Uma organização criminosa suspeita de aplicar golpes em jovens com promessa de falsos empregos, em Belo Horizonte, foi descoberta pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) nessa quinta-feira (10/2). Durante a operação policial, quatro pessoas foram presas em flagrante e outras seis envolvidas serão investigadas.
De acordo com a delegada da Regional Sul, Cinara Rocha, as investigações iniciaram em agosto do ano passado, a partir de levantamentos de ocorrências similares. Na ocasião, uma suposta empresa entrava em contato com os candidatos que tinham currículos cadastrados em sites de emprego.
O público-alvo do grupo eram menores aprendizes, de 14 a 18 anos, com algumas exceções de candidatos de até 21 anos. Aos jovens era prometida uma oportunidade de emprego, com salário em torno de um a dois salários mínimos. Porém, para o encaminhamento à empresa, era necessário um curso de capacitação, com a promessa de início imediato no emprego, logo após a conclusão do processo, sendo oferecido pelo próprio grupo.
De acordo com a delegada, o curso era à distância e supostamente concluído em cerca de, no máximo, cinco dias. Segundo as investigações, os candidatos arcavam com um valor para realizar o curso. Este valor variava a depender do poder aquisitivo do interessado.
"No caso da vítima que procurou a polícia ontem, ela teria que pagar R$3 mil pelo curso, mas não tinha condições financeiras. Então, foi oferecido a ela que desse uma entrada à vista e o restante seria pago em 12 meses, com o recebimento do salário", explicou a delegada.
Segundo ela, alguns candidatos pagaram R$ 1.800, outros R$ 200, sendo um valor médio em torno de R$ 600. Ainda de acordo com a delegada, quando a pessoa tinha condições aquisitivas mais baixas, este valor de R$ 3 mil pelo curso era oferecido, assim como foi o caso da vítima que fez a denúncia.
Os candidatos só se davam conta do golpe ao tentar acessar a plataforma do suposto curso - o qual nunca existiu. Além disso, quando procuravam a empresa, fornecida pelo suposto Recursos Humanos, o endereço não existia, eram salas comerciais vazias. Ao retornar à empresa de cursos, os funcionários também não estavam mais no local.
Com as investigações, foi apurado que eles mudavam a sede da empresa a cada 15 dias. Além disso, todas as funcionárias que faziam a captação de candidatos, pelo telemarketing, utilizavam o próprio celular. A empresa em questão apenas fornecia um chip, que também era trocado de 15 em 15 dias.
De acordo com a delegada, os envolvidos não faziam contrato de locação e, para driblar os locadores, ofereciam um valor acima do que o proprietário solicitava, iniciando o aluguel sem o contrato. Com isso, não deixavam dados e outras informações que pudessem ajudar na localização da organização.
A Polícia Civil também afirmou que na empresa havia uma rotatividade muito grande de funcionários, os salários baixos e as pessoas eram selecionadas pelos currículos colocados em plataformas digitais, não havendo formalização de emprego.
No local, atendiam cerca de 40 pessoas por dia. Cada uma das funcionárias do telemarketing fazia cerca de 100 ligações por dia, com o intuito de captar de 10 a 15 pessoas.
No momento do flagrante, uma falsa contratação de duas vítimas acontecia. "Quando a polícia chegou ao local, estava havendo a suposta contratação de duas vítimas que tinham assinado o contrato e recebido o direcionamento para a empresa, após terem efetuado o pagamento", informou a delegada.
A polícia estima que eles arrecadavam, a cada 15 dias, entre R$ 180 a 250 mil.
Durante a ação policial, realizada em um escritório no Centro da capital, 10 pessoas foram conduzidas à delegacia, sendo quatro presas em flagrante por estelionato, organização criminosa e corrupção de menores. Os outros seis conduzidos, entre eles uma adolescente de 17 anos, serão investigados.
Ainda no curso dos trabalhos policiais, foram apreendidos diversos documentos, contratos, celulares e nove máquinas de cartão de crédito.
Alerta
O delegado Emílio Oliveira faz um alerta para quem está procurando emprego. "As pessoas devem ficar atentas e desconfiarem de propostas muito atrativas. Vagas de trabalho muito bem remuneradas e obtidas de forma simples são indicativos de golpe, ainda mais se atreladas ao pagamento de curso de qualificação. É importante que a população pesquise sobre a empresa que está ofertando e o seu histórico", enfatiza.
"Caso alguém tenha sido vítima desse crime, procure as delegacias da Polícia Civil para o registro de ocorrência, para que possamos responsabilizar criminalmente essas pessoas e contribuir para a investigação desse grupo criminoso", concluiu o delegado.
A delegada Cinara Rocha informou que, além do público-alvo, o grupo atraía pessoas com menores condições, muitas vezes até mesmo aquelas que viviam apenas com benefício do governo. Em um dos relatos, uma das vítimas não tinha nem o dinheiro da passagem, tendo pego emprestado tanto para a locomoção quanto para o pagamento do suposto curso.
A Polícia Civil não descarta a possibilidade de pessoas acima, que no caso seriam os líderes da organização criminosa. As investigações prosseguem com o objetivo de identificar outras pessoas envolvidas no esquema criminoso.
* Estagiário sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.