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Estado de Minas Rumo às praias

Nem desvios salvam usuários da travessia arriscada nas BRs 262 e 381

EM flagra destruição e novos riscos nas rodovias usadas pelos mineiros em direção à Bahia e ao Espírito Santo


14/02/2022 04:00 - atualizado 13/02/2022 22:46

Abre Campo, Nova Era, Rio Casca, Roças Novas e São Domingos do Prata – Do alto de morros saturados pelas chuvas incessantes, uma mistura densa de água, lama e rochas escorrega e alcança as estradas. Sob o pavimento, a mesma água incontida pelas drenagens vai minando as rodovias e engolindo acostamentos e pistas indiferente ao tráfego pesado.

Embora com trechos já interditados por mais de 20 dias desde as chuvas intensas de janeiro e depois de receberem desvios precários, a BR-262, que liga João Monlevade a Vitória (ES), e a BR-381, via de ligação de Belo Horizonte a Governador Valadares, continuam ameaçadas de interrupções devido a desabamentos progressivos e visíveis. Alguns deles nem sequer foram sinalizados, como constatou a reportagem do Estado de Minas.

Pista destruída na BR-262
PISTA DESAPARECE - Uma das regiões mais afetados pelos estragos na BR-262, em Rio Casca parte da estrada cedeu e ficou submetida ao impacto continuado das chuvas e da lama que escorre (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


As duas estradas estão entre as rotas preferidas dos mineiros para passar o carnaval no Espírito Santo (BR-262) ou na Bahia (BR-381) e serão alvo de leilão para concessão programado para o dia 25. A mais ameaçada de ser interrompida por barreiras ou desmoronamentos é a BR-262.

São pelo menos quatro erosões engolindo as pistas entre João Monlevade e Abre Campo, sendo que nessa última cidade as chuvas interditaram a via em 18 de janeiro, após o Rio Santana ter devastado a base da estrada. Há três desvios precários providenciados pela prefeitura local, mas antes deles o município ficou durante uma semana sem acessos e intransponível aos viajantes.

Vista de estragos na BR-381
TRECHOS DESABANDO - Vista proporcionada por imagem de drone na BR-381, onde trechos afetados por barreiras e buracos transformam o tráfego em arriscada e permanente aventura para os motoristas (foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press)


Um isolamento pode voltar a ocorrer na altura de São Domingos do Prata, onde as enxurradas constantes suplantam as drenagens modestas da rodovia e desintegram o solo que a sustenta na altura do KM-175. A pista de sentido João Monlevade já desabou para o fundo de um posto que se abre 30 metros abaixo da pista erodida. Enquanto caminhões, ônibus, carros e motos se espremem para passar dividindo o acostamento oposto e a pista de sentido Vitória, o solo desprende placas de barro e escorrega ampliando progressivamente a cratera.

Precipício ao lado do asfalto

A forte chuva mostra ser questão de tempo até que mais partes da rodovia caiam e sejam tragadas pela erosão, podendo até interromper a estrada. Desvios e pequenos diques de asfalto feitos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em dezembro apenas atrasam as enxurradas que descem pela via e passam por cima do obstáculo, fazendo a beira do asfalto dependurado no precipício se transformar em uma cascata.

Um buraco se aprofunda na encosta, desce do barranco e vai se alastrando sob a terra, já minando outras partes ainda não visíveis da estrada. No meio de outra encosta do barranco, abaixo das cachoeiras que saltam do asfalto, brota um esguicho de vazão de água tão forte que parece a ponta de uma mangueira com a torneira completamente aberta.

Água e lama em pistas esburacadas na região de João Monlevade
LODAÇAL TOMA CONTA - Lama toma conta dos pavimentos em João Monlevade, ampliando os obstáculos impostos, enquanto especialistas recomendam contratos emergenciais para reparos (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


Uma placa de máquinas na pista e outra alertando sobre homens trabalhando foram esquecidas, uma vez que ninguém intervém nesse trecho. Mas servem para fazer o motorista reduzir a velocidade antes da cratera que se abre e que foi sinalizada com placas refletivas. Uma das placas chegou a ser engolida pela erosão, mostrando que o desmoronamento só se amplia.

Outra sinalização simplesmente afundou no asfalto e está dependurada, como se tivesse perfurado o pavimento. Ao todo, a reportagem contabilizou quatro trechos onde o terreno que sustentava a estrada cedeu e parte da via, seja acostamento ou pista, acabaram levados por processos que continuam a evoluir visivelmente.

Encostas desfeitas 

Em outros sete trechos, o que ameaça de interrupção a BR-262 são os deslizamentos de encostas. Alguns chegaram a ser sinalizados, sobretudo em São Domingos do Prata e Rio Casca, mas há desabamentos de rochas e lama novos e outros que seguem caindo e soterraram as sinalizações providenciadas pelos operários sob contrato do Dnit.

O pior deslizamento fica no KM150, pouco antes da ponte sobre o Rio Doce e que demarca o limite entre os municípios de São Domingos do Prata e Rio Casca. De um monte rochoso de mais de 90 metros uma água constante mina por vários pontos como se fossem cascatas, carreando continuamente lama e detritos. No intervalo entre a passagem dos carros e caminhões o ruído das quedas d'água é ouvido com nitidez.



Quem se presta a esse mesmo intervalo de tempo pode ver também que as corredeiras levam aos poucos o apoio de barrancos e pedregulhos, testemunhando em vários pontos novos desabamentos, muitos deles atingindo o asfalto depois de uma longa queda.

As pedras e a lama estão acumuladas entre a drenagem da rodovia e o acostamento formando uma camada de mais de dois palmos que avança na direção da pista enquanto recebe mais partes da encosta que vai desabando. A pista inteira ficou da cor do barro, o que mostra que por vezes a lama chega a tomar conta do pavimento.

Asfaltos fragilizados e bloqueios iminentes

Na rodovia BR-381, entre Belo Horizonte e Abre Campo, a interrupção da estrada levou à abertura de três desvios precários, que ficam intransitáveis com as constantes chuvas, obrigando a rotas alternativas de mais 100 quilômetros por outras cidades, como Caratinga e Viçosa. As ameaças mais presentes são as de deslizamentos de encostas que podem bloquear a estrada.

Erosões tornam trechos intransitáveis na BR-262
DESTRUIÇÃO EM SEQUÊNCIA - EM verificou ao menos quatro erosões no caminho da BR-262, que liga Monlevade a Abre Campo, nas proximidades dos desvios e, em Rio Casca, o asfalto é desmanchado (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


A reportagem encontrou 12 pontos de desabamentos na última semana, e alguns deles começaram na quinta-feira. Partem de pontos variados, mesmo de pedreiras que pareciam sólidas ao serem abertas na construção da estrada. A maior concentração desses desabamentos está entre Caeté e Roças Novas, inclusive em pontos onde a obra de duplicação da estrada já foi finalizada.

Em Bom Jesus do Amparo, uma parte da pista no sentido Governador Valadares perdeu a sustentação do acostamento e parte desse espaço de emergência cedeu com as enxurradas provocadas pelas chuvas. O local foi sinalizado para que os motoristas evitem trafegar por ali, mas essa erosão segue sendo ampliada pelas chuvas que não dão trégua.

O asfalto da pista naquele sentido começou a apresentar trincas que indicam que a base pode ser comprometida e ceder também. O local é de intenso fluxo e palco de imprudência, uma vez que não está duplicado e por isso é comum que motoristas ultrapassem na faixa contínua.



De acordo com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas, o caso da BR-262 ultrapassa a conservação rotineira dos contratos vigentes que se restringem a “reparos localizados de defeitos na pista ou no acostamento com extensão inferior a 150 metros e manutenção regular dos dispositivos de drenagem, dos taludes laterais, da faixa lindeira, dos dispositivos de sinalização e demais instalações da rodovia”.

A grande extensão de danos das chuvas necessitaria de contratos de “conservação de emergência''. Um conjunto de operações destinadas a corrigir defeitos surgidos de modo repentino, ocasionando restrições ao tráfego e ou sérios riscos aos usuários”.

Serviços em execução 

O Ministério da Infraestrutura informou que os trechos têm contrato de manutenção e destacou as ações feitas nos pontos em que ocorreram os bloqueios. No último dia 3, terminaram as obras de construção do desvio no KM321 da BR-381, no município de Nova Era, em Minas Gerais.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informa que há uma empresa contratada executando serviços de manutenção permanente no desvio devido às chuvas intensas que atingem o local. Quanto à BR 262/MG, o Dnit informa seguir com os serviços de sondagens e monitoramento do maciço no KM96 da BR-262, que continua avançado, próximo à região de Abre Campo.

Os engenheiros do Departamento atuam em uma ocorrência de alta complexidade. Especialistas do DNIT também monitoram a estabilização do local e realizam os levantamentos necessários para elaborar a solução definitiva do problema do eixo principal da rodovia federal. Em janeiro, devido ao nível elevado das chuvas que ocorreram na região, o rio sofreu mudança no seu curso ocasionando um deslizamento de terra e ruptura da rodovia. Levando em conta a gravidade do ocorrido e o transtorno causado à região, o DNIT decretou emergência e já assinou o contrato para a execução dos serviços de contenção no segmento.





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