Depois de adiamento, crianças de 5 a 11 anos de idade puderam retomar as atividades presenciais em instituições de ensino privadas ontem em Belo Horizonte e dar início ao ano letivo de 2022, e os alunos da rede municipal da capital voltam hoje às salas de aulas. O calendário escolar previa, inicialmente, o retorno em 3 de fevereiro, mas um decreto da prefeitura, publicado em 28 de janeiro, alterou a data, passando-a para o dia 14. A ideia era garantir tempo suficiente para que essa faixa etária recebesse a primeira dose de vacina contra a COVID-19, mas decisão judicial anulou o ato da prefeitura. O retorno, contudo, ainda demanda cuidado. Apesar de todas as crianças desse grupo, com ou sem comorbidades, já terem sido convocadas pela PBH para tomar o imunizante – hoje é a vez dos mais novos, de 5 anos –, a adesão à campanha ainda é baixa.
Considerando o último dado divulgado pela administração municipal, de sábado, apenas 51% das crianças chamadas até então, numa lista que incluía meninos e meninas com comorbidades de 5 a 11 e sem comorbidade a partir dos 8 anos, somente 51% haviam recebido a vacina. Nesta semana, foram convocadas crianças de 7, na segunda, de 6, ontem, e a vacina continuou a ser oferecida em repescagem. Ontem, houve fila em alguns postos.
Diante do quadro de baixa cobertura, Adelino de Melo Freire Júnior, infectologista e diretor médico da Target Medicina de Precisão, defende que as próprias escolas atuem no incentivo à vacinação na volta às aulas. "Acho que a escola tem o papel de educação não só do aluno, mas também da sociedade. Ações capitaneadas pelas escolas seriam ótimas para a gente poder conscientizar cada vez mais as pessoas, mostrar que as escolas prezam pela segurança e que são responsáveis".
Ele aconselha que mães, pais ou responsáveis levem seus filhos para se vacinar e tomem alguns cuidados básicos neste omento de retorno às atividades presenciais. O primeiro deles é que as crianças sejam observadas com atenção para se detectem possíveis sintomas da doença. “Um papel dos responsáveis é estar atento aos sintomas dos filhos, vacinados ou não. Se apresentarem algum sintoma, principalmente gripal, não devem ir à escola. Se todos tiverem esse compromisso, a escola fica mais segura para todo mundo”, aconselha. “Se a criança estiver doente, deve ficar em casa, fazer o teste. Isso é importante quando se fala em escola infantil, pois é comum, até antes da pandemia, crianças com quadro gripal irem para as escolas e elevarem o risco de transmissão", afirma.
Outro ponto diz respeito aos cuidados das crianças nas escolas. O médico ressalta que o quase "mantra" rotineiro a respeito da COVID-19 deve ser seguido nas instituições, mas com um adendo especial por se tratar de crianças. "É importante avisos sobre uso de máscaras, higienização e certo respeito, não tocar a máscara do coleguinha, por exemplo, realizar essas ações que viraram parte do nosso cotidiano. Claro, as crianças devem estar vacinadas, e as que ainda não estão no grupo (elegível para a imunização) a gente espera que tenham condição de se vacinar. Para quem está abaixo de 5 anos o risco é menor, mas o ponto é: quem está vacinado acaba protegendo quem não está, isso é importante. Quanto menos chances o vírus tiver de circular em um grupo, mais a gente consegue controlar (as contaminações)”.
Entretanto, o infectologista viu o adiamento da volta às aulas presenciais das crianças como uma decisão equivocada. Ele considera a escola como local seguro e acredita que as crianças tendem a respeitar as normas.
Dia de fila
Enquanto as aulas voltavam na escola particular, a campanha de vacinação das crianças de 5 a 11 anos prosseguia ontem, com fila na estrutura montada na Secretaria Municipal de Educação. A advogada Isabelle Fagundes, de 34 anos, se sente segura quanto à volta do filho, Eduardo Fagundes, de 6, à sala de aula. E agora vacinado. "Foi um momento muito esperado”.
O produtor musical Victor Mazarelo, acompanhado da esposa Fernanda Costa, participou da vacinação da filha, Lara: "É o momento mais feliz, mais do que quando a gente se vacinou. De certa forma, é um avanço da liberdade, porque nossa filha poderá voltar a brincar com mais segurança e retornar para a escola. Por segurança, vamos esperar até semana que vem", disse.
Rafael Tardin, de 40, profissional que trabalha com dor orofacial (cabeça e pescoço), levou os filhos Luca, de 6, e Lara, de 7, acompanhados da sobrinha Luiza, também de 6, que estava com a mãe, Raquel Ude. "Esta é mais uma possibilidade de tentar voltar à nossa vida como tínhamos antes. É um voto de confiança na ciência. Basta confiar nas publicações e estudos científicos". Ele considera que a volta às aulas foi influenciada por questões políticas. "Acho que já deveriam ter voltado. Com devidas proteções e restrições”.
“Não dá pra forçar”, diz Queitoga
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou a falar sobre a não obrigatoriedade da vacinação infantil contra a COVID-19 ontem. Em conversa com jornalistas, ele disse que imunizar crianças é diferente de imunizar adultos e que “não dá para forçar a vacinação” nos pequenos. “Eu mesmo tive a oportunidade de vacinar crianças em Brasília. Às vezes, você tem que convencer a criança a se vacinar. Ninguém vai pegar uma criança à força. Ir lá aplicar uma vacina com a criança berrando, não dá”, disse o ministro. Quase dois meses após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter aprovado a primeira vacina de uso infantil contra coronavírus, o percentual de crianças de 5 a 11 anos que tomaram a primeira dose de imunizantes contra a doença não passa de 15%. Mais cedo, hoje, o ministro havia dito que o governo federal vem se empenhando não só para garantir que as vacinas cheguem a estados e municípios, mas também para tranquilizar os pais a respeito da eficácia e da segurança dos medicamentos.
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