BH e para os ecossistemas ligados a diversas unidades. “Foi constatado que os impactos alcançaram duas unidades de conservação, a APA Estadual Sul RMBH e o Monumento Natural Municipal Serra da Calçada.”
 
Foram considerados agravantes o dano ou perigos à saúde humana, propriedades alheias, unidades de conservação e a interdição total de vias públicas, estradas ou rodovias, o que aumenta o valor da multa em 30% por cada um desses itens, chegando à majoração de 120%.
Por sua vez, a Prefeitura de Nova Lima informa que a Defesa Civil municipal integra o Sistema de Comando e Operações e que autuou a empresa por crime ambiental. “Foi lavrado o auto de infração e estabelecida multa. Por se tratar de dano ambiental continuado, os danos estão sendo mensurados e, de acordo com cada infração que for confirmada, novas multas serão estabelecidas.”

Assistência


Em nota, a Vallourec informou que continua prestando a assistência necessária, em constante diálogo com as autoridades públicas e privadas envolvidas. “Exemplo disso foi a reabertura segura da BR-040, quando, oportunamente, foram feitas a limpeza do local e a instalação de dois postos de monitoramento na rodovia”, cita o texto.
 
A empresa reforçou também que o maciço do dique que transbordou está íntegro e não houve rompimento da estrutura. “A Pilha Cachoeirinha continua sendo monitorada 24 horas, sete dias por semana, conforme procedimentos técnicos requeridos pela legislação para esse tipo de estrutura, e com o radar mais moderno, o qual detecta qualquer movimentação de milímetros”, completa a nota. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)