Após um mês de janeiro com mortes, desastres e grande número de desalojados, as chuvas trazem à tona outra vez o problema dos riscos geológicos para Belo Horizonte e região metropolitana. A Defesa Civil emitiu ontem um novo alerta sobre o aumento dos volumes de chuva nos primeiros dias de fevereiro e salientou que oito das nove regiões da capital vivem séria ameaça de deslizamentos, sobretudo em áreas de encostas.
MEDO POR TODA PARTE O restante do estado também sofre com as chuvas. Nas demais regiões de Minas Gerais, os temporais já provocaram a morte de 16 pessoas desde o início do período chuvoso. Até o momento, 420 municípios já decretaram situação de emergência. A Defesa Civil estadual contabiliza mais de 8,4 mil desabrigados e quase 50 mil desalojados em função das chuvas.
Em função das chuvas e do solo encharcado na cidade, parte de uma residência desabou durante a madrugada de ontem no Bairro Aparecida. Uma moradora foi resgatada sem ferimento. No mês passado, nove pessoas perderam a vida em decorrência das tempestades em toda a Grande BH, segundo balanço da Defesa Civil estadual.
Em apenas 11 dias, várias regiões da capital superaram o volume de chuva previsto em todo o mês. No último boletim divulgado pelo município, apenas o Barreiro não havia superado essa marca até a noite de ontem. O total para fevereiro é de 181,4mm, mas o último levantamento já apontava um volume de 172,4mm (95% do previsto para todo o mês). Para hoje, a expectativa é de que haja novos temporais, com rajadas de ventos e risco de granizo.
Venda Nova continua sendo a regional com o maior volume de chuva nos últimos dias, com 330,8mm (182,4% da média do mês), seguida pela Regional Centro-Sul, com 247,8mm (136,6%); Norte, com 241,4mm (133,1%); Pampulha, com 234,6mm (129,3%); Noroeste, com 223,2mm (123,0%); Oeste, com 215,2mm (118,6%); Nordeste, com 211,4mm (116,5%); e Leste, com 200,4mm (110,5%).
De acordo com Leandro Azevedo, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador da pós-graduação em geotecnia do Instituto Minere, a capital já tem características peculiares que levam ao aumento da probabilidade de desmoronamentos. “Pela própria morfologia da região, o risco de acidentes em Belo Horizonte aumenta muito, sobretudo em áreas de encostas. Muitas vezes, o surgimento de trincas ou uma drenagem malfeita podem contribuir com desmoronamentos. E esse problema é agravado com o aumento das chuvas. Em áreas mais montanhosas, com taludes mais íngremes, isso tende a ocorrer com frequência”.
A orientação das autoridades é que os moradores redobrem a atenção durante as chuvas, evitando áreas de inundação, e não trafeguem em ruas sujeitas a alagamentos ou perto de córregos e ribeirões nos momentos de forte chuva. Outra recomendação é que pedestres não atravessem ruas alagadas nem crianças brinquem nas enxurradas e próximo a córregos.
Leandro Azevedo afirma que não é possível identificar se o atual risco geológico é pior do que o que a capital presenciou nas primeiras semanas do mês anterior: “Tivemos chuvas atípicas em BH em janeiro, que deixaram o solo saturado. Ainda estamos no período chuvoso, em fevereiro, e é até difícil mensurar as áreas mais afetadas. Enquanto há regiões de Belo Horizonte em situações mais críticas, com risco maior, pode ter regiões com risco menor. Depende muito dos trabalhos que são feitos e das drenagens executadas”.
MAPEAMENTO A Prefeitura de Belo Horizonte mapeou mais de 60 pontos em toda a cidade que representam riscos de inundações ou desabamentos. As áreas incluem tradicionais locais de alagamentos – como as avenidas Tereza Cristina, Bernardo Vasconcelos e Vilarinho, trecho entre as avenidas Silva Lobo e Barão Homem de Melo – ou mesmo regiões dos córregos Olhos D'água, Ressaca, Braúnas, Floresta, Capão, Ponte Queimada, Embiras, Bonsucesso, Olaria e Túnel.
MEDO POR TODA PARTE O restante do estado também sofre com as chuvas. Nas demais regiões de Minas Gerais, os temporais já provocaram a morte de 16 pessoas desde o início do período chuvoso. Até o momento, 420 municípios já decretaram situação de emergência. A Defesa Civil estadual contabiliza mais de 8,4 mil desabrigados e quase 50 mil desalojados em função das chuvas.
"Só rezando e pedindo ajuda a Deus", diz o ajudante de pedreiro Rodrigo dos Santos, morador de Mariana, na Região Central de Minas, diante da chegada de novos temporais. Embora nunca tenha sofrido com perda de casa ou inundação, Rodrigo, com o guarda-chuva em punho, diz que as chuvas têm vindo mais fortes ultimamente. "Se vem mais água aí, precisamos de proteção", avisa.
"Tenho medo dessas chuvas de agora. Há muita gente morando em áreas de risco, e aí vem o sofrimento para as famílias", afirma o restaurador, com especialização em telhados, Evandro Assunção, também morador de Mariana. A região, no início do ano, sofre com deslizamento de encostas, conforme se vê ao longo da estrada que liga Belo Horizonte à primeira capital de Minas.
Ao lado, o professor Cristiano Casimiro observa: "O grande problema, hoje, é que não temos uma previsão do tempo confiável. Sempre nos orientamos pela tradicional Folhinha Mariana, que não erra", diz o professor. E cita alguns ensinamentos que passaram de geração a geração: os meses de chuva são aqueles que têm a letra R na palavra (setembro a abril). Já os sem R são os bons para a poda das árvores. Em resumo, a tecnologia ajuda, mas a sabedoria popular tem seu valor.